O Prêmio Nobel é uma das marcas registradas mais conhecidas da Suécia. Em dezembro de cada ano é hora de premiar personalidades que se destacam nas ciências, literatura e trabalho pela paz. O prêmio foi criado por Alfred Nobel, o inventor da dinamite. Hoje, o prêmio é conhecido e almejado por muitos, principalmente pelo grande prestígio que traz consigo. Mas como começou tudo realmente?
Alfred Nobel morreu em 1896 e deixou sua fortuna para a criação de um fundo cujos dividendos alimentam o prêmio por ele criado. Em seu testamento, Alfred Nobel deu instruções sobre o gerenciamento de sua herança e o trabalho em prol da ciência, arte e paz, a ser feito em sua memória. A ideia é homenagear pessoas cujo trabalho traz benefícios para a humanidade, seja através da pesquisa ou de ações para promover a paz. Alfred Nobel determinou que a nacionalidade não deveria oferecer barreira para a indicação dos laureados. Sua intenção era premiar as contribuições consideradas mais relevantes.
O prêmio, ou melhor, os prêmios, foram entregues pela primeira vez em 1901. Trata-se de cinco prêmios de igual tamanho para contribuições nas áreas de física, química, medicina, literatura e paz entre os povos. Os quatro primeiros são entregues na Suécia, enquanto que o prêmio da paz é entregue na Noruega. A Suécia e a Noruega viveram um período de união política entre 1814 e 1905. Isso explica porque Nobel quis que um dos prêmios ficasse a cargo de um comitê eleito pelo parlamento norueguês. Os prêmios de física e química estão a cargo da Academia Sueca de Ciências. O prêmio de medicina está a cargo do Instituto Karolinska, e o prêmio de literatura é entregue pela Academia Sueca.
O prêmio de economia, que é conferido na mesma ocasião, não faz parte do testamento de Alfred Nobel. É na verdade um prêmio entregue pelo Banco Central da Suécia em memória de Alfred Nobel. Foi instituído quando o Banco completou trezentos anos em 1968, sendo, portanto, bem mais recente.
A visão inovadora de Alfred Nobel
Alfred Nobel construiu uma carreira de sucesso baseada principalmente na sua principal invenção, a dinamite. O poder explosivo da nitroglicerina já era conhecido, porém o controle da substância era o grande desafio. A dinamite estabilizava a nitroglicerina que então podia ser usada para explosões controladas. Numa época de grande expansão da infraestrutura, por exemplo durante a construção de estradas de ferro na Europa, a invenção de Alfred Nobel teve um grande impacto positivo.
Quanto aos riscos de uso indevido, Alfred Nobel acreditava que o poder destruidor de sua invenção serviria para desencorajar seu uso em outros contextos. Sendo assim, sua invenção contribuiria também para garantir a paz entre os povos. Mas seria isso verdade? O poder destruidor da bomba atômica não impediu o seu uso na Segunda Guerra Mundial!
De qualquer forma, a história de Alfred Nobel fascina tanto por sua capacidade inovadora quanto pelo sucesso que seu trabalho alcançou. Sua história nos faz refletir sobre o papel da ciência e da inovação na sociedade. Nos lembra que a ciência pode mudar nossa maneira de ver o mundo, e a inovação pode mudar a sociedade. Hoje vemos como a digitalização vem transformando o mundo, por exemplo. No entanto, é importante também refletirmos sobre os impactos negativos que determinadas inovações podem causar. Essa discussão é bem atual já que vivemos um momento com tantos desafios, ao mesmo tempo que movimentos sociais e políticos questionam a ciência e ameaçam conquistas de muitas décadas. O Prêmio Nobel ajuda a manter viva a discussão sobre o valor da ciência para a humanidade.
Controvérsias
Apesar de seu prestígio e simbologia, o Prêmio Nobel é muitas vezes envolto em controvérsias. Uma delas foi quando o cantor Bob Dylan foi laureado com o Prêmio Nobel de literatura em 2016. Muitos questionaram o fato de um prêmio de literatura ser dado a um músico, enquanto outros apoiaram a interpretação inovadora da Academia Sueca quanto às intenções de Alfred Nobel.
