Quando se muda de país, uma das grandes preocupações é o trabalho. A não ser que se tenha um ganha-pão que permita trabalhar a distância ou economias suficientes para viver o (meu) sonho sabático, a maioria de nós pensa em arrumar um trabalho que permita, ao menos, nos manter.
Nas Filipinas, a oferta de trabalho para estrangeiros continua grande: ainda que o governo tenha criado barreiras para dificultar a sua contratação, as centrais de atendimento ao consumidor (call centers) e shared services continuam buscando pessoas que falem outros idiomas para trabalharem, como comentei no texto que escrevi há dois anos.
Um cenário bastante diferente é encontrado na Europa. O mercado europeu é mais maduro e conta com profissionais bastante qualificados, com muita formação e/ou bastante experiência. Além disso, as empresas não têm grandes dificuldades em achar bons profissionais que falem outros idiomas já que qualquer cidadão de um país-membro da União Europeia pode residir e trabalhar em qualquer outro país-membro sem necessidade de pedir visto especial.
A Espanha está, atualmente, saindo da crise na qual chegou a ter quase 25% da sua população desempregada e, embora essa taxa tenha diminuído, ela continua bastante alta: segundo os dados do Data Macro, no final de 2015 mais de 20% da população ativa estava parada, ou seja, dependendo da pensão do governo. E, como poucas são as vagas para as quais uma companhia pode pedir um visto de trabalho, se o estrangeiro quiser trabalhar no país, ele deverá ser residente legal da União Europeia ou de algum dos países com os quais a Espanha tem um convênio específico (Chile e Peru), estar em situação de reagrupamento familiar, ser descendente ou ascendente de um espanhol ou ser refugiado. Também podem trabalhar no país aqueles que ocupem cargos diretivos ou de confiança, expatriados, artistas de prestígio ou profissionais altamente qualificados contratados por universidades, centros de pesquisa e investigação, departamentos de pesquisa e desenvolvimento. Maiores detalhes sobre as situações que o governo permite que um estrangeiro não residente da União Europeia possa trabalhar podem ser encontrados nesse link.
Caso a situação não se encaixe a nenhuma das acima, ainda se pode ver se a profissão escolhida está na lista que o governo lança a cada trimestre com as vagas para as quais faltam profissionais em cada uma das comunidades – o Catálogo de Ocupaciones de Difícil Cobertura pode ser acessado nesse link.
A Busca:
A Espanha é composta de diversas comunidades e o mercado de trabalho, assim como suas exigências, mudam de uma para a outra. Considerando também questões pessoais, como área de atuação e um pouco de sorte, posso comentar sobre a minha experiência em buscar emprego em Madrid.
Hoje em dia, a maior parte das empresas anuncia online as vagas disponíveis. Na Espanha, um dos websites mais utilizados é o InfoJobs, que apresenta ofertas diárias. Outro método online de se buscar emprego é através do LinkedIn e, embora nunca tenha conseguido, mantenho o meu atualizado, por via das dúvidas.
Muitas empresas contratam empresas de recursos humanos, como a Manpower e a Page Personnel, em geral com vagas para pessoas que estão entrando no mercado de trabalho até gerencia intermediária, e a Michael Page e Robert Walters, com vagas seniors, de gerência intermediária a postos diretivos.
Acredito que construir um bom CV é fundamental e experiência é um dos maiores diferenciais na hora de se buscar trabalho na área administrativa, ainda mais se for local. Caso você nunca tenha trabalhado por aqui, experiência em uma das “Big 4” e/ou multinacionais é altamente valorizada e, no caso de departamento financeiros, o conhecimento de programas de contabilidade específicos, como SAP e Navision, são requerimentos básicos. O inglês é bastante importante já que muitos espanhóis não o falam com fluência e o espanhol é sim essencial.
Mas… E o subemprego?
Antes de qualquer coisa, acho o termo “subemprego” horrível porque sugere que há empregos que estão abaixo de outros e isso não é verdade. O que existe são empregos que exigem qualificações diferentes que outros: eu, por exemplo, não acredito que pudesse ser garçonete pela minha falta de coordenação e senso de equilíbrio, mas sou boa com números.
Tendo esclarecido esse ponto, o estrangeiro que quiser vier à Espanha para trabalhar na área de hospitalidade ou vendas, terá que concorrer com nativos: segundo dados também do Data Macro, mais de 40% da população abaixo de 25 anos encontra-se sem emprego. Essa faixa etária é composta de pessoas com pouca ou nenhuma experiência profissional que, durante todo o tempo da crise, tiveram que concorrer a vagas com pessoas que tem muito mais experiência que elas.
Além disso, há também o fato de que muitos jovens espanhóis começam a trabalhar tarde: não tenho dados em relação a isso, mas, segundo minha percepção, muitos jovens decidem fazer a universidade e emendar um máster para depois entrarem no mercado de trabalho. Durante o tempo de seus estudos, muitos ou fazem estágio, mas também há aqueles que optam por trabalhar nos setores de hospitalidade ou vendas.
Se eu estiver fora da Espanha, posso conseguir um trabalho?
Embora nada seja impossível, a minha experiência diz que isso é bastante improvável. Se no seu CV constar endereço e número de telefone de fora da Espanha, nem esperem uma ligação. Quando estava nas Filipinas e planejava voltar, estava buscando ativamente trabalho que estivesse em alguma das grandes cidades espanholas. Em seis meses, recebi apenas uma ligação da Page Personnel que falou para eu entrar em contato com ela quando estivesse em Madri.
