Impeachment da presidente na Coreia do Sul.
Vocês provavelmente viram na internet o rebuliço com relação à presidente coreana, Park Geun-hye, acusada de ceder o seu poder a uma xamã.
Nesse post, vamos esclarecer de forma simples para que você compreenda melhor a atual situação política da Coreia do Sul.
Um presidente eleito na Coreia do Sul cumpre um mandato de 5 anos e não pode ser reeleito. Na Coreia, o voto não é obrigatório. Na última eleição cerca de 49% da população foi às urnas, sendo que a maioria são pessoas eram adultas mais velhas, a partir dos seus cinquenta anos.
A presidente Park Geun-hye – a primeira presidente mulher coreana –, foi eleita democraticamente nas eleições que aconteceram em 2012. Ela é filha do ditador militar Park Chung-hee, um homem que ajudou a transformar a Coreia em uma potência industrial por meios duvidosos, chegando até a assassinar seus inimigos políticos.
A presidente Park tem um dos piores índices de rejeição da história coreana. Ela vem sendo alvo de críticas diante da reestruturação política realizada por seu governo, redução de direitos trabalhistas, alto índice de desemprego, acusação compra de votos, dentre outros.
Além disso, alguns de seus posicionamentos em situações de impacto, como por exemplo, a barca Sewol, que afundou em 2014 e matou cerca de 300 pessoas, a maioria estudantes.
Nesse acidente, a maioria daqueles que morreram eram crianças que estavam esperando salvamento, pois acreditavam que o governo iria salvá-las. O chefe do navio instruiu a todos para esperarem o resgate. Contudo, o resgate demorou e, ao chegar, o navio já estava afundando, não sabiam exatamente que medidas tomar para conseguir retirar as crianças lá de dentro.
Nesse episódio, a presidente foi muito criticada, pois o seu governo não conseguir dar respostas para a população, não conseguir conter o acidente nem explicar porque demorou 7 horas para se pronunciar sobre o assunto. Em casos dessa magnitude, é comum que o presidente de um país se manifesta imediatamente ao ocorrido, o que ela não fez. A imprensa do país a acusam de estar em tratamento de beleza no momento.
Manifestantes foram às ruas protestar contra o seu governo. Muitos usavam máscaras e a presidente os comparou ao estado islâmico, deixando a população furiosa.
Surgiu na imprensa coreana um boato de que a presidente Park era manipulada pela xamã (espécie de “pastora” religiosa) Choi Soon-sil, filha do também xamã Choi Tae-min. Choi Tae-min era suporte do pai da presidente na época em que este estava no poder. Quando a Park Geun-hye perdeu a mãe, Choi Tae-min se aproximou dela e lhe deu consolo através de sua religião. Diante dessa proximidade, foi inevitável a amizade das duas.
A presidente é acusada de tráfico de influência, extorsão, suborno, abuso de poder, vazamento de documentos oficiais, violação da Constituição, etc. Choi Soon-sil é acusada de usar sua posição próxima à presidente para receber benefícios, influenciar o governo, receber dinheiro de grandes empresas coreanas para suas fundações (Mir e K-Sports) e desviar para sua conta pessoal. É acusada também de usar sua influência para conseguir que sua filha entrasse na universidade – o que causou grande revolta nos jovens coreanos – e até recebesse cavalos de presente das grandes empresas para dar a sua filha.
Em pronunciamento na TV, a presidente chegou a admitir a influência da xamã, mas desconversou tentando não demonstrar o grau de importância da situação. Ela declarou que apenas pedia conselhos de sua amiga íntima, Choi Soon-sil, visando sempre dar seu melhor no governo.
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O Congresso da Coreia do Sul abriu uma investigação do escândalo. Alguns documentos foram solicitado à Blue House e, dentre eles, alguns comprovantes de gastos. Foram encontrados nessa lista gastos com remédios, injeções de vitaminas, remédio usados em tratamentos de beleza e até mais de 300 viagras. Presidentes das grandes empresas coreanas foram chamados pra depois, mas nada admitiram.
Choi Soon-sil é amiga e confidente da presidente Park. Não há problema algum em serem amigas. Contudo, o problema e a revolta dos coreanos se dá diante do seu grau de influência no governo, apesar de não ter uma posição oficial que lhe permita legalmente tanto alcance.
A xamã escolhia as roupas da presidente, escrevia seus discursos, escolhia os oficiais de alto escalão do governo, determinava como seriam os gastos do plano de governo, etc. Isso significa que a presidente eleita democraticamente pelo povo cedeu o poder a uma terceira pessoa desconhecida e se deixou ser completamente influenciada. Os coreanos acreditam que ela não tem cacife pra governar o país.
Impeachment da presidente na Coreia do Sul
Os coreanos foram às ruas para se manifestar, umas das manifestações mais pacíficas que o mundo já viu. A cada evento mais e mais pessoas foram aparecendo. Começou com cerca de 50 mil pessoas, logo 2 milhões se reuniram por toda a Coreia, a maior manifestação da história coreana. Em Seul, a concentração foi no Gwanghwamun, próximo ao Gyeongbokgung Palace, e chegou até a 100m da Blue House.
Os coreanos levaram consigo velas como símbolo da manifestação. Um congressista, com o intuito de diminuir a situação, declarou que “as velas se apagariam com o vento”, querendo dizer, na verdade, que os manifestos não durariam. Revoltados, na manifestação seguinte os coreanos apareceram segurando tochas, tudo sem violência e sem tumulto, com muita organização e paz.
Os congressista votaram para instaurar o procedimento de impeachment da presidente. Para que isso fosse possível, seria necessário o quórum mínimo de 2/3 dos parlamentares, contudo passaram e muito dessa quantidade. Inclusive, políticos da base da presidente votaram contra ela.
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O destino da presidente Park está na mão de 9 juízes que compõem a Suprema Corte coreana, que têm o prazo de até 180 dias para votarem o impeachment. Caso votem pelo sim, a Coreia do Sul terá novas eleições para presidente em até 60 dias. Atualmente, quem está comandando o país é o primeiro ministro, que assumiu temporariamente o cargo de presidente, o Sr. Hwang Kyo-ahn.
No caso da xamã, Choi Soon-sil tentou fugir para a Alemanha, mas atualmente está presa e aguardando julgamento.
Esse evento que acontece na Coreia do Sul – a retirada de um presidente do poder -, traz um grande alívio e sensação de justiça, porém não é de agora que existe corrupção na política sul-coreana. Portanto, é preciso ter em mente que isso é apenas o começo e continuar a mostrar aos governantes que a voz do povo tem poder.
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Adorei esse texto. Deu pra entender a treta que ta rolando na Coreia do Sul.