Mudança de hábitos no Canadá.
Na minha humilde opinião, uma das coisas mais bacanas ao mudar de país é conhecer uma nova cultura e adquirir novos hábitos. Alguns, incorporamos logo de cara; outros, resistimos um pouco mais. Alguns hábitos de origem são tão enraizados em nós que não os perderemos jamais; estes, levaremos conosco para qualquer lugar ao redor do globo.
Mudar de país é estar aberto ao novo. Quem sabe você não se surpreenda com uma nova maneira de fazer o que você nunca tinha antes pensado? É uma mistura saudável, com o antigo e o novo andando de mãos dadas.
Assim que chegamos no Canadá, desenvolvemos novos hábitos tipicamente canadenses e outros, nem tão canadenses assim, mas era a chance de colocar em prática o que a vida corrida – ou a preguiça – não tinha deixado antes. Então, vamos lá:
Do it yourself
No Canadá, a prestação de serviços pode ser muito cara, portanto a expressão do it yourself , ou faça você mesmo, é uma realidade. Nós tomamos um susto a primeira vez que fomos à Ikea (grande loja de móveis) comprar nossos móveis. Passamos horas andando pela loja, escolhemos todos os móveis e quando chegamos no final da loja, nos deparamos com um depósito enorme onde você mesmo pega as caixas nas prateleiras de acordo com o código, coloca no seu carro e vai para casa montar. Você e mais ninguém. No posto de gasolina, você coloca a sua própria gasolina. Nos supermercados e lojas de departamentos há caixas específicos para passar as compras e pagar sozinho. Simples assim! A lista é infinita e serve para vários tipos de prestação de serviço. Nós, brasileiros, não estamos acostumados com isso, mas tenho gostado muito dessa independência, nada mais justo. Portanto, faça você mesmo!
Não atravessar a rua fora do sinal
Brasileiro atravessa a rua a qualquer momento, esteja o sinal verde ou vermelho, na faixa ou no meio da avenida em horário de rush, pois adoramos essa falta de regra. Aqui é completamente diferente. Atravesso somente quando o sinal está verde para pedestres e na faixa. Algumas vezes quase caio na tentação de atravessar fora do sinal, quando não está passando absolutamente carro nenhum, mas seguro meus instintos e sigo firme junto com o resto da população.
Deixar o sapato do lado de fora de casa
É um hábito muito canadense, muito comum e presente em todas as casas por aqui, inclusive entre os novos imigrantes. Chegar em casa, tirar os sapatos e entrar descalça virou uma rotina, evitando assim trazer sujeira da rua para dentro. Como mãe de uma menina de 3 anos que adora rolar e rastejar pela casa, adotamos esse hábito logo no primeiro dia e assim seguiremos.
Arrumar a própria casa
No Brasil é muito comum termos uma pessoa trabalhando em nossa casa e fazendo todos os afazeres domésticos: arrumar, faxinar, cozinhar e passar as roupas. Sou ré confessa, não fazia praticamente nada. De vez em quando fazia uma comida no final de semana ou então trocava uma roupa de cama e só. Pois aqui, estamos sozinhos nessa missão e todos entram no jogo. Somos responsáveis pela nossa casa – e por que não? Os brasileiros tendem a sofrer com esse quesito, pois culturalmente não estamos acostumados a fazer este trabalho. Aqui em casa fazemos um rodízio e todo mundo ajuda. Minha filha já entendeu e aprendeu que deve manter a ordem na casa. Pode fazer a bagunça que quiser, mas no final da brincadeira leva tudo para o seu quarto e organiza. Tira seu prato da mesa após a refeição, ajuda colocando a roupa para lavar e secar; sua atividade preferida é varrer.
Falar alto
Estou trabalhando intensamente neste quesito. Nós adoramos falar alto, gritar, até. Somos animados por natureza e aqui as pessoas são mais comedidas, não demonstram tanto afeto e são mais discretas. Trabalhar isso em mim e me policiar está sendo fácil, mas na Catarina, minha filha, tem sido uma árdua tarefa. Ela tem uma excitação única que não a permite falar baixo. Ama cantar música a plenos pulmões ou debater algum assunto interessante sobre o mundo das princesas enquanto o ônibus cheio paira em silêncio. Mas devagar e aos poucos chegamos lá.
Incentivar a independência das crianças
Esse hábito não é tipicamente canadense, porém é adotado fortemente por aqui. Na creche (daycare), por exemplo, as professoras orientam e incentivam as crianças a experimentarem e fazerem as coisas sozinhos. Cada um carrega sua mochila, veste o seu casaco, chapéu ou botas para brincar do lado de fora, se servem no almoço e quando acabam, jogam os restos de comida fora e colocam os pratos na pia. É comum ver nos parquinhos crianças bem pequenas se virando sozinhas no escorregador grande ou então naquele brinquedo enorme. E o mais bacana é que as crianças se ajudam entre elas, formando um senso de colaboração muito forte. Eu achava que era uma mãe relaxada e tranquila, porém, observando as crianças aqui, percebi que muitas das atividades a Catarina já poderia estar fazendo sozinha, mas eu continuava ajudando. Comecei a recuar e ela respondeu maravilhosamente bem, e hoje já faz várias coisas que há dois meses atrás não fazia.
Estamos morando em Vancouver há apenas alguns meses e ainda temos muito o que explorar. Muita coisa ainda é nova, mas sem dúvida aprender como uma outra cultura se comporta é incrível. É preciso abrir o coração e abaixar a guarda e deixar os novos hábitos entrarem na sua rotina faz parte do processo de mudança, que pode ser fascinante!
4 Comments
Parabens! Voce esta vendo como vivem as pessoas, nao so no Canada, mas na maior parte dos paises desenvolvidos, onde o trabalho de todos eh valorizado e, por isto, na ha um monte de gente para fazer trabalhos domesticos a preco de banana. Mesma coisa nos EUA; meu marido, que eh americano, detesta gente “estranha” em casa e confesso que tambem nao gosto da ideia. Aqui, desde pequenininho, todo mundo, meninos e meninas, aprendem a fazer tudo em casa. Meu filho ja se vestia sozinho antes de 3 anos, aprendeu na creche, mesmo que a roupa estivesse do avesso, eh a independencia! Arruma a cama e, desde os 10 anos (hoje tem 13), lava a propria roupa e coloca na maquina de secar, quase toda semana. Cozinha tambem.
Para mim, a mensagem mais importante que se aprende morando m pais desenvolvido, eh que todos tem que dividir as tarefas em casa e nenhum trabalho eh melhor que o outro.
Aproveite!
Olá Adriana,
Adorei o seu comentário!
Para mim o mais bacana desses novos hábitos é no que diz respeito a criação da minha filha. Essa independência que eles tanto valorizam e incentivam é fundamental na educação dos pequenos. Muito bacana o seu filho fazer tudo isso. Catarina também me ajuda muito, gosta de varrer, passar aspirador e AMA lavar banheiro! rsrsrs E ela nunca tinha feito nada disso na vidinha dela, porque nunca teve o exemplo dentro de casa.
Beijos!
Que experiência maravilhosa, mudança de hábito não é fácil, pois o hábito habitua o hábito.
Tornamos dependentes em tudo, essa é a nossa cultura de sermos administradores e gestores das nossas atividades e de nossas vidas.
Precisar fazer e aprender a fazer é uma necessidade e conquista para vocês. É por uma boa causa. Sua cria, Catarina, já vai crescendo e aprendendo da forma “Do it yourself”.
Salve os novos hábitos.
Salve os novos hábitos!!! 🙂