Quando saí do Brasil para vir para Kuala Lumpur, imaginei que veria um país totalmente diferente do que já havia conhecido, mas como nunca havia morado fora, não sabia muito bem o que estava por vir.
Logo na minha primeira moradia fora vim parar no Sudeste Asiático. Os estrangeiros dizem por aqui que se você conseguiu morar aqui, qualquer outro lugar fica fácil, e acho que concordo. O Sudeste Asiático e até mesmo o restante da Ásia são, em sua maioria, totalmente diferentes do mundo ocidental. Porém, depois de alguns meses morando aqui, já consigo ver muitas semelhanças entre estes dois países tão distantes. A principal semelhança é a falta da educação de base, que por aqui também é nítida e gera os mesmos problemas que vemos no Brasil: trânsito caótico, falta de mão de obra qualificada, transporte público ruim, e saúde pública idem. A violência só não é tão grande como no Brasil porque a justiça ainda funciona para alguns crimes mais graves e o pais é infinitamente menor, tanto em população como em tamanho, então tudo aqui acontece em proporções bem menores.
Apesar das semelhanças, resolvi então tentar listar as diferenças que mais me chamaram a atenção e com as quais até hoje ainda não me acostumei completamente. Claro que tem as diferenças óbvias, como religião e língua, mas essas não são novidade e por isso, não entraram na minha lista.
Censura – A mais evidente diferença é a censura. Aqui na Malásia, a televisão – mesmo os canais da TV paga – , o rádio e cinemas têm censura. Na maioria dos filmes exibidos, seja nos cinemas ou na TV, as cenas consideradas inadequadas pelos censores são simplesmente cortadas. Nas rádios, músicas com muito palavrão ou com palavras que remetem ao sexo nem tocam, ou também são editadas. Alguns vídeos na internet também são censurados. Segundo a BBC News, a Malásia possui uma das mais fortes leis de censura do mundo, podendo censurar as notícias e as mídias de entretenimento. O governo atua ativamente para proteger a população muçulmana do que eles consideram influências negativas dos estrangeiros. Um exemplo clássico foi a proibição da exibição do filme 50 Tons de Cinza na Malásia. A tevê aberta é do governo e só tem canal malaio, indiano ou chinês.
Filmes e músicas com xingamentos, ou cenas de beijos em filmes, entre outros, são cortados. Na Wikipédia é possível ver uma lista das músicas que são proibidas na Malásia. Os filmes atuais são sempre editados e na TV o que mais passa é filme dos anos 90 ou 200o. Com relação à Internet, desde 1996, com a inauguração da iniciativa chamada Multimedia Super Corridor – que teve o objetivo de incentivar a globalização da tecnologia e informação, atraindo investidores e empresas da área para o país – o governo, mais especificamente o antigo Primeiro Ministro se comprometeu a não censurar o uso da Internet; entretanto, em agosto de 2014 o antigo primeiro ministro – que ainda exerce grande influência no governo – anunciou seu arrependimento em relação ao compromisso e disse que se voltar ao poder, irá iniciar a censura também na Internet, segundo notícia do The Malaysia Insider. Este mesmo político foi censurado pelo Facebook ao compartilhar na rede social um artigo sobre judeus de seu blog pessoal e se mostrou indignado com isso, mas ainda sim, concorda com a censura no seu país. Controverso, não? E com isso, a população da Malásia fica desatualizada e bitolada.
Animais de estimação – Outra grande diferença em relação ao Brasil é que aqui, ter animais de estimação, principalmente cachorros, não é uma atividade muito comum e é até mesmo considerada inadequada por alguns. Existe uma lei que regula o número de cães que cada residência pode ter. O limite é de 2 cães. Além disso, existem várias raças que são estritamente proibidas no pais e outras ainda estão em processo de avaliação. Conheço famílias que têm mais de 2 cães, e por isso não andam com eles todos juntos, levando-os para passear sempre em par e evitam que vizinhos os vejam porque caso denunciem, a polícia pode pegá-los. Cães que latem muito podem ser um problema. Caso haja uma reclamação, a lei permite que o dono seja multado ou ate mesmo tenha que dar o cão.
