Lyon, a cidade do papa da gastronomia Paul Bocuse.
Como já comentei, há algum tempo me mudei para Lyon e quero começar a apresentar para as leitoras e leitores do BPM esse lado do país que muitas vezes passa despercebido para aqueles que pensam na França.
Sabemos que Paris tem seu charme, mas não me canso de dizer que o hexágono (apelido que o país tem) tem muitos lugares a serem visitados e as pessoas ficariam boquiabertas se descobrissem como as outras cidades podem ser encantadoras!
Lyon, por exemplo, além de ter belíssimos lugares a serem visitados, também é conhecida por ser a capital mundial da gastronomia, isso porque em 1935 o crítico gastronômico Curnonsky fez essa declaração.
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Segundo o site Patrimoine Lyon, a história da gastronomia lionesa é caracterizada por duas grandes tendências: a da tradição burguesa e a da tradição popular, mas como os tempos estão mudando e aqui há muita imigração, a gastronomia se abre às novas tradições e é possível encontrar também culinárias típicas de outros países por toda a cidade.
Conhecido como o papa da gastronomia o também lyonnais Paul Bocuse é o grande nome da cozinha francesa. Claro que existem outros grandes chefes, mas sem dúvida ele se tornou a referência principal! Vindo de uma família que possuía um restaurante, desde cedo esteve em meio às panelas e manteve-se ativo cozinhando até a sua morte, aos 92 anos, ocorrida no início desse ano e motivo de comoção nacional.
Paul construiu um legado praticamente impecável, sendo um dos percursores da “nova gastronomia” (estilo moderno de culinária tendo como característica o uso de ingredientes frescos e leves, imaginação e simplicidade na preparação, além do uso de arranjos criativos para a apresentação visual dos pratos), movimento que teve sua origem em 1973 pelos críticos gastrônicos Henri Gault et Christian Millau.
Paul Bocuse também recebeu seu reconhecimento pelo guia Michellin, tendo recebido 3 estrelas em 1965, as quais manteve até a sua morte, e também foi consagrado pelo Culinary Institute of America como o Chefe do Século.
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Ao contrário do que muitos podem imaginar por conta da repercussão do programa Masterchef, a escola de gastronomia referência aqui na França não é Le Cordon Bleu (ela também é ótima!) mas, sim, o Institut Paul Bocuse. O que se fala e o que ouvi pessoalmente de alguns chefes é que o Institut é a referência enquanto escola por ser muito fiel à culinária francesa e ter suas unidades somente na França – característica local muito comum: o orgulho pela fidelidade às origens.
Fundada pelo próprio Paul, o Institut oferece cursos ligados tanto à restauração quanto à administração de restaurantes e hotelaria.
Agora vamos falar da parte mais gostosa! Onde comer quando vier a Lyon para conhecer a culinária tradicional francesa em um restaurante deste chefe tão aclamado?
Muitas vezes, tem-se a impressão de que na França come-se muito pouco pelo fato dos pratos não serem enormes, mas isso acontece justamente porque uma refeição tradicional pode-se desenrolar em até 6 etapas: aperitivo, entrada, prato principal, queijos, sobremesa e café (que podem ser repetidas, já vi refeições com 10 pratos!).
Ou seja, não dá pra fazer um “pratão” ou será impossível comer tudo! Mas não é sempre que se tem essa fartura toda, normalmente quando se vai aos restaurantes o mais comum dos menus são: entrada, prato e sobremesa, podendo, na maiorias da vezes, ser escolhida apenas duas opções. E dou minha opinião de boa de garfo: não se passa fome! Claro que existem restaurantes e porções não tão bons, mas aí todo lugar tem, não é mesmo?
Voltando ao Paul Bocuse, se você estiver pensando que vai ser impossível comer em um dos restaurantes dele por serem completamente inacessíveis, tenho uma novidade: existem três formas de conhecer seus restaurantes e nem todas elas são caríssimas!
Uma delas é o restaurante principal e de altíssima gastronomia, onde Paul foi reconhecido com as três estrelas, que fica em uma pequena cidade chamada Collonges au Mont d’Or localizada a cerca de 20 minutos do centro de Lyon.
Lá existem três menus quem variam de 175 a 275 euros. Algo que descobri e achei incrível é que também existem pacotes especiais, como um que você pode reservar o jantar e uma noite em hotel 5 estrelas com café da manhã incluso para duas pessoas, por 675 euros. Não acho isso nem um pouco acessível, mas imagino que deva ser uma experiência única e acredito que em uma data especial, esse pacote possa ser uma boa pedida!
Mas, pra quem é “gente como a gente”, ainda existem as opções mais acessíveis, como as chamadas Brasseries, que são 8 no total e estão espalhadas por Lyon, tendo cada uma um tipo de culinária mais característica. Lá os menus variam de 27,90 a 31,90 euros, sendo possível pedir pratos avulsos. Uma delas tem ambiente mais descontraído e podem ser pedidas porções.
Nas datas especiais, eles fazem menus mais completos e a experiência é maravilhosa! Fui ao restaurante Marguerite (que já teve como chefe principal uma brasileira!) na virada do ano e foi uma das experiências gastronômicas mais incríveis que já tive!
Para completar, também é possível reservar uma mesa nas próprias escolas, onde os alunos cozinham os pratos aclamados dos restaurantes. Uma delas fica no centro de Lyon e a outra em uma cidade chamada Ecully, onde existem dois restaurantes, sendo que um deles só funciona no verão.
O interessante na França é que não existe suspense quando se trata do preço, você entra no site e lá está explícito quais as opções de menus, o que cada um deles contém e qual o valor. Não existe a chance de você levar um susto! Em todos os restaurantes da rede do Paul Bocuse é possível ver o cardápio e fazer a reserva online.
Aproveitando, faço um adendo: recomendo fortemente que você sempre faça reserva nos restaurantes que tenha interesse de ir, sejam eles do Paul Bocuse ou não, pois acaba sendo muito comum chegar em um restaurante e não ter mais lugar, seja na hora do almoço ou do jantar.
Espero que tenham gostado de saber dessas curiosidades e aguardo de braços abertos quem vier passear por Lyon!