Todo ano é a mesma coisa: começa novembro e já vou fazendo planos e sonhando com os pratos que nunca vou cozinhar, com a decoração que não vou colocar em casa e, isso sim, já vou me preocupando com o preço das coisas para a ceia de Natal e Ano Novo. Minha crise nessa época do ano não está relacionada com o balanço que sempre fazemos da nossa vida. Não dá tempo para pensar nisso. Minha sensação vivendo em Buenos Aires, é que a cidade me engole. Então, todo planejamento que faço, amorosamente, para as festas, nunca dá certo porque quando olho bem o calendário, já é dia 23 a noite. Já desisti.
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Como o Argentino passa o Natal e Ano Novo.
Eu, pessoalmente, não vejo o povo aqui relacionando o Natal com o nascimento de Cristo, ou qualquer motivo religioso, como no Brasil. Nos dias 24 e 31, as famílias se reúnem, quase sempre ao ar livre, e agora faço um comentário que pode parecer desanimador se alguém pensa em passar as duas últimas semanas do ano aqui: Faz muito, muito calor. Faz tanto calor em dezembro, que o Governo da Cidade disponibiliza as Estações Saudáveis, onde você pode conferir sua pressão, tomar uma água, receber orientação médica sobre como se cuidar na onda de calor, ou simplesmente sentar um pouco. Dito isso, reforço, a cidade é um forno em dezembro. E as comidas das festas refletem bem o clima.
Nas duas ceias predominam as comidas frias e essa tradição quase nada tem a ver com as ceias brasileiras, onde tem o chester, vatapá, arroz com passas e etc. A única semelhança é a nossa maionese, aqui ensadala rusa, e é porque este é um prato frio. Poucas famílias têm coragem de cozinhar um prato quente, e nesse ponto a minha família daqui é especial, porque são descendentes de italianos, e não é difícil ver um prato de massa na nossa mesa.
Outra diferença é que, se no Brasil esperamos dar 00:00 horas para comer, na Argentina a mesa está posta cedo, tipo 21 horas, e aí começam os trabalhos. Por esse motivo sempre tem bastante comida, pra chegar até a hora da virada. Depois dessa hora, os mais jovens saem para a balada e quem fica curte o tempo em família por toda a madrugada. Essa época é tão diferente que praticamente todas as comemorações acontecem do portão das casas para dentro. Aquele vizinho que nunca te deu bom dia o ano todo, vai seguir sem falar nada.
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Não é muito a cultura aqui fazer aquela festança, e isso me deixa até um pouco triste. Sem falar no motivo óbvio, que é estar longe da família, a cidade não se veste de Natal. Buenos Aires é linda e é uma pena que não se enfeite toda de luzes para as festas. Imagino que isso seja por questões financeiras. Sinais de Natal eu vejo nos shoppings, algumas ruas e casas. Tudo bem tímido. Fim de ano aqui também é sinônimo de convulsão social: calor (sim, o clima interfere totalmente no nosso humor), aquela correria de fim de ano, como se fosse a última oportunidade de deixar tudo em ordem e o fato de que estes últimos anos não têm sido os melhores para nossa economia. No decorrer do ano, a comida, que já é tão cara, fica com preços abusivos até, e acaba refletindo no ânimo das pessoas. Os canais de televisão não têm uma programação alto astral e bombardeiam, dia e noite, notícias sobre como esse ano a ceia vai ficar muito mais cara que a do ano passado.
Como não temos tanta festa e faz muito calor, não existe aquela corrida para comprar a roupa de Natal e Ano Novo. Ninguém de branco na última noite do ano, ou qualquer cor que signifique um desejo para o ano que começa. Roupa simples, relax e sem superstições. Eu mesma, desde que vim morar aqui, nunca mais fiz essas compras. Perdeu o sentido.
Mas afinal, o que fazer em Buenos Aires nas festas?
Chega o fim do ano e a cidade vai esvaziando aos poucos. Na última semana acontece um fenômeno que é o seguinte: metade da cidade vai para o litoral de férias, em busca de um clima mais fresco. O trânsito fica muito mais tranquilo, portanto, é uma boa oportunidade para passear, se você não tiver problemas com calor excessivo. Nas noites de festa, muitos restaurantes e hotéis possuem programações especiais que normalmente são jantar mais show de tango e depois um baile com DJ. Esse combo é bem caro porque é programação para turista. Nos dias 25 de dezembro e 01 de janeiro, Buenos Aires fica tão vazia que praticamente nem os táxis circulam. Supermercados, farmácias, lojas, shoppings (com horário diferenciado) não abrem. É bem estranho ver tudo tão parado porque já estou acostumada à loucura da cidade, mas no espírito natalino, de boa vontade e paz na terra, resolvi não planejar a ceia este ano e tentar desacelerar, no ritmo de Buenos Aires.
¡Felices Fiestas!