Conheci a Marcinha, que é maquiadora profissional em Dubai, e já chamo pelo apelido porque ela me foi apresentada assim, num desses encontros inusitados que a vida proporciona. Logo de cara deu para perceber que ela é uma pessoa cheia de energia e de planos futuros.
Conversando mais um pouco descobri que ela era maquiadora especializada em efeitos especiais e pensei: Uau! que legal isso. Principalmente porque se hoje eu consigo passar base e corretivo de modo a disfarçar as imperfeições e não sair de casa com a cara manchada já é uma vitória.
Eu realmente admiro que tem esse talento da transformação e por isso convidei ela para contar um pouco mais sobre sua profissão e do seu último projeto que ALERTA DE SPOILER tem tudo a ver com esse blog e tem um significado super forte, principalmente para as mulheres aqui da região.
Obrigada Marcinha por dividir com a gente a sua trajetória e inspirar outras pessoas a seguirem carreira também na área do cinema.
Marcia Lima é de Campo Grande – Mato Grosso do Sul e é maquiadora profissional há mais de 20 anos. No Brasil, trabalhou em grandes emissoras de TV como a TV Globo e o SBT além de ter maquiado em eventos de moda como o São Paulo Fashion Week. Trabalhou também em campanhas publicitárias para Bauduco, Sukita, Skol e a antiga VARIG. Em Dubai já maquiou para campanhas das redes de telefônia Du e Etsalat e ainda Mall of Emirates, Emmar ( grande construtora) e a companhia aérea oficial do país Emirates.
BPM – Como tem sido a sua trajetória profissional?
R.Eu comecei a trabalhar como maquiadora há uns vinte anos atrás em São Paulo, principalmente com comerciais, um pouco de cinema e com moda. Em 2003 me mudei pra Itália, onde tive a possibilidade de desenvolver várias novas técnicas em particular para efeitos especiais e também consegui ensinar as mesmas técnicas para outros profissionais da área, e isso ajudou muito o aperfeiçoamento das minhas capacidades técnicas. Em 2009 e cheguei em Dubai que possui um mercado muito ativo me permitiu de colocar em prática toda a experiência madurada até lá. Eu continuo principalmente atuando no campo de comerciais e propaganda e nos últimos dois anos também comecei a trabalhar muito com cinema seguindo o crescimento da popularidade do lugar como set para produções nacionais e internacionais.
BPM – Como surgiu a ideia de trabalhar em Dubai?
R.Como falei antes, eu cheguei em Dubai no ano de 2009, logo depois da crise financeira, quando o mercado estava na maior baixa dos últimos vinte anos. O que para muitos foi uma fase ruim, para mim foi uma grande oportunidade. A partir dali consegui tirar vantagem da profunda e rápida recuperação econômica e finalmente veio o boom do mercado nos últimos três anos. Dubai representa hoje, mais do que nunca, um polo internacional a nível cultural, econômico e social e, até o 2020, vamos ver uma expansão exponencial em todos os setores. Em particular mais e mais casas de produção cinematográficas que já estão fazendo gravações aqui, comercias internacionais estão sendo filmados nos Emirados Árabes e até filmes de Hollywood estão vindo gravar em Dubai…só pensar em Missão impossível, Sexy in the City 2 ou o último Star Trek que foi filmado bem abaixo da minha casa.
BPM – Você fez faculdade ou algum outro curso específico em Dubai? O que é preciso fazer para ser maquiadora profissional nos Emirados Árabe?
R.Eu me formei em Londres, numa faculdade profissional especializada em maquiagem e efeitos especiais, e com os cursos de aperfeiçoamento que fiz na Itália quando cheguei aqui eu já tinha todos os recursos para trabalhar nos mais complexos sets de gravação, seja para comerciais ou para cinema. Desde a época de São Paulo eu sempre fiquei praticando constantemente, melhorando cada vez mais as técnicas e os “segredos” da profissão.
Não precisa de cursos específicos para trabalhar em Dubai no meu setor, mas é claro que eles são necessários para atingir níveis mais avançados, como nos efeitos especiais do cinema. Mais do qualquer outra coisa no meu setor, como em qualquer outro, contam profissionalismo e dedicação.
BPM – Como é a sua rotina. A que horas começa a trabalhar e qual é a sua carga horária?