Mas há controvérsias maiores. Quando Liu Xiaobo ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2010, o governo chinês interpretou a nomeação como uma provocação, e não permitiu que ninguém o representasse para receber o prêmio em Oslo. As relações políticas entre os governos da China e Noruega foram abaladas. Xiaobo era ativista político e defensor dos direitos humanos, e lutava pela democracia na China. Ele estava preso quando foi laureado e faleceu esse ano após deixar a prisão por motivos de saúde.
Mais um chinês será laureado esse ano. Dessa vez é o escritor Mo Yan que ganhará o prêmio Nobel de literatura. Mo Yan é na verdade o pseudônimo de Guan Moye e significa “não falar”. A escolha do pseudônimo dá talvez uma idéia sobre a posição do autor.
Um outro ponto de discussão é o fato de que poucas mulheres tenham sido laureadas. Marie Curie foi a primeira mulher a ganhar o prêmio de física em 1903. Ela ganhou um segundo Prêmio Nobel em química em 1911. Mas existem casos em que as mulheres, embora detentoras da descoberta científica, foram ignoradas e o prêmio foi dado a homens no mesmo grupo de trabalho. Hoje discute-se desde as condições para mulheres na ciência, discriminação e o processo estabelecido para nomeações, o que pode explicar porque muitas mulheres talentosas ficam de fora da lista de prêmios.
O espírito vivo da ciência, empreendedorismo e busca pela paz
Alfred Nobel foi um cientista brilhante, mas também um empresário que soube gerar valor com as suas descobertas. Ainda hoje muitos inventores e cientistas não estão preparados ou não têm as condições necessárias para disseminar os resultados de sua contribuição científica. Por isso mesmo, muitos governos têm trabalhado para promover a inovação, facilitando o processo de transformação do conhecimento em produtos e serviços para o mercado. Nesse contexto, o espírito de Nobel continua vivo na Suécia, considerada uma das nações mais inovadoras do mundo (The Global Innovation Index 2016).
Nos últimos anos, a Fundação Nobel tem organizado o Nobel Prize Dialogue que reúne laureados e líderes para discussões sobre desafios e conquistas da ciência. Esses diálogos são organizados em diversos países alternadamente, mas também na Suécia, um dia antes da entrega do prêmio. Em 2013, tive a oportunidade de participar em alguns debates, incluindo um diálogo que tivemos em São Paulo e uma discussão com vários laureados no tema energia, mudança climática e sustentabilidade em Gotemburgo (Balancing energy demand with sustainability?). Esse ano o tema do diálogo é O Futuro da Verdade (The Future of Truth), um tema bem atual já que resultados científicos vêm sendo amplamente questionados.
E o Brasil? Por que nunca ganhou um Prêmio Nobel? Para responder, precisamos pensar nas condições que criamos para o desenvolvimento da ciência no país. Caso contrário, continuaremos perdendo oportunidades de liderar tanto na ciência como na literatura. Nesse momento, os cientistas brasileiros estão enviando um alerta. Não podemos deixar morrer a ciência no país pois, sem ela, não poderemos preservar ou transformar as riquezas do país de forma sustentável. Sem ciência, perderemos a chance de liderar na busca de soluções para os problemas da quarta revolução industrial que estaremos vivenciando nas próximas décadas. Sem ciência, não poderemos, enfim, nos juntar ao banco dos laureados do Prêmio Nobel.
2 Comments
Infelizmente o prêmio também é movido por razões políticas. O brasileiro Carlos Chagas, que descreveu a doença que leva seu nome até hoje, descobriu o parasita causador, o vetor e o ciclo de vida, feitos que nunca foram feitos por uma pessoa só, foi considerado para o prêmio Nobel mas não levou por ser brasileiro e latino americano…. Watson e Crick levaram pela descrição da estrutura do DNA, mas a mulher cientista que fez os experimentos e descobriu a dupla hélice foi ignorada na publicação e nos prêmios subsequentes…
Cláudia, obrigada pelo comentário. Sim, muitas injustiças foram e são cometidas… Também perdemos a chance de um premio com Jorge Amado… A estrutura de nomeação do prêmio tem sido sempre discutida. Para que ele consiga se manter como uma importante referência, é preciso renovar a estrutura das nomeações.