Como já comentei, essa é a minha percepção sobre buscar emprego por Madri. Tenho residência europeia, meu curriculum é estruturado e tenho muita experiência em multinacionais; ainda assim, o primeiro emprego que encontrei foi um para o qual era muito qualificada. Acontece. Experiência local é importantíssima e isso se constrói pouco a pouco.
A verdade é que se você planeja vir à Espanha, é bom ter economias que o permitam passar muitos meses sem trabalho porque, embora ele exista, pode ser que você demore um pouco para encontrá-lo: afinal, mesmo com a residência ou cidadania em mãos, um CV ótimo e muita experiência, tudo depende também de um pouquinho de sorte; há pessoas encontram trabalho em poucos meses enquanto outras passam anos buscando.
15 Comments
Bem importante e esclarecedor sua colocaçao.
Grata
Olá Ilma! Obrigada por ter lido o texto e pelo comentário! =)
Tati, Boa tarde !
Meu nome é Rafael. Poderia me passar seu e-mail através do rafaelpadula2016@gmail.com. Queria uma ajuda sua.
Desde já obrigado.
Boa tarde gostaria de arranjar um trabalho em madrid sou portugues alguém me pode ajudar por favor ? Faço qualquer tipo de trabalho
Nossa, parabéns! Você escreve muito bem, obrigado por partilhar.
Mas só uma pergunta pessoal, Desde que foste para fora do país você teve passaporte europeu ou você conseguiu após alguns anos na batalha? Estou me organizando para sair do país, mas mesmo tendo um bom currículo, uma boa reserva que me assegurará alguns meses, não um bom inglês, mas vou primeiro para Malta fazer uma imersão, meu medo sempre é o de uma hora pra outra, mesmo trabalhando ser pego pelas autoridades e ser deportado.Você teria algum relato ou ideia sobre isto para partilhar? obrigado.
Olá Alan, obrigada pelo seu comentário!
Me deu um pouco de medo a frase meu medo sempre é o de uma hora pra outra, mesmo trabalhando ser pego pelas autoridades e ser deportado”. A não ser que esteja enganada, você só pode ser deportado se você for ilegal ou cometer alguma infração séria no país – a Susana, que também escreve para o blog, pode informar mais sobre esse tema. Mas, se você está pensando em deportação me dá a entender que você está pensando em ficar ilegal no país e o meu conselho é NÃO FAÇA ISSO! Nada merece a situação de ilegalidade além do fato de que você, provavelmente, não encontrará emprego – e, mesmo que encontrar, seria arriscado porque você não teria direito a nenhum dos benefícios sociais.
Eu sou residente no país e isso é diferente de ter o passaporte europeu. Posso morar e trabalhar legalmente no país ainda que não tenha a cidadania. Eu morei em dois outros países e em nenhum deles estive ilegal: na Irlanda, tinha um visto que me permitia trabalhar tempo integral enquanto estudava e nas Filipinas tinha o visto de trabalho.
Boa sorte!
Olá Tati,
Obrigada pelas informações aqui no blog, são bem esclarecedoras.
Estou fazendo um master em Assessoria Jurídica Laboral na UC3M, e estou procurando praticas remuneradas, mas até agora não tive muito sucesso. Tenho Graduação de Direito no Brasil e um pouco de experiência como advogada, mas apenas entre minha graduação em dez 2014 e set 2015 quando vim para Espanha. Sabe me indicar alguma pagina ou algum lugar que poderia enviar meu currículo?
Obrigada
Olá Ingrid! Obrigada pelo comentário!
Infelizmente, os sites de emprego são os que citei no texto. Sugiro que entre em contato com escritórios de advogados em Madrid, além desses! Boa sorte! =)
Olá Ingrid, sou estudante de direito já no último ano da faculdade. Estou fazendo planos de me mudar para a Espanha, já que meu marido é Espanhol. Fiquei interessada na sua história e gostaria de saber um pouco mais, já que logo teria que passar pelas mesmas coisas. Gostaria de entrar em contato com você.
Olá, sou Brasileira, vou me mudar para Barcelona, a principio sem trabalho. Tenho cidadania Portuguesa e gostaria de saber quais as chances de trabalho ai, já que aqui no Brasil sou formada e tenho experiencia. Outra dúvida, em relação as escola de ensino infantil, crianças portuguesas tem o mesmo direito na Espanha? Beijos e obrigada!
Oi Renata, tudo bom? Como comentei no texto, tudo é uma questão de sorte e da sua experiência profissional e da sua área de atuação. Não posso simplesmente dizer que você tem chances ou não; assim como consegui emprego em dois meses, conheço pessoas que estão em busca há vários meses.
Sobre escolas, infelizmente não posso comentar sobre escolas porque não tenho filhos e, portanto, não tenho experiência nessa área.
Boa sorte!
Oi Tati!
Mto obrigada pelas informações aqui no seu blog, elas realmente ajudam mto!
Mas gostaria de tirar uma dúvida, na parte em q vc fala sobre os “subempregos” vc disse que é bem complicado pq é bem disputado com nativos e tals, mas se vc der a “sorte” de conseguir um emprego desses com contrato ele te dará a permissão de trabalhar?
Por exemplo, se eu conseguisse um emprego como garçonete e o empregador me desse a carta com a oferta de trabalho eu poderia solocitar o visto de trabalho?
Obrigada!!
Olá Raquel, tudo bom? Obrigada por acompanhar o Brasileiras pelo Mundo.
Infelizmente, a resposta é não. O visto de trabalho só é oferecido em áreas que faltem profissionais especializados. Coloquei o link, no meu texto, informando quais são.
eu sou descendente de espanhol pelo meu sobre nome consigor samuel peres da silva miras
Olá Samuel,
A Tati Sato parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Espanha que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM