Imagine um dia de neve novinha, fofa como uma espuma. Sim, a primeira neve é linda e tudo ao redor fica branquinho. Com o ar mais seco e maior reflexo de luz, o dia parece convidar para uma caminhada ao ar livre. Como dizia o cineasta Ingmar Bergman, “o diabo não gosta de ar puro“. Então, sair, respirar ar puro e se exercitar, é o passo número um para o bem-estar no inverno na Suécia. Sobre como vencer a escuridão, eu escrevi no mês passado.
Hoje vou falar um pouco sobre como a cidade é administrada para que continue a funcionar mesmo com a neve. Depois daquela sensação boa de ver a neve caindo e embelezando os jardins e as árvores, chegam os tratores limpando a neve para que as ruas e os passeios continuem transitáveis. Eles jogam um cascalho fino e sal para aumentar o atrito e diminuir a derrapagem. Isso aumenta a segurança para todos, motoristas e pedestres. As cidades fazem a limpeza da neve nas ruas, pistas de bicicleta e áreas de maior trânsito. Nas áreas residenciais, os proprietários têm a mesma responsabilidade.
Após alguns dias com neve, a temperatura pode ás vezes subir, derretendo totalmente ou em parte a cobertura de neve. As ruas e passeios ficam molhados e sujos devido à lama que se forma com a neve derretida, o cascalho e o sal. Imagine agora que começa a chover também. Que combinação! Mas o difícil está por vir. Se a temperatura abaixa novamente e a lama e as poças d’água viram gelo, ficam escorregadias e todo o cuidado é pouco. Pior ainda é quando neva outra vez e a neve cobre o gelo. Então você não sabe realmente onde se encontram aquelas pequenas pistas de gelo, que são verdadeiras ciladas.
Durante o inverno os carros usam pneus de inverno. Esses têm um perfil mais profundo na borracha e podem também ter pregos para aumentar o atrito com a pavimentação. É obrigatória a troca de pneus no inverno para garantir a segurança de todos. Em regiões onde há muita neve, os motoristas costumam preferir um pneu com pregos para maior aderência. Mas em algumas cidades há ruas onde não se pode passar com esses pneus. Isso porque eles aumentam muito a fricção com o asfalto e geram partículas que, por sua vez, podem causar doenças pulmonares. Em estradas de regiões mais frias onde cai muita neve, pode ser necessário colocar correntes em torno dos pneus para não ficar preso no caminho.
Os pedestres precisam ter cautela. Neve nova em cima do gelo exige atenção dobrada. Pode ser também que depois de muitos passarem pelo mesmo caminho, a neve fique muito compactada e acabe virando um pedaço de gelo escorregadio. A cautela vale para todos, não apenas para os idosos. As grávidas devem ter cuidado dobrado. Afinal, com o barrigão, o seu ponto de gravidade muda e isso afeta seu equilíbrio. Nós que não crescemos nesse contexto, não temos uma reação intuitiva e clara sobre como nos prevenir. O que fazer?
A primeira coisa é usar o calçado adequado. Solas lisas não vão dar conta do recado. Sabe aquele All Star Converse lisinho em baixo? Guarde para a primavera ou o verão quando a neve for embora. Você precisa de uma sola que funcione como o pneu dos carros. Portanto, prefira uma bota com uma sola com perfil que sirva para aumentar a fricção do seu pé com o chão. Aquela que você trouxe do Brasil provavelmente não vai servir pois o tipo de material também tem influência na aderência. Os calçados apropriados podem ter toda a sola antiderrapante, mas o mais importante é que a região do calcanhar tenha essa proteção. Algumas pessoas usam bastões para apoio como aquele que usamos para esquiar. Mas não é muito comum a não ser que estejam fazendo uma caminhada para exercício.
Evite salto. Aquele caminhado elegante com salto tampouco funciona. Você deve dar passos curtos, tentar colocar todo o pé no chão a cada passo para aumentar a área em contato com o chão, e assim também a fricção. O sapato lindo de dança, você leva em uma bolsa ou sacola para trocar quando chegar na festa.
O caminhar também deve ser diferenciado. O mais certo é tentar caminhar como um pinguim! A lógica do pinguim funciona. Ele dá passos pequenos e coloca o pé inteiro a cada passo. Presta atenção em como movimenta a massa do seu corpo. Ele costuma também abrir um pouco o pé para fora de forma a superfície de apoio. Mas o segredo está mesmo no ponto de gravidade. O pinguim mantém seu ponto de gravidade acima das suas pernas colocando o corpo um pouco mais para frente para evitar escorregar. Não dá a mão para ninguém!
Na verdade, muita gente cai e se machuca no inverno. Em um dia como o que descrevi acima, o número de pessoas que acabam no hospital aumenta de forma significativa. Todos os anos, aproximadamente 25 mil pessoas procuram o hospital por ter escorregado no gelo ou na neve, muitas delas com fraturas. Dessas, 40% caem nas ruas e passeios. Muitos caem em suas próprias propriedades ou em sua área residencial. Calcula-se que, com as devidas precauções, você pode diminuir o risco de cair em pelo menos 30%.
É bom também dobrar um pouco os joelhos. É como uma marchinha. Não se arrisque. Ponha o calçado de inverno e vá segura, sem pressa. O melhor é caminhar independente para poder ajustar o equilíbrio caso seja necessário… elegante como um pinguim!
Aqui vão os conselhos dos especialistas:
- Use o calçado adequado ou coloque um anti-derrapante no seu sapato;
- Dê passos menores do que o normal;
- Dobre um pouco os joelhos e se incline um pouco para a frente;
- Tente baixar seu ponto de gravidade;
- Tente colocar todo o pé em contato com o chão a cada passo;
- Faça exercícios para melhorar o seu equilíbrio;
- Caminhe sem pressa;
- Tenha cuidado ao começar a andar ou mudar de velocidade – é comum escorregar exatamente nesses momentos.
Lugares que costumam ser mais escorregadios na época do inverno:
- Áreas inclinadas ou no limite entre o passeio e a faixa de pedestre;
- As linhas brancas da faixa de pedestre;
- Tampas de bueiro;
- Áreas na entrada de lojas, cobertas por lajotas ou superfícies mais lisas;
- Pontes sobre riachos.
4 Comments
ótimas dicas, Semida.. este ano comprei as botas de inverno já com a protecao de escorrego inbutida. saiu caro mas foi o melhor que fiz.. este inverno ainda nao levei aquele escorregao básico.
Verônica. Sim, vale a pena. Aposto que você está tendo oportunidade de usar suas novas botas esses dias…
Adorei seu texto deveria ter lido ano passado antes das minhas férias, fizemos uma caminhada na região da Dolomitas na Itália, e não consegui subir até Três Picos porque não me adaptei ao calçado com grampos para o gelo, exatamente como vc falou, passos pequenos, equilíbrios, ….
Obrigado Semida.
Artigos muito esclarecedores, leves, simpáticos.
Algum dia, no futuro, estarei por aí.
Prazer em conhecer.
Abraço.