Quando somos brasileiras vivendo no Brasil, acreditamos que a vida lá fora é sempre uma vantagem, só vantagem! Isso porque nossa cultura, no Brasil, sempre nos ensinou a valorizar o “internacional” , o que vem de fora. E de fora, não é sinônimo de melhor!
Então hoje vou começar falando do meu primeiro choque de realidade aqui na tão civilizada Europa. Mas especificamente, na Bélgica.
Mas antes uma explicação: Para quem não conhece muito sobre esse país, a Bélgica é “dividida” – não no sentido literal da palavra – em três regiões.
Há a região Wallonne, onde se fala o francês (dizemos região francófona), a região Flamande, onde se fala o neerlandês (região néelandophone) e tem também uma pequena parte, dizemos apenas ” a parte alemã ” (não sei porque, talvez por ser a menor), onde se fala alemão, claro! Bom, essas 3 partes, apesar de pertencerem ao mesmo país, têm suas particularidades. Cada uma tem seu governo, suas legislações, suas tradições, mas no fim, todas devem se acordar entre si. É confuso mas funciona!
Moro na região Wallonne, numa cidade bem pequena e quando cheguei, a pouco mas de um ano, confesso que me encantei com a educação das pessoas, porque aqui todos dizem ‘bonjour’ a todos, os carros param para um pedestre atravessar, alguns vizinhos ainda vão a sua casa se apresentar e a polícia faz uma visita de cortesia para conhecer os novos habitantes e se colocar a disposição, coisas estranhas nos dias atuais, mas que reforçaram aquele velho pensamento brasileiro de que “a grama do vizinho é sempre a mais bonita” . Mas esse encantamento durou até a primeira volta pelo bairro a pé, e hoje, posso afirmar que foi o meu maior choque com a Bélgica… Tá, não é a Bélgica toda, só a Wallonne! Não sei porque disso, mas o fato é que o lado francês da Bélgica não é nada educado, porque entendi que todas essas atitudes não se tratam de educação e sim de gentileza, e essa, são duas coisas bem diferentes.
Nem em meus piores pensamentos, imaginei que na nessa região da Europa fosse ver tamanha falta de educação, porque para mim, isso é sim uma questão de educação! Mas voltando ao choque… nunca vi tanto lixo nas ruas como vi aqui, nem no Brasil!
Essa sujeira toda confesso, que meu olhar de turista, recém-chegada e encantada não viu, demorou um pouco para notar essa triste realidade, mas aqui as pessoas jogam todo tipo de lixo, em qualquer lugar. Você sai para passear nos lindos canais e parques e se depara com garrafa PET, latinha, garrafa de vidro, embalagens plásticas, de cigarros, bitucas por todo lado. Um horror!
Penso que como produzir lixo aqui na Bélgica custa muito caro, porque aqui além de ser obrigatório a coleta seletiva em sacos próprios (que você deve comprar), você ainda tem um limite anual de produção de lixo. Sim, sim… Quando você coloca, seu lixo sem separar ou ultrapassa a cota aceitável, recebe uma advertência colada na sua lixeira e pode até ter de pagar multa. A idéia é genial… na teoria, porque na prática o que acontece é que muita gente pega seu imenso saco de lixo, coloca no porta-malas do carro e descarrega nas lixeiras públicas nas entradas das cidades ou em terrenos vazios.
Então se você estiver transitando pelas rodovias na Bélgica e avistar lixeiras transbordando, ou pedaços de móveis, não se assuste, é normal por aqui.
Ah e ainda tem o cocô de cachorro, aff… aqui você tem que andar em zig-zag se não quiser pisar em montinho de cocô.
Por ser frio e as casas quase sempre pequenas e sem jardim, todo mundo que tem cachorro cria o seu dentro de casa e leva o seu companheirinho canino para fazer as necessidades na rua, e pasmem, N-I-N-G-U-E-M recolhe a caquinha de seu pet da calçada. Isso também é normal por aqui!
O que me faz pensar, que neste quesito, estamos um pouquinho na frente. Temos muitos problemas com a produção de lixo no Brasil, mas felizmente, podemos observar uma maior conscientização sobre isso nos brasileiros, ou não?
Uns podem até dizer que é exagero, mas mentira não é não. Salvo se você mora ou visitou a região flamã.
Essa região pode afirmar com todo direito e propriedade que não faz isso, porque é verdade também. Passar de uma região a outra, quase sempre nos dá a sensação de mudar de pais, porque essa poluição visual, simplesmente não existe nas cidades neerlandesas daqui. Sem lixo no chão e digo, nem papel de bala. O máximo que você vê é um papel ou plástico carregado pelo vento e que com certeza, muito em breve não estará lá.
Claro que isso realmente foi choque para mim, e você pode até pensar que eu estou tentando detonar com a imagem do país, mas não é. Esse problema que vi aqui não apaga as coisas e lugares incríveis que vi e vivi na Bélgica.
