10 mulheres que cooperaram com a minha viagem de volta ao mundo.
Há um ano, eu iniciei sozinha uma jornada de volta ao mundo pelos cinco continentes. Coincidência ou não, a minha viagem começou no mês internacional das mulheres.
Fazendo uma rápida retrospectiva da minha vida como mulher, destaco alguns marcos:
- Comecei a namorar aos 13 anos (criança!), fiquei noiva do primeiro namorado aos 15, casei-me aos 18, separei-me aos 25 e divorciei-me aos 28.
- Fui traída numerosas vezes pelo ex-marido desde o primeiro semestre de casamento.
- Perdi um bebê com três meses de gestação no final da relação conjugal, dando origem a uma depressão que durou quase três anos.
- Tive mais dois namorados (um ano cada relação) e uma amizade colorida onde me aprisionei por quatro anos.
- Iniciei a minha carreira aos 15 como estagiária na Petrobras, sendo a mais nova colaboradora da BR, onde fui destaque no jornal interno representando a força feminina no mercado de trabalho em celebração ao dia internacional da mulher.
- Fui chefe (não curto esta palavra) de setor aos 18 e deslanchei no mundo corporativo.
- Fiz meu primeiro mochilão sozinha aos 30 e nunca mais parei.
- Reinventei-me aos 37.
Acredito que a frustração no amor fez com que eu investisse todas as minhas fichas na carreira, que encerrei precocemente, em fevereiro de 2017, quando atuava como Representante da Direção de uma das melhores empresas para se trabalhar na América Latina segundo o Instituto Great Place to Work.
Leia também: BRASCON e o empoderamento da comunidade científica brasileira
Quando anunciei o meu pedido de demissão e saí da zona de conforto para ir em busca de dois sonhos (viajar e transformar a Educação), o que mais recebi foi o adjetivo corajosa em resposta.
Na Dinamarca, me apelidaram divertidamente de “Mulher UAU!” porque toda vez que eu compartilhava o meu projeto, todos em volta diziam: “UAAAAU!”. Gente, eu tenho apenas meus dois sonhos, uma mochila que varia entre 15 e 18 quilos dependendo da estação, um orçamento de 20 euros por dia (que eu tento não utilizar para investir na escola que pretendo criar), muita vontade de aprender com as diferenças, coragem, esperança e, o principal, a crença de que a essência do ser humano é boa.
Acredito no poder da cooperação e da solidariedade e, neste texto, destaco o precioso apoio que recebi de mulheres locais em dez dos doze países que explorei na Europa até o momento. Mulheres “UAU!”, cada uma ao seu modo, empoderadas, sensíveis e solidárias.
Com vocês, os anjos locais que cooperaram com a minha jornada de aprendizado:
Portugal: Dona Lúcia
Pensem numa mãe que cuida de você como avó (com amor elevado ao quadrado). Foi assim que me senti em Guimarães, na casa da Dona Lúcia – que me acolheu como filha através do Couchsurfing. Viúva, dona de casa, ela vive em função de sua pequena família. Seu apoio foi fundamental para me sentir acolhida no início da minha viagem, no país em que mais visitei escolas inovadoras. Ela me deu roupas e sapatos quentes, se preocupou com a minha logística diária, hora de saída e chegada, preparou os mais deliciosos pratos da culinária portuguesa e me doou muito amor e carinho com toda a sua simplicidade e generosidade. O melhor: sem me conhecer!
Espanha: Teresa Ubeira
Pedagoga terapeuta, co-fundadora da escola laica e gratuita O Pelouro – modelo de referência internacional no campo sócio-educacional, criou há 45 anos uma instituição centrada nas crianças, de todas as idades, especialmente àquelas com alterações neurocognitivas que afetam o desenvolvimento, como o espectro autista, os portadores da síndrome de Down e as com dificuldades sociais cognitivas, alta capacidade de inteligência ou escolofobia. Seus olhos brilham quando compartilha suas experiências e resultados. A sua contribuição com a minha jornada foi o convite para atuar como voluntária na escola.
