Minha chegada em Havana.
Minha primeira impressão quando cheguei no aeroporto de Havana foi de identificação. Logo na entrada, havia uma equipe de médicos sentados em uma mesa, perguntando sobre o cartão de vacinação. Nem precisei falar muito para que a médica que me questionava sobre a vacina contra a febre amarela já me identificasse como brasileira e, com bastante entusiasmo, me dissesse o quanto achava fantástico os cafés e chocolates brasileiros. Era uma mistura de amabilidade com informalidade, alegria e um tiquinho de malandragem no ar, que me é bem conhecido. Logo de cara, me senti em casa!
Depois de horas de espera e de averiguação das malas, porque eu levava muitas comigo já que estava me mudando, e não viajando de férias como a maioria dos que chegavam, saí e olhei aquele céu tão lindo, tive uma recepção tão calorosa dos que nos esperavam, e junto com todo esse cenário, estava lá o meu coração ansioso por encontrar o conforto de um lar, foi quando seguimos em busca dele.
Cheguei, verdadeiramente, em um lar, nada me trazia uma ideia de estranhamento, medo ou que fizesse surgir a capa da proteção defensiva do desconhecido que cheira a perigo. Tudo no ar remetia a tranquilidade. Parecia muito surreal, como se eu estivesse em um filme. E embora não tenha sido tudo perfeito, com alguns contratempos aparecendo nessa chegada, como, por exemplo, tive problemas com água na casa e como já sou experiente na arte de viver como expatriada, arregacei as mangas e fui ser encanadora, eletricista, mestre de obras (risos).
Enfim, tentei achar uma solução sem que alguém chegasse para me ludibriar, me cobrando um milhão de pesos pelo serviço. Tentando resolver e ver o que se passava com os canos da casa, comecei a notar pessoas prestando atenção na minha movimentação, achei um pouco estranho, como se eu fosse um componente de reality show em que todos me vigiavam, mas não era nada disso, eu vi surgir meus vizinhos se disponibilizando a ajudar, me trazendo escada, balde, até toalha, depois que me meti dentro da caixa d’água para limpá-la.
Parecia cena de bairro de comunidade em novelas. Todos conversando em prol de uma solução, sem ao menos me conhecer ou perguntar sobre minha vida. Foi pura e simplesmente solidariedade. Às vezes, Havana parece cidade do interior dos anos 1980, em uma época que as pessoas ainda tinham interesse e tempo de ser vizinhos.
Dos meus vizinhos, descobri o jeitinho cubano. O famoso jeitinho brasileiro acho que veio da mesma árvore genealógica de pessoas que construíram esse país. Se pensa que só no Brasil existe esse famoso jeitinho, sabe de nada, tem que vir a Cuba. São tão profissionais do jeitinho como nós. Existem tantos inventos para compensar muitas faltas que já faz parte do cotidiano criar solução para tudo. Os cubanos, como nós brasileiros, se viram muito bem, em qualquer situação. É impressionante! A criatividade está em nível máximo porque é necessário para viver.
Assim como o jeitinho, a comida cubana tem muito de Brasil. Posso citar várias, como a nossa paixão, que é compartilhada por eles também: a combinação de arroz e feijão. Além dela, também gostam de comer banana junto ao prato de comida; a mandioca cozida, frita, enfim, de todas as maneiras; balinha de coco; a influência da comida italiana com pizzas, focaccias e massas, em todas as partes de Havana e por aí vai. Fiquei muito feliz de encontrar muitos produtos alimentícios brasileiros por aqui.
Onde encontrei o Brasil também foi na televisão cubana. As novelas brasileiras param o país a partir das 21:15, que é chamado de horário nobre da televisão, três vezes por semana (terça, quinta e sábado). Nessa hora, as ruas ficam praticamente desertas nos bairros tipicamente residenciais. A novela do momento é “Lado a lado”, todos conhecem todos os atores e atrizes brasileiros e têm enorme curiosidade sobre eles e o Brasil. Me perguntam de todas as novelas, chamam os atores pelo nome dos personagens e, na maioria das vezes, eu sinto que eles se sentem frustrados comigo, porque eu não sei do que estão falando. Acho que deve acontecer o mesmo com os mexicanos, quando a gente pergunta para eles pelo Chaves.
A partir de então, até passei a me interar mais do assunto, porque nossas novelas levam nossa cultura e isso é gratificante. Por exemplo, a maioria dos restaurantes -emprendimentos privados- colocam na frente do nome a palavra “Paladar”, por causa da Regina Duarte, a “Raquel” na novela “Vale Tudo” da Globo, quem tinha um restaurante que se chamava “Paladar”. E virou referência de comida boa em Cuba.
Outra similaridade é que tudo envolve música! Esse país é tão musical quanto o Brasil, ou mais. Vibra música em todos os cantos da cidade, as pessoas passam cantando, trabalham cantando, ao sair para se divertir vai ter música ao vivo e de excelente qualidade, e todos os músicos e cantores quando percebem que estão diante de uma plateia com brasileiros, fazem questão de mostrar o seu amor por nossa música, cantando nossa bossa nova, nosso samba. Existe uma estreita ligação cultural entre nós e muita empatia.
Os cubanos são loucos por tudo o que é do Brasil e as cubanas então, nossa! Os produtos de cabelo, a parte de beleza e estética são totalmente dominadas pelo Brasil. Elas almejam nossos produtos de beleza como se fossem ouro. Ir a um salão de beleza em Cuba é se sentir um pouco em casa. Depois de tanto tempo, fazer uma unha como se faz na terrinha, oh glória, foi meu dia de rainha. Eu estou muito encantada com muitas coisas e, até agora, minha adaptação está sendo muito mais fácil do que eu imaginava. E posso dizer a vocês, pela experiência que tive até agora, que Cuba não é nada do que pensam e nem do que muitos dizem. Só vivendo aqui como em qualquer país pra se ter uma ideia do que é. Uma certeza vocês podem ter, vão se esbarrar com muita história.
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Bom dia Viviane! Me chamo Eliana, tenho 58 anos de idade e sou funcionária pública aposentada do INSS. Gostaria de saber se é possível, nessa situação fixar residência em Cuba , ou seja, sem uma especialização específica (ser médica ou estudante, por exemplo).