Lendas urbanas argentinas.
Eu chamo de lenda urbana porque quase já virou mito. Em tempos de crises e incertezas não podemos deixar que a ansiedade e o desespero ganhem força na hora de tomar decisões importantes, como mudar de país.
Mesmo sem ter saído do Brasil sempre sabemos algo sobre algum país. Primeiramente porque nos contaram, ou porque vimos num filme, ou num livro, ou numa canção. Dessa forma, estabelecemos um fato que é, ao pensar em outro país, estereótipos começam a pipocar pelos nossos pensamentos.
Se você escuta “Argentina”, o que te vem à mente?
Frio? Neve? Jaqueta de couro? Peso mais barato que o real? Outlets? Carne? Tango?
Antes de mais nada vale lembrar que estereótipos em si podem ou não ser pejorativos. E que por isso, antes de tomá-los como verdades (e construir suas expectativas sobre elas) seria bom uma verificação para saber se condizem ou não com a realidade.
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O que escutei antes de ir para a Argentina
NA ARGENTINA FAZ FRIO
Bem como argentinos vão para o Brasil durante o verão, brasileiros vêm para a Argentina durante o inverno. É como se ambos países juntos formassem um combo completo: praia, calor, frio, neve, estação de esqui. Só que isso não pode (nem deve) caracterizar o clima de todo um país.
Assim como no Brasil NÃO só faz calor, na Argentina NÃO só faz frio.
EM BUENOS AIRES TEM MUITO PANELAÇO
Frequentemente quando se pensa em Buenos Aires se pensa em protestos pela Praça de Maio ou pela Avenida 9 de Julho, não é? Que os argentinos são politizados, não é segredo para ninguém, e que eles vão bater panela na frente da casa do governo tampouco.
Por isso, tomar cuidado com os pontos “cortados” quando estiver pela cidade.
TER QUE IR A UM SHOW DE TANGO
Do mesmo modo que tem gente que gosta, tem que não. Então, essa é um pouco mais difícil. Eu gosto. Nem todos. Tem uns muito caros que são super produções. Tem uns mais baratos que são bem meia boca. Para encontrar um bem bacana, melhor pesquisar.
ÓTIMO LUGAR PARA FAZER COMPRAS
À primeira vista, alguém pode pensar “como com 1 real compro 15 pesos, vou poder comprar muita coisa na Argentina”. No entanto, não é bem assim. Uma moeda desvalorizada NÃO significa preços baixos. Pelo contrário, moeda desvalorizada, neste caso, leva a uma inflação bastante alta e preços que sobem com frequência.
Sem esquecer também que a indústria argentina não é como a do Brasil, menos ainda como a dos EUA. Ou seja, quase tudo o que consumimos aqui vem de fora e o preço acaba ficando alto pela quantidade de impostos. Mesmo comprando numa loja “outlet”.
A ARGENTINA ESTÁ EM CRISE
Sim, é verdade. Até parece que é cíclico.
Quando cheguei por aqui o país estava se reerguendo de uma crise e agora, oito anos depois, está novamente tentando sair de outra. E às vésperas de eleições presidenciais ficamos todos na expectativa do que está por vir.
Mas é difícil viver assim? De verdade, você até se acostuma. Claro que temos que fazer algumas adaptações. Mas, para quem não tem medo nem preguiça de trabalhar (como é o caso da maioria dos brasileiros) não tem tempo ruim.
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O que escutei quando já estava na Argentina
PESO X DÓLAR
Guardar pesos no banco pode – muitas vezes – ser sinônimo de loucura. Isso foi o que escutei de vários conhecidos quando perguntei sobre investimentos. No entanto, gosto de entender o porquê e não contente com um “porque sim”, fui fazer contas.
O peso se desvaloriza com muita frequência e isso assusta os argentinos fazendo com que quase todos comprem dólares ou euros para fazer seus “ahorros” (economias). Entretanto, a moeda do país continua sendo o peso, o que significa que recebemos em pesos, pagamos em pesos e precisamos dele para o dia a dia.
Como comprar dólares pode ser bastante complicado, preferi testar e guardar meus pesos. Pesquisei e estudei bastante os tipos de investimentos que poderia fazer através do meu banco. Fiz contas, fiz projeções e, ao final, vi que vale a pena guardar pesos.
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Fui feliz e contente compartilhar essa informação com os meus amigos. Me receberam novamente como “louca”, não puderam acreditar, mesmo vendo os números (que não mentem). Achei melhor não continuar com essa discussão.
Eu continuo apostando no peso e confiando na economia do país. Primeiro por uma questão de saúde mental – é impossível viver bem com medo e desconfiando de tudo e de todos o tempo todo. Segundo porque tem dado certo minha estratégia. São em tempos de crise que surgem oportunidades incríveis! Lembre-se que quando há alguém chorando, vai haver alguém vendendo lenços.