Suécia: Shashi Berglund
Indiana, casada há mais de 20 anos com um sueco, é fundadora da creche sustentável Kidzateljé, que me acolheu como voluntária através da indicação do principal anjo desta estória (a paulista Andrea da Silva). Shashi compartilhou comigo suas experiências, livros, refeições, crianças, família e amigos. Multifuncional, ela educa, cuida, cozinha, organiza, limpa e se diverte com as crianças em sua casa transformada em creche. Desenvolve uma pedagogia baseada em projeto, onde o aprendizado da linguagem, matemática, habilidades motoras, criatividade, competência social, solidariedade e sustentabilidade é estimulado através de atividades práticas dentro do ambiente doméstico e na Natureza. Prontificou-se a ir ao Brasil montar a biblioteca da escola que pretendo co-criar no final da minha jornada.
Dinamarca: Helen Hestbjerg
Experiente em bioconstrução, está construindo sua própria casa após divorciar-se de um dos fundadores da ecovila Friland. PHD em Microbiologia, também é uma mulher multifuncional que equilibra força e delicadeza. Mãe de três filhos, terapeuta do corpo através do sistema de massagem MA-URI, empresária do namorado músico e compositor, dançarina de tango e cuidadora de uma idosa cadeirante, constrói sua casa nas horas vagas. Percebi o seu talento, liderança servidora e generosidade já na recepção com as primeiras conversas e instruções. Tornou-se uma grande amiga que inclusive garantiu minha hospedagem em uma comunidade do Japão em 2020.
Croácia: Sabine Engelhardt
Arquiteta alemã, que morou num barco sozinha durante 5 anos, é fundadora da Gea Viva – ecovila situada em Milna, na ilha croata de Brac, com as condições mais primitivas que vivencei durante o meu primeiro ano de jornada. Membro pioneiro da Lifenet, também fundou a Earth Energies Network no Reino Unido. Sua paixão é apoiar as pessoas a encontrarem suas próprias expressões na vida. Sabine foi fundamental na minha preparação psicológica para encarar o meu primeiro inverno europeu.
Hungria: Szilda Rossel
Mãe em tempo integral de três filhos, consultora ambiental e culinária, compõe o grupo de pais associados à Pedagogia Waldorf na cidade de Piliscsaba (a 27 km de Budapeste). Vive com o seu marido e filhos em um simples e tradicional yurt húngaro, onde passa a maior parte do tempo na cozinha preparando artisticamente a alimentação viva e crua para toda a família. Apoiou-me durante os cinco dias em que fiquei hospedada na creche onde sua filha caçula frequenta, compartilhando todas as refeições e sonhos. Integrou-me à sua família aquecendo o meu coração no gélido outono húngaro.
Áustria: Eva Leidinger
Professora de alemão, educação física e nutrição que ama viajar e receber viajantes. Aprendeu a colaborar através do Couchsurfing com o filho mais novo, também professor que trabalha com refugiados. Mora sozinha em um casarão antigo da família que vai passando de geração em geração e, como tudo em Viena, tem muita história. O quarto enorme em que ela recebe os couchsurfers conta com muito charme e simplicidade suas aventuras pelo mundo, assim como suas visitas a diferentes museus e exposições de arte. Uma lição sobre a vida através de fotos, pôsteres e pequenos objetos de decoração. Ajudou-me com dicas e orientações sobre a cidade, lavou minhas roupas e cedeu-me o seu tempo no único dia de folga para me mostrar o outro lado de Viena.
Alemanha: Claudia Heisig
Enfermeira e dona de casa, trabalha duro para sustentar o seu filho adolescente que decidiu viajar pelo mundo e está morando atualmente na Austrália. Um doce de pessoa que também me acolheu através do Couchsurfing em uma das cidades mais verdes da Alemanha: Freiburg. A convivência de uma semana, durante o novembro cinza e chuvoso na Floresta Negra, aproximou nossos sonhos enchendo nossos corações de esperança!
