Por que nunca gostei de Nova Iorque
Muitas vezes, quando falo que não gosto de Nova Iorque em público, percebo olhares atravessados, burburinhos recheados de críticas de pessoas que acham impossível alguém não gostar da cidade. Também já ouvi de pessoas próximas que eu poderia parecer pedante com esse comentário. Pois eu não gosto e comemorei a minha mudança para a cidade de Washington – uma cidade mais verde, mais limpa e com pessoas mais amáveis – como quem celebra a virada a favor do Brasil num jogo de futebol contra os argentinos.
Abaixo, vou listar os meus principais problemas com Nova Iorque. Sempre lembrando que a lista é subjetiva, baseada nos meus interesses, no estágio de vida em que estou e minhas preferências. E, claro, o que pode ser o paraíso para uns, para outros é o verdadeiro purgatório.
Não é um lugar verde
Em primeiro lugar, eu gosto de natureza. Estar rodeada de áreas verdes é importantíssimo para o meu bem-estar físico e mental. Com exceção de algumas áreas de Nova Iorque, que contam com grandes e verdadeiros parques, como o Central Park ou o Prospect Park, o resto da cidade é repleto de edifícios metálicos e espelhados ou de tijolinho marrom. É um mar de concreto. Jackson Heights, no Queens, foi o último bairro em que morei. São 108 mil habitantes e a área considerada verde era um pequeno parquinho de criança com um gramado do tamanho de uma quadra de basquete. Tem gente que considera o Bryant Park, em Manhattan, um bom parque. Eu só consigo ver um gramado com concreto em volta, nada mais.
O metrô é imundo e funciona mal
O metrô vai para quase todos os cantos, mas a sensação é de estar transitando de trem pelo esgoto da cidade. Há muitos ratos e, em algumas estações, a água marrom dos banheiros serve de pintura para os azulejos, outrora brancos. O cheiro de urina do subterrâneo também faz parte da minha memória olfativa. Já vi um senhor pegar uma garrafa pet, colocar dentro da calça e fazer xixi nela. Depois, pegou o líquido amarelo e guardou numa bolsa, como quem guarda com normalidade uma garrafa térmica. Outro dia, um homem cuspiu em uma das janelas. O cuspe deixou seu rastro como uma tinta que passamos na parede, mas esquecemos de tirar o excesso do pincel. Minutos depois, vi como uma criança corria para ver pela janela e apertava a testa contra o cuspe. Não deu tempo de alertar o pai. Bom, dizem que o contato com bactérias aumenta os anticorpos nas crianças, né? Tem gente que acha o metrô daqui cool (legal). Eu não sou uma delas. A falta de uma política social efetiva para acolher moradores de rua, doentes mentais e dependentes químicos não faz do metrô de Nova Iorque um lugar agradável. Pelo contrário, mostra a falência de uma cidade que não consegue cuidar dos seus.
Os preços são exorbitantes
Tudo é caro. O aluguel de uma quitinete perto do Central Park, por exemplo, custa uns 3 mil dólares por mês. Se quiser pagar menos, precisa sair de Manhattan, mas mesmo assim, não é toda essa Brastemp, não. Em outros bairros, o preço para morar numa casa pouco maior que uma caixa de sapatos não sai por menos de US$ 2 mil dólares. US$ 16 dólares para ir ao cinema? US$ 20 dólares por un drink? Não, obrigada. Comer é caro e nem sempre a comida é boa. Os melhores lugares para se comer, normalmente, são os mais simples e fora de Manhattan.
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Berço de neuróticos
Imagine uma cidade cheia de Woody Allens e Seinfields andando pelas ruas. Bingo! Assim é Nova Iorque. Claro que todos temos, até certo ponto, nossas neuroses, mas em Nova Iorque a concentração é superior. E não sou só eu que digo, não! Um estudo da Universidade de Cambridge, em 2008, mostrou que a cidade era o habitat das pessoas mais neuróticas e antipáticas dos Estados Unidos. A cidade estava no “Cinturão do Estresse” (Stress Belt) e era um exemplo de como os novaiorquinos estão mais propensos a doenças do coração e câncer, a desenvolver ataques de ansiedade e estresse. Existe uma tensão generalizada na cidade e ela é perceptível em crianças também. Aliás, a cidade é incubadora de pequenos neuróticos. É fácil ver crianças com medo de tudo em Nova Iorque.
Plástico onipresente
Se tem uma coisa que me dá nervoso na cidade é a insistência em usar duas bolsas plásticas para tudo. Você vai ao supermercado para comprar uma caixa com 12 ovos e volta com bolsa dupla. Ao perceber esse costume, logo no início, passei a levar minha própria bolsa para evitar esse desperdício.
Lixo onipresente
Nem preciso me alongar neste item. Só passear pelas ruas de Nova Iorque, em qualquer bairro, que você saberá do que estou falando. No inverno, quando neva muito e o caminhão não pode passar, facilmente vemos montanhas de lixo com neve fresca adornando caixas e bolsas plásticas. O melhor acontece quando a neve derrete e você precisa dividir o espaço com lama e lixo nas calçadas.