Só quero mostrar que nem tudo aqui na Bélgica são flores, as desvantagens existem sim, e atrapalham muito nossa evolução como seres humanos. Mas elas não devem ser empecilhos para nossa felicidade e alegria.
Viver pelo mundo a fora é uma experiência fascinante, mas não faz eu me esquecer de onde vim e de saber que o meu país não é nem de longe o pior lugar!
8 Comments
Sou Brasileiro, vivi 14 anos em Portugal, já estou a viver na Bélgica a 4 anos e honestamente tenho que discordar em parte de seu texto. Realmente nota-se uma exponente diferença entre o Flandre e a Wallonie, culturas diferentes, pensamentos diferentes… muita coisa diferente, mas que ao meu ver enriqueseem esse país que aprendi a amar. Aprendi com o tempo e com experiências vividas que não devemos generalizar, pois estou a viver numa pequena cidade da Wallonie, e claro, há certas coisas que se vêem aqui que se vê muito menos(e digo “menos”, pois também há) que se vê nos Flandres. A questão histórica influencia muito. Em relação aos “cocôs”, existem sim, mas ao meu ver, um pouco exagerada e generalizada a sua observação. Devo discordar também em relação a educação, pois acho que a gentileza faz parte da educação, parte, não todo, eu poderia também cair no erro em afirmar que as pessoas do Flandre são pouco ou nada gentis, e de certa forma rudes em sua maneira de ser, mas estaria generalizando. Coisas boas e más temos em todo lado, umas mais difíceis de suportar e se habituar que outras. Eu gosto de olhar para trás, e com muita tristeza posso afirmar, NÓS brasileiros como um todo, estamos ainda a anos luz do civismo que encontrei aqui. Peço desculpa pela intromissão, mas é somente minha opinião.
Olá Patrick, não se sinta intrometido não. Gostei de receber seu comentário, obrigada!
Mas olha, com certeza você vive numa cidade bem mais limpa que a minha, ou você tem olhado com muito bons olhos. Por conta do BPM, tenho de tirar algumas fotos, e isso virou um hábito, e o que fotografei pelas minhas andanças nas Bélgica te chocaria.
Não querendo mudar seu ponto de vista não, mas te convido a observar com mais atenção as gramas e sarjetas da Wallone, você vai se surpreender!
Abraço e merci!
Prezada Bruna,
Não conheço a Bélgica e acredito que deva ter problemas e situações que a gente não imagina ter, mas tu não deve conhecer São Paulo capital e algumas cidades da grande SP, que são imundas, fétidas, nojentas, cheias de lixo, detritos e entulho em tudo que é lugar, além de praças, ruas e calçadas que mais parecem “LIXÃO A CÈU ABERTO”lixões a céu aberto, fora que em alguns bairros o passeio público parece campo minado de tanto dejeto de animal. Sou paulistano e posso te garantir que São Paulo capital do jeito que tá parece uma grande usina de compostagem e aterro sanitário a céu aberto.
abraço e felicidades,
Ricardo
Olá Ricardo, obrigada por ler o texto.
Tenho consciência sim do estado de algumas cidades no Brasil, a minha por exemplo, sofre muito na época das chuvas. Mas normalmente, não é o que esperamos da Europa, eu pelo menos sempre achei que os europeus fossem seres acima da média rs. E outra coisa, a diferença de cuidados com o lixo de uma região á outra, ressalta aos olhos, só vendo para acreditar!
Obrigada e merci!
Moro nos flanders e até hj não conheci a wallonia, nossa fiquei chocada com essa questão do lixo. Pois aqui é coisa que se não separarmos direitinho, ou se jogar no chão e até msm despejar em terrenos, como vc ressaltou no texto, é multa na certa!!!
Ola Melissa, obrigada pelo seu comentário, em teoria essa regra tbm serve para a Wallonie, tbm somos passíveis de multa. Mas sabemos tbm que as vezes teoria e prática não andam juntas. Acho que tem fiscais dormindo no ponto, porque tirando os espaços turísticos, o resto está bem sujinho por aqui.
Gde abraço!?
Não entendo porque se fala tanto de que viver em Bruxelas é tão maravilhoso e se omite a parte menos boa. Para quem já viveu em várias cidades da Europa e em São Paulo, Bruxelas é uma cidade complicada. Das piores onde vivi. Não é que não hajam coisas boas mas as coisas más são mais. Gostava muito de perceber como se ultrapassa esta parte para começar a ver esse lado cor de rosa de Bruxelas.
Bruna, me identifiquei bastante com o seu texto. Estou morando na Wallonia, e infelizmente a cada dia que vamos passear, voltamos com aquela sensação ruim de “o que há de errado”. Não entendemos com pode ser possível as pessoas não terem nenhuma preocupação com a limpeza da cidade onde vivem. Por enquanto, dentre vários choques culturais, este foi o maior certamente.