Quando escolhi o título acima, pensava em falar sobre os melhores restaurantes que fui, parques mais bonitos e peças de teatro, mas decidi mudar um pouco os planos pelo simples motivo de que eu teria que me esforçar muito para ser natural dando dicas turísticas, afinal quem me conhece sabe que, definitivamente, essa não é a minha praia.
Depois que me mudei para Londres descobri que gostar de um lugar tem muito mais a ver com o que ele representa pra você no seu dia-dia do que o que os guias turísticos dizem sobre ele.
A gente demora um tempo para perceber que monumentos famosos, praças centrais e ruas glamorosas nos custam caro, nos fazem passar horas em aviões e tomam mais da metade do nosso HD ou da Nuvem (serviço de armazenamento de arquivos) com fotos de todos os ângulos possíveis, mas na maioria das vezes não nos trazem mais felicidade, amor e doces lembranças como lugares simples que, de tanto passarmos por eles, não enxergamos o quão mágicos são.
Nos dias de hoje vejo que muitas pessoas valorizam muito mais um lugar pouco explorado, distante e de difícil acesso, acreditam que isso torna a experiência única e inesquecível. Eu, como de costume, sou do contra, acredito que quanto mais simples, mais caseiro e mais presente o lugar está na sua vida, mais única se torna a sua experiência, pois ninguém poderá comprar um ticket para fazer um bolo na minha cozinha ouvindo eu cantar Caetano Veloso de pijama, para tomar café aos domingos na casa da minha avó ou para bater papo com meu porteiro queniano que diz que sou louca porque gosto de correr (logo o queniano? Vai entender…).
Tudo o que você precisa saber para morar na Inglaterra!
Enquanto olho agora para o infinito da tela branca do Word em meu computador, já sem esperança de que sairá um bom texto, me distraio por alguns segundos e olho para a TV, mas lá estava minha luz, literalmente, no fim do túnel: Balé, minha paixão incondicional e meu combustível para os dias cinzas (que como eu já disse, não são poucos!).
A verdade é que eu não sei nada de turismo, lugares caros e famosos, o que sei é que meu lugar favorito em Londres, sem dúvida nenhuma, é a sala de aula do English National Ballet, um lugar simples, que fica escondido atrás das grandes paredes de seu vizinho Royal Albert Hall.
Foi lá que conheci um “eu” que nunca tinha despertado em mim, uma pessoa sensível, delicada e que trocaria qualquer coisa para dançar só mais uma música tocada por aquele piano de cauda no canto da sala espelhada. Além disso, adoro caminhar por essa região (South Kensington), é um dos poucos bairros de Londres que quanto mais cinza e mais frio, mais lindo fica. No inverno é instalada uma pista de patinação no gelo dentro do jardim do Museu de História Natural, e nessa época perco a hora olhando os mais habilidosos deslizarem pelo gelo.
Aliás, essa é uma outra paixão que tenho desde a infância, pois competi até os 15 anos no Brasil em diversas categorias diferentes de Patinação Artística em rodas. Enfim, com tanta arte, museus e arquiteturas colossais por essas bandas, não é surpresa pra ninguém eu me encantar e ter a certeza de algumas imagens da minha rotina por esse bairro sempre irão morar em meu coração.
Outro lugar bem especial, que recentemente ocupou um pedaço do meu coração é a Columbia Road aos domingos, que nos presenteia com um mercado de flores bem charmoso, com direito a, além de muitas plantas lindas, lojinhas simpáticas que vendem desde acessórios para jardim até papelaria e, claro, lugares deliciosos para tomar café e comprar comidinhas gostosas. Quando penso nesse mercado me vem à cabeça a imagem e o som de uma jovem francesa cantando músicas maravilhosas em um cenário poético a sua volta que faria qualquer um parar alguns bons minutos para contemplar a vida e, no meu caso, agradecer por ela.
Também não poderia deixar de falar do lugar mais importante de todos: a minha casa. Sei que parece loucura dizer isso aqui, afinal suponho que seu objetivo quando leu o título do meu texto e clicou, era conhecer melhor Londres e pegar algumas dicas com base na minha experiência como “local”.
Pois é, quer uma dica de verdade? Leia meus textos de coração aberto e aceite que eu viajo pelas palavras, embora às vezes minha coerência com título seja um pouco abalada por isso, afinal, quem manda no setor de redação da minha vida é meu coração e não a razão.
Mas, como eu ia dizendo, mesmo que pareça estranho falar aqui sobre a minha casa, existe uma grande importância neste parágrafo. Assim que a gente muda de país, por milhares de motivos diferentes, nós nos sentimos por um bom tempo um peixe fora d’água, afinal, tudo é bem diferente do que estamos acostumados, principalmente nossa casa, por isso considero de extrema importância morar em um lugar que goste, desde a região até a própria casa.
Essa história de economizar na casa para comprar roupas ou viajar o mundo funciona para algumas pessoas, mas não para outras como eu, afinal, sou aquilo que me faz bem, portanto, sou casa quentinha, roupa de cama limpa, espaço para esticar as pernas, suspiro aliviado ao abrir a porta quando chego da rua gelada, regar as plantas, saber quem são os vizinhos dos prédios ao lado por vê-los nas janelas todos os dias, sou simples e caseira. Por isso, para as novas brasileiras que estão planejando sair pelo mundo, meu conselho é: tenha uma casa que ame tanto a ponto de colocar em um texto sobre dicas de lugares que mais ama na cidade e, para isso, é claro que não precisa estar em uma região nobre ou em uma casa grande com jardim, apenas é preciso sentir-se segura e feliz aonde mora.
Nos dias menos feios e também nos mais bonitos meu roteiro favorito em Londres começa em uma rua chamada Hamilton Terrace, passa pelo Regent’s Canal e dá a volta completa no Regent’s Park. Esse é o caminho que faço quando saio para correr na rua, ele completa 10km e me faz ser feliz, sorrir, reconhecer meus amigos da lida da corrida em volta do parque, às vezes ter a sorte de ver as girafas que passeiam pela manhã dentro do Regent’s Zoo e me lembrar que, mesmo nos piores dias da vida, como diz Nando Reis, “o mundo é bão Sebastião”, e nele não existe roteiro para seguir diariamente, não existe um lugar melhor que o outro e nem fórmula para a felicidade, basta encontrar coisas que ama fazer, boas companhias e tempo para olhar para o lado, para baixo e para cima e entender que existe beleza em tudo, basta darmos chance para ela ser vista.