Excesso de recipientes para tudo
Experimente caminhar na hora do almoço pela cidade. Se você gosta de preservar a natureza, vai ter uma síncope. Todo mundo com um pacote na mão, bolsas e talheres plásticos. Aliás, não só no almoço. Antes de chegar ao trabalho, muitas pessoas compram seus cafés, chás ou sucos em copos descartáveis com canudos plásticos.
O barulho
A trilha sonora de Nova Iorque é a da ambulância e da polícia, 24 horas por dia.
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Poucos dias com temperatura agradável
Em apenas um ou dois meses do ano há temperatura agradável. Ou faz frio glacial ou faz aquele calor de Bangú, o bairro mais quente do Rio de Janeiro.
Times Square
Aconteça o que acontecer, se você estiver morando em Nova Iorque, não passe por Times Square. Claro, isso não conta se você for turista. Todo turista quer visitar Times Square e vale a pena mesmo para conhecer, mas o lugar é o inferno na terra para quem mora aqui. Repleto de gente, turistas, luzes e mais luzes. E, claro, barulho de ambulância e polícia.
Desigualdade social é gritante
Sim, sei que no Brasil também, mas não estamos falando do Brasil nem fazendo comparações com outros lugares. Estou falando de uma das cidades mais ricas do país mais rico do mundo. O estado de Nova Iorque tem o segundo maior número de bilionários do país, só perde para a Califórnia. Mesmo assim, vemos muita pobreza na cidade. Impossível o coração não ficar apertado.
5 Comments
Olá Michelle! Gostei do artigo, muito bom. Realmente existe um abismo que separa morar e visitar Nova York. O que achei muito curioso e – falo isso comparando a região sul dos Estados Unidos – é que eles ainda usam bolsas de plástico. Achava que na Big Apple isso já teria sido banido como aconteceu com Austin no Texas há alguns anos. Eu também amei Washington DC por causa do verde e da diversidade. Tudo de bom pra você em DC. Beijos.
Oi, Alessandra! Pois é, ainda usam bolsa de plástico e aos montes em NY. Chega a me dar desespero! Obrigada pelo seu comentário. Beijinhos e tudo de bom para você também!
Me desculpe mas o comentario eh infeliz e abordando a mediocrity de um ser humano infeliz com esse negativity com certeza o melhor lugar do mundo eh em sua propria casa away from society
Olá, Jeff. Ainda bem que existe liberdade de expressão onde moro e de onde venho, porque é um valor importantíssimo para mim. Ainda bem que existem opiniões diferentes no mundo e é preciso saber respeitá-las sempre. Note que no início do meu artigo eu digo que a lista é subjetiva, ou seja, está baseada nos meus interesses e estágio na vida. Eu não sou obrigada a gostar de Nova Iorque, nem você é obrigada a concordar comigo. Mas é, sim, imprescindível que haja respeito a qualquer ser humano, o que claramente não houve no seu comentário. Em primeiro lugar, você não pode falar que sou infeliz, já que não me conhece nem mora comigo. Em segundo lugar, a palavra mediocridade não está bem empregada no contexto do seu comentário. Em terceiro lugar, tampouco pode falar sobre negatividade na minha personalidade, já que não me conhece, não sabe o que eu fiz na vida nem como vivo. O meu lugar, assim como o seu, não é longe da sociedade. O meu lugar, assim como o seu, é em uma sociedade em que todos se respeitam, onde a discussão é sobre ideias e não ataques pessoais. Sei que é difícil, mas é sempre bom tentar. Tenho certeza que, da próxima vez, você se concentrará em opinar sobre o que pensa de Nova Iorque, de forma educada, para que tenhamos uma discussão bacana. Tenho certeza que, da próxima vez, você listará o que acha interessante de Nova Iorque no seu comentário, coisa que não fez, infelizmente. Aí, sim, tenho certeza que poderemos ter um papo enriquecedor, educado e respeitoso.
Oi Michelle! Concordo plenamente com você quanto às divergências de opiniões, afinal temos todos experiências diferentes, e o mais interessante disso tudo é a troca de ideias respeitosa, com certeza. Não conheço Nova Iorque, mas consigo entender o seu ponto de vista. Ainda mais se considerarmos o fato de você ser uma autêntica carioca (assim como eu), agraciada desde cedo por tantos encantos que a cidade do Rio de Janeiro proporciona, onde a natureza nos acolhe a cada esquina, a cada parque, a cada por do sol, a cada abraço amigo. Onde as pessoas recolhem os lixos para manter as praias limpas, onde as pessoas se ajudam, e sorriem ao dar bom dia a qualquer estranho na rua. Calor humano e natureza. Isso é que temos aqui, apesar de conviver com tantos problemas pertinentes a qualquer cidade cosmopolita. Todavia, admiro a essência urbana da cidade de Nova Iorque à distancia, e quero muito conhecer para opinar com mais propriedade. Parabéns pelo texto, e obrigada por compartilhar a sua percepção de vida em um ambiente público. Beijos!