Estar longe de seu país e da família não é fácil. Você perde um pouco da sua identidade e da segurança que sentia em saber que havia sempre alguém ali para te apoiar caso precisasse. Some a isso as dificuldades relacionadas à língua, ao clima e, muitas vezes, à nova profissão que terá que abraçar. Mas, é durante certas festividades, como aniversários, Natal, Dia das Mães e Pais, que a situação fica mais complicada.
Eu nunca fui de muita festa, então isso não foi uma coisa que previ quando decidi ficar de vez longe do Brasil. Ainda assim, a verdade é que uma sensação de nostalgia, e mesmo de culpa, está sempre presente nestas ocasiões. Mesmo que seja o seu próprio aniversário, não dá pra negar que bate a saudade e que você começa a fantasiar o que estaria fazendo nesses momentos se estivesse em seu país,com sua família e amigos.
Quem mora fora sabe a expectativa que é gerada nessa época, enquanto se aguarda pelo telefonema, email ou mesmo uma mensagem no Facebook vinda de amigos e parentes. No fundo, a gente quer saber se ainda é lembrada e querida, se ainda faz parte da vida daqueles que estão do outro lado do oceano.
Morar fora é mesmo uma oportunidade imensa para crescer e dar novo sentido a laços de amor e de amizade. Um dos meus grandes desafios tem sido aprender a entender que, da mesma forma que eu acho difícil ligar ou escrever para quem está longe, eles também passam pelas mesmas dificuldades. Nessa hora, até o fuso horário atrapalha, aumentando ainda mais a distância.
O negócio é mesmo agradecer pelos avanços da tecnologia, que barateiam os custos e tornam mais viável manter contato com amigos e família. O que eles não resolvem é a necessidade tão tipicamente brasileira de abraçar essas mesmas pessoas. Sem dizer do que fazer com nossos avós e outros parentes mais idosos, que não lidam bem nem mesmo com os longos números das ligações internacionais.
Outra confissão a fazer é que muitas vezes não falar a respeito ou ignorar essas datas é uma forma quase eficaz de manter essa saudade longe da gente. No eu caso, isso funciona bem durante o Dia dos Pais ou das Mães, já que essas datas são celebradas em dias diferentes no Brasil. Posso, inclusive, até fingir ficar feliz com o fato de não ter que enfrentar as longas filas de restaurantes, ou de participar daqueles casamentos e aniversários de família para os quais preferia não ter sido convidada.
Só que, no fundo, até não participar das eleições passa a ser motivo de melancolia. E no Natal e no Ano Novo, aí não dá mesmo para fugir dos fatos, e ainda é preciso fingir um pouco para não estragar a festa alheia, principalmente quando se vai passar as festividades com a família do marido ou namorado.
Bem, tudo na vida tem dois lados. Talvez o interessante seja mesmo aproveitar a chance de experimentar outras formas de comemoração. Quem mora fora tem a oportunidade única de misturar a sua cultura nativa com a local e fazer uma festa como nunca teve antes, com os novos amigos e a nova família que está construindo. Ou pode simplesmente viajar e aproveitar para deliciar-se com novas experiências.
Quanto às outras datas, só mesmo economizando, e tentando estar presente, ainda que de vez em quando. O importante é mesmo aprender que a distância não destrói laços verdadeiros, e que estar presente é mais do que estar lado a lado.
O ideal é buscar participar da vida de quem é parte de nossos corações, ainda que de longe, e enfrentando as possíveis limitações. Culpa e tristeza não ajudam em nada, até porque essas mesmas pessoas, com certeza, querem acreditar que a nossa escolha de morar em outro país foi uma decisão pela felicidade e não pelas lágrimas.
6 Comments
Oi, Luciana! Esse será o meu segundo Natal na Irlanda e apesar da saudade da família e amigos, eu gosto do clima natalino desse lado do mundo (inclusive com a possibilidade de neve – será?), ainda mais porque eu tenho a sorte de vivenciar um Natal irlandês com a família do meu namorado.
Em compensação, o aniversário foi tenso porque a gente sempre fica na espera das mensagens, e assim como você mesma dissse, querendo saber se ainda fazemos parte da vida daqueles que deixamos no Brasil… enfim, conheci o site hoje e já adorei! 🙂
http://www.barbarahernandes.com
Oi Bárbara, que ótimo que gostou do site! Esse vai ser meu quarto Natal na Irlanda e concordo com vc de que a possibilildade de vivenciar uma celebração em um clima diferente é mesmo muito boa. O meu primeiro Natal foi com neve, só que foi MUITA neve, então espero que esse seja branquinho, mas com moderação 🙂 Quanto ao aniversário, bem, te digo que melhora bastante com o tempo 🙂
Oi Luciana,
Lendo seu texto deu uma melancolia…rs… me sinto bem assim quando chega o período do Natal, pois era o período que a família toda se reunia e desde que casei isso vai ficando cada vez mais raro. Até porque a gente passa a dar prioridade para a nova família que é o marido e nem sempre as datas de todos coincidem. Pelo menos esse é um período que nos aproximamos das pessoas que estão distantes, mesmo que seja pela mídia social.
Beijos
Pois é, Cleo, pelo menos tem esse lado positivo. No Natal, as pessoas costumam ficar mais receptivas, o que torna mais fácil retomar antigas amizades, concordo com vc.
Ah, melancolia e saudades sao duas coisas tao recorrentes na minha vida, que já nem sei como é viver sem elas. Por ser filha de chilenos, nunca tive toda a família em um mesmo lugar. Mas pra mim, saudades mesmo tenho dos meus pais e do meu irmão e nossas pequenas tradiçoes diárias e de datas tradicionais…. Você nao está sozinha em seu sentimento… 🙁 Um dos preços a pagar por morar em outro país. Abraços!!!
Verdade, Joy, o negócio é tentar concentrar no lado positivo (porque sempre tem um). Abraços pra vc tb!