Não se vê cães passeando pelas ruas (acho que em 1 ano vi no máximo 5), e os sem dono são sacrificados. Alguns muçulmanos consideram os cães como sendo animais sujos e impuros, e outros acreditam que eles sejam uma reencarnação do demônio. Mesmo assim, existem pessoas que gostam de cães e têm seus pets, mas sofrem um certo bullying quando andam na rua com eles, pois o ir e vir com um cachorro por aqui não é fácil, já que a maioria dos lugares não os aceita, nem mesmo nos parques. E mesmo quando os aceita, os outros frequentadores não gostam. Eu que amo animais sinto muita falta de vê-los ao menos passeando e convivendo com as pessoas. Ano passado ocorreu o evento “I want to touch a dog” (eu quero tocar um cachorro), como um esforço para tentar aproximar os muçulmanos malaios dos cães e onde várias pessoas levaram seus cães para um parque. O objetivo do evento era incentivar o encontro e até mesmo o primeiro contato de algumas pessoas com os cães. O evento, que levou mais de mil pessoas e seus cães para as ruas, foi aparentemente um sucesso, mas no dia seguinte o organizador do evento sofreu várias represálias nas redes sociais. Os governantes ainda não se acostumaram com a ideia deste evento, o que considero uma pena.
Ausência dos feriados brasileiros – Mais uma coisa que só depois de alguns meses comecei a reparar, foi a ausência dos feriados tradicionais do Brasil. Pois é, sabe os feriados que estamos acostumados desde sempre e que são aguardados por nós, como Páscoa, Semana Santa, Corpus Christi e o Carnaval? Então… Nem sombra deles por aqui. Apesar de ter muitos feriados na Malásia, eles não são os que estamos sempre habituados a ter em determinada época no Brasil. Pra mim foi muito estranho chegar abril e não ver nada de ovos de Páscoa nas lojas, ou no Carnaval a vida continuar a mesma e nada mudar na cidade. Parece besteira, mas quando vivemos fora até nisso sentimos diferença. Feriados judaicos então, nem se fala. Mas para quem curte um feriado prolongado, aqui tem uma grande vantagem: quando o feriado cai no domingo, ele é automaticamente transferido para segunda. Malasia Bolê! ou Malaysia Can em inglês, significa: (na) Malásia, pode. Esse ditado é famoso porque nesse sentido tudo pode na Malásia, até feriado mudar de dia – por isso é importante estar antenado com o calendário.
Vida saudável e fitness – A cultura da vida saudável com esportes, atividades ao ar livre, ginástica e afins, não é nem um pouco presente no país. Isso sem dúvida é uma grande e notável diferença quando se passa a viver aqui, principalmente se você está habituado a fazer seus exercícios e a pelo menos tentar levar uma vida saudável. Os malaios não são nem um pouco adeptos da vida saudável e com isso a cidade não respira a cultura fitness. Não existe ciclovia na cidade e por isso é óbvio que a bicicleta ainda não seja uma opção de transporte. Foi criado aqui, em 2014, um movimento chamado KL Car Free Morning (manhã sem carros em Kuala Lumpur), onde todo primeiro domingo do mês, de 7 às 9 da manhã, algumas ruas são fechadas para os ciclistas. Apesar de pouco, isso foi considerado um grande avanço. Outro fato que ajuda a manter a condição de cidade pouco ou nada saudável é a presença do cigarro. Quase não se veem anúncios de prevenção ou combate ao tabagismo. A falta da educação de base piora esta situação, ja que a população não consegue entender os benefícios que uma mudança de hábitos pode trazer.
Kuala Lumpur caminha lentamente em direção à vida saudável e mais prática em comparação a muitas outras grandes cidades. O jeito é colocar a bicicleta no carro e ir em busca da vida saudável por conta própria.
14 Comments
Oi Fernanda! Eu moro nas Filipinas e chorei de rir com a frase “os estrangeiros dizem por aqui que se você conseguiu morar aqui, qualquer outro lugar fica fácil, e acho que concordo”: menina, eu concordo 100% com isso!!! Depois que se vive desse lado do planeta, qualquer outro lugar parece fichinha (com exceção do Oriente Médio, que acho que é outro mundo)…
Nunca fui para a Malásia, mas me falaram que a infraestrutura da cidade é melhor que a de Manila… Então, acho que você teria um choque.
Sobre as diferenças, percebo algumas das que você citou aqui nas Filipinas também. Como o povo tem a constituição física menor, acho que eles não se importam em praticar exercícios físicos, mas essa é minha opinião… Há muitos filipinos na minha academia, mas há ainda mais deles que não fazem nada – só comem o arroz!