Suíça: Oksana Voznyuk
Ucraniana, médica, casada com um suíço há 5 anos, está recomeçando a sua vida acadêmica do zero após anos de experiência na medicina. Isto porque a Suíça não reconhece o seu diploma nem experiência como médica. Mesmo não falando inglês, abriu as portas da sua casa em Basel e me recebeu com amor e afeto, me apresentou a cidade, me presenteou com várias comidas típicas (suíças e ucranianas). O Google Tradutor permitiu o compartilhamento de nossas histórias de vida. Choramos de emoção juntas.
Bulgária: Janet Orphanou
Em um país extremamente machista, Janet se destaca (com três mestrados e quatro idiomas no currículo) como economista, escritora, empreendedora social, mãe de dois adolescentes, professora, presidente da associação de pais e fundadora da ecovila Joy – um lugar para pessoas não convencionais que cuidam da saúde em harmonia com a natureza e os animais, produzem sua própria comida de acordo com os ciclos naturais e lunares e vivem de maneira simples sem cigarros, álcool e carne. Lutou pela minha participação mesmo no inverno (período em que os demais membros não concordam em receber voluntários), acolheu-me como irmã, doou-me roupas e calçados, apresentou-me a diversas cidades da Bulgária e a seus amigos, e presenteou-me com o que há de mais valioso: os seus alunos, que incluem seus filhos.
***
Esta foi uma pequena amostra do tesouro de personalidades femininas espalhadas por este mundo. Nos conectamos pela boa essência e a minha rede cresce a cada dia em diversidade. Melhor escola!
Que tal compartilhar a história de alguma “Mulher UAU!” que você conhece? Vou adorar ler aqui nos comentários.
9 Comments
Super interessante ler o teu inicio de viagem pelos 5 continentes!
corajosa em viajar sózinha! Se entendi bem voce tem algum tipo
de contato, ná internete, alguma organisacao que te dá dicas de
onde pode ir para tipo ” estagiar ” Vamos ver o quanto voce ira
conseguir arrecadar de informacoes e idéias på sua escola”` Boa
sorte e tentarei ler mais sobre à tua viagem pelos 5 continentes!
Abracos Muler UAU!
Gratidão, Dalva. Existem alguns websites que consolidam as comunidades sustentáveis pelo mundo. Sempre uso como referência para aplicar para trabalhos voluntários. É possível filtrar por país. O Global Ecovillage Network (https://ecovillage.org/) é um deles. 😉
A minha mulher UAU é minha mão… “Aaah mas mãe é mole! ”
Não, não é! A vida da minha não foi, nem posso contar algumas coisas aqui sem a autorização dela…
O que me interessa realmente é a alegria de viver, o sorriso, e a cantoria diária, minha mãe é UAU! Mas não tem jeito, a mulher UAu que eu tô curtindo acompanhar mesmo é minha Vanessa Borboleta (Pra mim passarinho… rsrs)
Voa Passarinho!!! <3
Certamente a sua mãe é uma guerreira! Gratidão por compartilhar sua experiência e por sempre me apoiar. 🙂
❤️❤️❤️❤️
Chorei. Linda história! Vai dar maravilhosos frutos em breve.
Sucesso!!
Bjs
Évelyn
Gratidão pela carinhosa mensagem, Evelyn. Um abraço fraterno. Bjs
Aaahhhh eu sou suspeita para falar dessa mulher UAU! Porque ela é baixinha, que nem eu e corajosa!! Delicioso adjetivo que te deram!! AMEI!!
Mas então… com certeza, Quem conhece e acompanha esta mulher borboleta, aprende a cada dia com sua histórias e experiências! Aaaiiiiii que saudade! Parabéns lindona! Tenho certeza que além do site, teremos muitos e-books, para ler com varias dicas MEGA interessantes!!
Como vc mesmo diz… gratidão por compartilhar conosco! Muitos abraços e beijos fraternos!!
Maravilhosa sua história, Vanessa!
Faço um pouco disso aqui no Brasil, já visitei alguns Estados.
Exterior ainda não, pois infelizmente não falo inglês, mas o meu sonho é conhecer a Europa!
Sucesso pra vc!
Bj
Gratidão, Rosalva. Feliz em saber que você faz algo parecido no Brasil. Continue acreditando no seu sonho e comece a agir para que ele se realize. Um beijo grande