Roosevelt Island, uma ilha que já foi lugar de criminosos e doentes mentais, hoje é um oásis entre a ilha de Manhattan e o bairro do Queens, no meio do East River. A ilha é essencialmente residencial, cercada por uma ciclovia, cheia de parques e com aluguéis mais convidativos que os de Manhattan.
Esta parte da cidade não é repleta de restaurantes, pessoas apressadas e do barulho típico de Manhattan, que é mágico para uns e infernal para outros. Tem cara de subúrbio e ar tranquilo. Não há grandes supermercados nem lojas colossais. Mas há muitas flores, árvores e, agora, o moderno campus da universidade Cornell-Tech, que vem atraindo jovens de todas as partes.
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O lugar é interessante não só pela boa vista de Manhattan, mas também por sua história.
História
Os ingleses tomaram essa ilha dos holandeses em 1666. Primeiro, colocaram o nome de Manning’s Island por causa do capitão que liderou a missão. Depois, foi chamada de Blackwell’s Island, em homenagem ao genro dele. E só em 1973 foi chamada de Roosevelt Island por causa do ex-presidente Franklin Roosevelt, que governou o país de 1933 até 1945.
Uma das casas mais antigas de Nova Iorque fica na ilha e é da família Blackwell. Foi construída em 1796, quando toda a região era uma fazenda. Fica no número 500 da Main Street, a principal rua do bairro.
A ilha foi propriedade da família Blackwell do século XVII até 1828, quando foi vendida para a cidade de Nova Iorque.
A partir daí, a ilha começou a receber criminosos, doentes mentais e enfermos de varíola, para que essas pessoas ficassem bem longe das vistas dos habitantes abastados de Manhattan.
Curiosamente, o local era chamado de Welfare Island, o que em português significaria “a ilha do bem-estar”. Bem-estar para os que ficavam em Manhattan e se livravam das pessoas doentes, só pode.
O manicômio que torturava mulheres
No bairro dá para ver o que sobrou de um manicômio de mulheres. Hoje, um conjunto residencial de luxo.
O lugar ficou especialmente conhecido por uma reportagem escrita por uma mulher, a jornalista Nellie Bly, que denunciou os abusos e maus tratos a que as moças eram submetidas. Ela foi uma das pioneiras do jornalismo investigativo.
Para conseguir ser internada no hospital, Nellie Bly passou a agir como se tivesse um transtorno mental. Gritava à noite, xingava as pessoas e, de manhã, fingia não se lembrar de nada. Não demorou muito para conseguir o que queria: a internação e o diagnóstico de loucura.
O resultado foi o livro “Dez Dias num manicômio”, publicado em 1887. No livro, ela conta como o lugar era habitado por ratos. As mulheres apanhavam e eram obrigadas a ficarem sentadas em uma cadeira dura por mais de 12 horas. Não podiam falar, muito menos ler. Andavam sujas e muitas vezes eram torturadas.
A denúncia de Nellie Bly levou o caso à Justiça. Todos os funcionários do hospital foram despedidos e os donos fizeram um investimento alto para melhorar as condições de vida das mulheres internadas.
Do manicômio, só sobrou o Octógono, que hoje serve de entrada principal para o condomínio. Um aluguel aqui, no mesmo lugar onde centenas de mulheres foram aprisionadas e distanciadas de Manhattan, não custa menos de US$ 2 mil dólares.
Como hoje é propriedade particular, não dá para fazer fotos no interior do Octógono, mas dá para visitar o lobby do conjunto residencial. Ficou curiosa? Quando terminar de ler o texto, entre aqui e veja como é.
Local de criminosos e doentes
Em Roosevelt Island também havia uma prisão, que abrigava sete mil detentos. Foi demolida em 1930. Segundo os historiadores, também um lugar sinistro, ruim, de maus tratos, onde assassinos conviviam com ladrões de comida.
Caminhando pelo calçadão paralelo ao rio, ainda dá para ver o que sobrou do lugar onde os doentes com varíola eram confinados no século XIX. É o Smallpox Hospital (Hospital da Varíola), construído em 1854 pelo mesmo arquiteto que fez a famosa Catedral de Saint Patrick, na Madison Avenue.
Caminhar por Roosevelt Island é bem mais que pegar o famoso bondinho e descer do outro lado do East River para tirar dezenas de fotos de Manhattan. É respirar a história por trás dessa ilha para onde eram enviados todos aqueles que não eram bem quistos pela sociedade da época.
Como chegar
Para chegar lá pegue o metrô F, expresso, que passa pela ilha. Mas o melhor mesmo é chegar de bondinho. Se você vem de Manhattan, ele sai da 60th St com Segunda Avenida (Tramway Plaza). Basta usar o bilhete do metrô. Ou seja, um passeio e tanto pelo preço de uma passagem de metrô/ônibus!
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A melhor época para passear pela ilha é durante a primavera para ver a flor de cerejeira brotando nas árvores.