OI Tati! Entao tem uma amiga que morava aqui em KL e foi para Manila inicio desse ano e ta preferindo morar ai. Acho que por ser mais clima praiano e disse que as pessoas são bem mais simpáticas e alegres que aqui. A infra aqui de Kl só é boa na parte central (financeira), de resto não acho boa não, precisa de carro para tudo e andar a pe é um perigo, não tem calçada direito. Uma zona mesmo. hahahah. Enfim, no geral sudeste asiatico e asia são bem diferentes mesmo de tudo.
Em relação ao exercício,tem gente que faz, mas os malaios mesmo não e a cidade não respira essa cultura. Nada é feito pensando nisso. Os parques são vazios, ninguém usa. So vao para shopping. As academias chegaram pouco tempo aqui. Eu tive que achar um personal brasileiro para me treinar. hahahah. ainda bem que achei. Um dia vou ai para Manila e te aviso! Quero ir para Palawan!! beijosss
Fernda, preciso falar com vc em off. Meu email corrigido.
Ab. Luferreira
Oi. Me manda mensagem no facebook que respondo mais rapido. So procurar pelo meu nome completo la. bj
Pitoresca essa Kuala Lumpur!
hahahaha sim! Tudo misturado!! E com muito a melhorar! Ainda bem que é perto da Tailandia, Indonesia e etc… escapadinhas são necessárias para aliviar do caos. bjosss
interessante a parte dos pets, não sabia. ja havia percebido que em bali os streets dogs são a figura do demonio mesmo de tao doentes e raquiticos. pena! parabéns pelo texto! bj, sds!
Lendo o texto passamos a conhecer melhor e avaliar com mais carinho o que vocês passaram pó ai.
Lendo o texto ate to achando bom morar por aqui…. Rio eu amo eu cuido rsrsrrss
Olá Fernanda, amei o seu texto, estou indo morar na Malásia devido a uma transferência do meu marido, e estou muito insegura quanto a vida aí, tenho dois filhos pequenos uma de 5 anos e um de 3 anos, vc ainda mora na Malásia?
Muito obrigado Fernanda por falar “muito bem” do meu pais. Você se acostuma aos seus jeitos brasileiros, até chegou mencionando a “Ausência dos feriados brasileiros”, que pra mim não é justo julgar aos outros segundo seus costumes.
Concordo:
1. trânsito caótico
2. transporte público ruim,
Não concordo:
1. falta da educação de base
2. falta de mão de obra qualificada,
3. saúde pública idem.
Eu tem muito respeito a outra cultura our religião, mas muitas vezes vejo que alguns não.
Tenho muitos amigos incriveis aqui no Rio, no escritorio e na rua, e acho que nos respeitamos muito, e tentamos pegar sómente as boas partes de cada cultura.
Estou aqui faz 27 dias e este sexta volto embora pra Malásia.
Nossa educação não é a melhor do mundo, mas está bem. Não concordo con muitas coisas que faz o governo mas não é muito ruim até que o povo não mandem a seus filhos as escolas públicas. Não temos uma taxa de criminalidade inacreditável que os gangsters nos alguns bairros possam fazer tudo o que quiserem.
A saúde na Malasia também está bem, ainda melhor se digo barato.
Temos alternativas, se vocé tem mais dinheiro, vai aos centros privados, Se não, tudo remedio se compra com 1 Ringgit (1 Real=1.26 Ringgit)
Com 10 Ringgit já se almoça, no Rio ou São Paulo, nem pensar.
Perdoe o meu português ruim, o aprendo faz apenas um mes e meio, mas já falo espanhol faz 16 anos e isso ajuda muitíssimo 🙂
Venha falar comigo algum dia no Midvalley traquilamente Fernanda, preciso praticar o meu português hehe
Brasil não é Ocidente. Nunca foi nem nunca será. Não sei porque os brasileiros alimentam tanto essa ilusão.
Por que diz isso? Geograficamente falando, o Brasil está no Ocidente. Que papo estranho, o seu.
É por isso que depois de participar de muitas religiões eu me tornei um pensador livre, como pode alguém considerar um animal tão amistoso e fiel com um ser maligno? Mas é como diria Don Corleone, O poder desgasta aqueles que não o tem, o povo não tem poder ou se ilude que tem e é por isso que continuará recebendo privações a sua liberdade de expressão e conhecimento, Digamos SIM a liberdade de opinião e expressão e um grande NÃO a censura, deixemos que as pessoas sejam livres, pra pensarem, falarem, verem ou ouvirem o que bem quiserem, unamo-nos e lutemos bravamente até o fim, nem que este fim signifique a morte, é melhor perder a vida que ser um escravo dos poderosos!