R.Realmente não existe uma rotina na minha profissão, trabalho na área de publicidade, filmes e sessões fotográficas, então não tem horários definidos como num escritório, eles variam muito dependendo das gravações, das locações, das senas, tudo depende do trabalho específico as vezes eu posso trabalhar até três dias seguidos noite e dia, mas depois tem períodos que não trabalho por dez dias.
BPM – Quais as diferenças da sua profissão, se houverem, entre o Brasil e os Emirados?
R.Na área de publicidade não tem muitas diferenças entre trabalhar em Dubai ou no Brasil, ou melhor entre Dubai e São Paulo ou o Rio, onde também tem muitas gravações sempre acontecendo. Na área de cinema acho que o Brasil até tem mais oportunidades devido ao grande mercado dos filmes nacionais. Em geral acho que o mercado brasileiro seja mais desenvolvido também por causa da TV e ao final um pouco mais profissional do que aqui, mas muito mais competitivo.
BPM – Que cursos você recomendaria para as brasileiras que queiram ingressar na mesma profissão e seguirem carreira em Dubai?
R.Aprender inglês muito bem primeiro e depois escolher uma escola profissionalizante com referências internacionais.
BPM – Como é trabalhar em uma área artística, em outra língua? Você sente alguma espécie de discriminação? Teve algum problema de adaptação?
R.Eu tive a oportunidade de me formar na Inglaterra então aprendi o inglês quando era bem jovem e depois trabalho num setor onde muitas técnicas e termos são de qualquer jeito de origem inglesa. Trabalhar numa outra língua para mim realmente sempre só foi um plus. Além disso nunca fui discriminada pela minha origem aqui em Dubai. Esta cidade é um melting pot (mistura) multi racial, provavelmente uma das cidades mais internacionais do mundo.
BPM – Qual seria o aspecto mais positivo e o negativo (se houver) de ser profissional na sua área em Dubai?
R.Os aspectos positivos e negativos na minha área vão basicamente ser iguais em qualquer lugar que eu for. O aspecto principal negativo são os horários dos quais falamos antes, no sentido que muitas vezes posso começar a trabalhar as 5 da manhã e voltar pra casa as 10 da noite do dia seguinte.
O aspecto positivo é que tenho o privilégio de fazer coisas diferentes a cada trabalho, são desafios diferentes e pessoas diferentes quase todas as vezes. Além disso amo a liberdade de ser freelance e trabalhar com produtoras e casa de gravação sempre diferentes.
BPM – Você acha que teria as mesmas chances na carreira se estivesse no Brasil, ou o fato de estar Dubai lhe proporciona mais opções profissionais?
R.Antes de vir para Dubai eu trabalhei em São Paulo por muito anos e se estivesse lá tenho certeza que eu continuaria trabalhando nos mesmo setor. O fato de me mudar para Dubai foi uma consequência de vários fatores, de vida assim como profissionais. As escolhas que nos levam em outros países sempre são difíceis mas sempre apresentam algo seja a nível humano ou de carreira.
BPM – Conte-nos mais sobre seu projeto mais recente.
R.Um dos meus últimos projetos aqui em Dubai foi fazer uma longa-metragem com produção de Hollywood gravado integralmente aqui, chamado “Twisted Blues” que vai tem previsão de estréia nos cinemas para o próximo ano. Os efeitos especiais foram muitos complexos devido ao tipo de história do filme e foram executados junto ao meu amigo e mentor Westerley Dornellas, super profissional e pessoa maravilhosa.
Quando fiquei sabendo sobre este projeto não tive nenhuma dúvida que ele (Westerley Dornellas) seria a melhor pessoa para estar do meu lado.
O filme fala sobre o empoderamento feminino e é uma história linda que começou com violências sobre mulheres mas no decorrer da história se vê uma mulher cheia de coragem e força lutar pelos próprios direitos humanos e profissionais.
4 Comments
Amei, ótimo conteúdo, Thais e Marcinha! Saudade de vocês!
Oi Taty!
Muito obrigada!!
Vem visitar a gente S2
Oi Thais, gostaria de tirar umas dúvidas contigo, quero me mudar para Dubai mas tenho um mar de dúvidas quanto a escolha..
Olá Nicolly,
A Thais Cunha, infelizmente, parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM