O mundo fashion em Havana.
Havana, por si só, já é uma cidade fashion. Com seu estilo vintage, com cores, com carros antigos, prédios antigos cheios de rasgos como um jeans, ruas cheias de cenas bucólicas, como por exemplo, no meio de umas das ruas, um caldeirão ferve com fogo de madeira, para preparar caldosa que será servida na festa dos vizinhos. Esse cenário todo, às vezes, me remete a um filme ou a set de fotos. Fico sempre com essa impressão, principalmente quando caminho pelas ruas de Havana velha.
E no meio dessas ruas, encontrei a já bem famosa loja “Clandestina“. Essa loja é um importante ícone fashion dentro de Havana. No meio de tantas lojas típicas de souvenirs que existem em tantas outras cidades turísticas, com seus chaveiros, placas de carros, quadros com partes emblemáticas da cidade, artesanatos em geral, existe uma marca que se faz presente de uma forma bem autêntica e com muita personalidade.
Clandestina merece um destaque por fazer parte de um grande movimento underground, mas nem tanto assim, da cidade de Havana.
É uma marca que traduz ou tenta traduzir como comporta e o que pensa essa nova geração habanera. Ela brinca com todas as questões que envolvem o cotidiano das pessoas dessa ilha, como por exemplo, a falta de inverno, a falta de internet… Mas o que a faz tão interessante é mostrar isso com bastante humor, com muita criatividade e sem vitimismo.
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Clandestina é o reflexo dessa nova geração que é cheia de personalidade, muito criativa, sabe o que quer e arranca com garras de quem quer muito fazer acontecer tudo o que é positivo, e faz piada com as dificuldades da realidade.
Sou fã e invisto comprando muitos presentes para amigos, parentes. Eu me sinto representada por ela por traduzir muito bem esse espírito que além dos cubanos, só quem reside e se aprofunda nesse mundo pode perceber. Como a acompanho através das redes sociais, soube da primeira imersão no mundo fashion das passarelas.
Em uma quinta-feira à noite, cheguei bem cansada do trabalho em minha casa, mas eu não podia deixar de vivenciar isso. Corri para pegar um “almendrón“ (taxi coletivo) e chegar ao museu de Bellas Artes. Assim que cheguei, me deparei com portas fechadas para o público, mas eu persisti. Procurei pela outra entrada que também estava fechada, mas havia possibilidade de ingressar se fosse uma pessoa importante. Avistei um digital influencer cubano chegando com seus amigos, já me identifiquei como seguidora e imprensa para entrar com o grupo. Me misturei e deu certo, consegui entrar. E já fui me colocando em cima de um tablado onde estavam cinegrafistas e fotógrafos, furando uma faixa de segurança e apenas com meu celular fazendo registro de tudo.
Eu como amante da moda, fui a várias fashion weeks em Brasília, São Paulo, Lima… mas essa noite foi bem mais que um desfile de moda. Essa noite foi mais que um momento fashion, foi um novo despertar sobre este meu novo mundo. Consegui enxergar nuances da vida em Cuba que até então não havia me dado conta, por exemplo, o tema do desfile da Clandestina, Um país em construção, me dei conta de quantas construções estão sendo realizadas em todas partes, o quanto a questão de estar e não estar conectado à internet é parte de uma estrutura de vida tão peculiar que a rotina nos faz esquecer ou não pensar sobre isso, que sim se pode realizar tudo na vida se você usa sua criatividade de modo positivo, e as restrições só impede quem se permite ser limitado por ela. Viver isso é um grande aprendizado!
Uma noite mágica com uma entrada de um grande artista que vem se destacando na cena musical local, Cima Funk. Com um ritmo tão vibrante, dançante, os trejeitos e modo de dançar de James Brown. Ao escutar sua música e ver seu talento dançando com uma ginga incrível, era como estar diante de uma grande estrela do mundo. Esse cara ainda vai dar muito o que falar. Eu me senti como se visse uma primeira apresentação de Michael Jackson, é muito forte, uma sensação de ver nascer um astro incrivelmente talentoso que pode deixar seu nome na história.
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Logo após veio uma enxurrada de modelos lindos desfilando como operários de um país em construção, com roupas 100% produzidas com produtos encontrados em Cuba. Uma explosão de criatividade no seu sentido mais aguçado por sapatos envoltos com plástico film, fitas amarelas envoltas nas roupas dos modelos indicando “área restrita“ ou “cuidado estamos em obras“, capacetes de proteção em modelos altamente maquiadas e envoltas com desenhos gráficos que só quem vive a realidade dessa cidade sabe interpretá-los.
Depois de tudo isso logo saí em busca dos responsáveis por essa assombrosa criatividade que me deixou bem impressionada. Estavam todos muito alvoroçados era difícil falar com eles. Fui em busca de onde saiam os modelos, queria muito saber quem são essas pessoas por trás da Clandestina. E o que encontrei foi o símbolo de wifi nas cores do arco-iris como foi mostrado na coleção. Uma diversidade de pessoas, pensamentos e encontros muito felizes de pessoas muito talentosas.
Isso é a clandestina! Isso é a nova Cuba!
Um país que se reinventa o tempo todo e a todo momento, que utiliza da criatividade de seu povo para superar todas as adversidades. Quem nunca ouviu falar do “invento“ cubano nunca viveu em Cuba ou nunca precisou de que algum cubano usasse de seu “invento“ ou criatividade para superar a falta de algo. Isso é tão comum que foi uma das primeiras coisas que notei e fiz a comparação com o jeitinho brasileiro.
E nada menos que o “The New York Times“ publicou como recomendação em uma visita a Cuba, entre cinco lugares, Clandestina é um deles. E o gigante Google também se encantou com o dinossauro, um dos ícones da marca e fez uma parceria. Vale a pena conferir essa nova versão de Havana!