Quando a gente é brasileira e mora no exterior, todos os amigos gringos querem saber mais sobre o Brasil. Sobre a cultura, clima, biodiversidade, comidas, e costumes em geral. Comigo não foi diferente. Desde que me mudei para os EUA, meus amigos sempre perguntam sobre meu país de origem e prometem que um dia vão me visitar. Já perdi as contas de quantas vezes ofereci para ficarem lá em casa. Até que o dia chegou.
Um dos meus melhores amigos, que eu já conheço há mais seis anos veio passar uma semana no Brasil. Ele é do Vietnã, mas já mora nos EUA faz bastante tempo e se adaptou bem a cultura americana. Quando ele soube que eu iria passar o final do ano no Brasil, ele logo comprou a passagem pra vir junto.
Americanos podem retirar o visto brasileiro pela internet, mas nem todos os estrangeiros podem fazer isso. Meu amigo vietnamita teve que pedir o visto pelo correio. O processo demorou cerca de três semanas. Tomem cuidado pois alguns sites oferecem serviços de despachantes, para agilizar o visto. Mas isso é furada. O melhor é seguir as instruções do consulado brasileiro mais próximo de sua cidade americana.
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Eu estava um pouco ansiosa por esta viagem, pois meu amigo não fala nada em português. Apenas oi e obrigado. Acabei esquecendo desta vez, mas outra vez presentei um amigo indiano com um dicionário da Lonely Planet de português-inglês com frases básicas prontas, incluindo dicas de pronúncia. Esse dicionário explica desde como pagar um táxi e se registrar em um hotel, até dar cantadas e pedir pra dar um tapa na pantera.
Em uma semana meu amigo visitou São Paulo, a região dos Lagos e o Rio de Janeiro. Em São Paulo fomos para barzinhos, baladas, Ibirapuera, e um sambinha perto do Beco do Batman. Encontramos várias pessoas que falavam inglês e não foi difícil para meu amigo se comunicar com os nativos.
O único problema que tivemos em São Paulo foi que no hotel queriam cobrar alguns serviços a mais. Apesar de ser um hotel bastante estrelado, o inglês dos funcionários ainda era meio fraquinho. Isso acaba facilitando mal-entendidos e um superfaturamento em cima dos gringos. Mas como eu sou bem chatinha e marrentinha, me certifiquei que estavam cobrando apenas o serviço prestado.
Depois de São Paulo, fomos para a Região dos Lagos, no litoral do Rio de Janeiro. Meu amigo fez o batismo de mergulho pela primeira vez. Mergulhar é uma atividade prazerosa, mas exige alguns cuidados. Conseguimos achar uma empresa de mergulho boa, a MasterDive em Arraial do Cabo, onde um dos instrutores de mergulho falava inglês. Caso não houvesse esse serviço, eu já estava preparada para ter que traduzir as instruções no barco. No fundo do mar, usam-se apenas sinais, pois não há como falar embaixo d’água. Mas esses gestos são revisados dentro do barco, antes de mergulhar. Portanto, é importante ter um instrutor que fale inglês ou alguém disposto a traduzir as instruções. E o mais importante: não deixe o gringo beber antes de mergulhar!!!
Na Região dos Lagos, é comum comer ostra na praia. Meu amigo ficou impressionado com uma bandeja cheia de ostras e fez questão de tirar foto. Também adorou comer moqueca, e churrasco o tempo todo. Aqui a gente paga uns 20 reais em um prato de contra filé. O equivalente a uns 8 dólares. Nos EUA, um prato simples de churrasco iria custar pelo menos uns 20 dolares, pois a carne é bem cara lá.
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Outra coisa legal foi que meu amigo viu bastante ouriços e nos informou que no sul da Ásia as pessoas os comem com limão. Aqui no Brasil não é uma prática muito comum, mas minha família acabou comendo junto com ele, e gostaram da experiência.
No Rio de Janeiro, levei meu amigo no Cristo, na Lapa, e em um baile funk. Ele adorou e disse que quer voltar para o Carnaval. No Rio ele também conseguiu conversar bastante em inglês.
Diferente de São Paulo, no Rio de Janeiro nós ficamos em um hostel (albergues). Pra quem não procura muito conforto durante a viagem, os hostels acabam sendo uma opção de hospedagem barata e divertida. Ainda, os funcionários em geral falam inglês bem e é fácil de fazer amizade já que há muitos eventos dentro do próprio hostel.
Outra coisa que tive que interferir novamente foi na hora de comprar souvenires. É importante que as lojas forneçam nota fiscal. No Rio de Janeiro eu tive que pedir três vezes para a loja emitir a nota fiscal, pois eles ficaram nos enrolando. Também há um limite de bebidas alcoólicas (5 litros para os EUA) e do teor alcoólico delas. É claro que nem todas as pessoas são paradas na alfândega, mas é importante respeitar as regras de cada país, para que os produtos não sejam perdidos.
Eu fiquei assustada em saber que um vidrinho de própolis custa 80 dólares no Vietnã. No Brasil, paga-se entre 7 e 15 reais. Vários outros produtos florestais brasileiros são valorizados no mercado exterior, como óleo de sucupira, copaíba, extratos de guaraná, e produtos afrodisíacos naturais. Parece que quando sabem que o produto é natural e brasileiro ele tem um maior valor agregado. Isso nos faz refletir a importância de preservar as nossas florestas.
Quando perguntei ao meu amigo o que ele mais gostou do Brasil, ele rapidamente disse que as pessoas aqui são muito bonitas. Realmente, o povo brasileiro se preocupa bastante com a aparência e é bem higiênico. Além disso, ele disse que as pessoas parecem bem felizes e são simpáticas.
Adorei receber meu amigo no meu país e não vejo a hora dos outros amigos que prometem vir cumprirem a promessa. A viagem é ótima pra quem vem, e nós que recebemos também aprendemos a ver nosso país com outros olhos. Aprendi que ouriço vai bem com limão, que óleo de sucupira é bom para dores, que somos um dos povos mais lindos do planeta, e que apesar de todas as dificuldades enfrentamos nossos problemas com um sorriso no rosto.