A Bélgica é um país único, pequeno em território grande em cultura, com localização geográfica
estratégica, capital política e com grande número de estrangeiros.
Depois de 12 anos morando em Bruxelas e convivendo principalmente com a parte francófona,
compartilho com vocês minhas visões e aprendizados:
1. O clima é “psicológico”
Na Bélgica chove e chove muito! Quando não chove pode-se perceber o nível de umidade no ar em todas as suas formas, inclusive a de brumas e neblina. Ao longo desses anos, aprendi que “não tem tempo ruim, tem roupa ruim”! Ditado sueco que incorporei no contexto belga para garantir a “sobrevivência” diária. Ok, não dá para mudar os fatos, mas dá para mudar a nossa maneira de ver e interpretar os fatos. Do mesmo jeito que dá para olhar para o céu cinza e ficar reclamando pelo o que não está sob o nosso controle, também dá para fazer um “reframe” e se dizer que é apenas uma questão de roupas adequadas e que isso, pelo menos, está sob o nosso controle.
Aprendizado: Investir em boas roupas e sapatos resistentes à umidade e fazer qualquer atividade
que esteja prevista apesar de…
2. O domingo é literalmente dia de “descanso”
A maioria do comércio não abre aos domingos (exceto lojas do centro turístico). As lojas ficam
abertas até as 18:00, supermercado para a nossa sorte vai até as 20:00 (ufa). Para quem trabalha
durante o horário comercial, que é o caso de uma grande parte da população senão o país vai à
falência, vai ter que fazer suas compras no sábado, situação às vezes estressante. No domingo,
digamos que a pessoa vai ser obrigada a descansar ou fazer alguma outra atividade dedicada a si
mesmo, a família, ou o que quiser menos comprar! Para quem vem de São Paulo, do ritmo
aceleradíssimo de vida e está acostumado com os serviços 24 horas e é sociável, isso pode ser um pesadelo, tive muita resistência para aceitar essa idéia nos primeiros anos, hoje acho ótimo. Será resquício do catolicismo ou da super influência dos sindicados que protegem os funcionários? Que seja eterno enquanto dure!
Aprendizado: Desacelerar é bom e necessário.
3. O verão é sagrado
No primeiro ano que cheguei aqui, estávamos reformando uma casa que meu marido já tinha e eu acompanhava a obra. O verão estava quase se aproximando e ainda não tínhamos terminado. Foi quando o empreiteiro anunciou que tiraria 1 mês inteiro para as de férias de verão e que não ia dar tempo de terminar a obra antes: fiquei indignadíssima! Como assim? Não vai trabalhar só porque é verão ou porque está calor? Não precisou muito tempo para eu entender que depois de passar 1 ano aqui o meu verão também seria sagrado, é o momento de aproveitar o tempo ao ar livre, de ver o céu azul (quando tem), de convidar os amigos, etc. até o humor das pessoas mudam, elas ficam mais sorridentes, mais abertas e é maravilhoso de se viver.
Aprendizado: Valorizar os dias de sol e calor.
4. Autonomia vem do berço e faz parte do sistema
O estímulo à autonomia vem desde a creche aqui na Bélgica. A partir do momento em que a criança entra na creche normalmente a partir dos três meses (o caso da maioria das pessoas que tem filhos) os pais são “educados” a colaborarem gentilmente com o sistema e estimular o máximo as crianças em casa a terem certa autonomia correspondente a idade da criança. Com 1 ano eles têm que comer sozinhos e assim por diante. A escola dá continuidade, com 2 anos e meio além de já ter que estar sem fraldas tem que saber se vestir e se calçar sozinho etc. E se os pais não colaboram, eles vão levar uma ligeira chamada dos educadores. Não é raro que as crianças tomem gosto em fazer as coisas sozinhas e alguns deixam o ninho aos 18 anos.
Aprendizado: A autonomia das crianças permite que os pais continuem produtivos e favorece o sistema de uma maneira geral.
5. Os profissionais trilíngues são os mais procurados do mercado
E os bilíngues são os segundo mais procurados. A Bélgica é um país aonde o nível de educação das
pessoas é relativamente elevado, Goedemorgen, Bonjour, Good Morning é o mínimo esperado dos
profissionais nas grandes empresas internacionais principalmente as situadas em Bruxelas, única
região bilíngue francês/neerlandês. As exceções são os profissionais que trabalham para a Comissão Européia ou Instituições Européias (que tem seu próprio modo de funcionamento normalmente em inglês) e dos profissionais transferidos por empresas aonde a língua de trabalho também é o inglês. O mercado de trabalho é relativamente dinâmico, há bastante oferta para esse perfil de “procurados” e é fato que as exigências linguísticas podem ser uma barreira para muita gente (não é a única, ainda tem a questão de equivalência de diplomas para profissionais estrangeiros).
Do meu ponto de vista e experiência, essa característica faz parte das riquezas da Bélgica e pode vivida como uma “dor” ou uma “delícia” depende da perspectiva.
Aprendizado: Aceitar essa realidade, para quem quer viver aqui a longo prazo e quer se integrar na
sociedade local, é o primeiro passo para se orientar profissionalmente e se qualificar de acordo com os seus objetivos e poder ter liberdade de escolha.
6. A Bélgica é filha de um “casamento misto”
No momento em que escrevo esse texto, a Bélgica tem 188 anos, comparada com outros países
europeus ela é relativamente nova. Fruto de algum acordo entre a Holanda, a França, a Alemanha e a Inglaterra ela é geograficamente um território neutro entre esses países. Do meu ponto de vista é como se a Bélgica fosse uma “filha” nascida na Holanda de um pai holandês, mãe francesa, avô alemão e por aí vai, como tantos filhos de casais mistos que vemos na atualidade, inclusive os meus filhos! Como todo casamento misto, existe a cultura da origem do pai, a cultura da origem da mãe, além da língua de cada um dos pais. A criança vai crescendo sob essas influências, filtrando algumas coisas, se revoltando contra outras e se identificando mais com uma cultura do que outra, fazendo as suas escolhas e se definindo.
Aprendizado: Ver sob esse prisma ajuda a entender os constantes conflitos políticos num país tão
pequeno.
Continuarei as minhas visões e aprendizagens no próximo artigo.
Até lá!
12 Comments
Gina, parabéns! Gostei muito do seu artigo . Uma pincelada dos grandes valores da Bélgica ajuda qualquer um q esteja pensando ir p Bélgica. Grande ajuda até mesmo p quem queira só saber sobre a cuna das nações unidas. Muito bom!
Que bom que você gostou!
Gina querida, parabens pelo artigo! Eu, que estou um pouauinho mais tempo aqui, concordo em genero e numero com o conteudo. Sucesso nessa nova empreitada!
Olá Eveline, você é uma grande referência para mim, com tantos anos de vida na Bélgica. Obrigada pelo seu comentário!
Muito bonito como você escreve!
Livre leve! Parabéns!
Olá Neide, que bom que você gostou! O artigo continua no mês com mais 6 tópicos. Abraço!
Arrasou Gina! Resumiu muito bem o sentimento. Parabéns.
Obrigada pelo comentário!
Oi Gina!
Excelente o seu texto. Parabéns!
Estou planejando me mudar para Bruxelas. Você saberia me dar maiores sobre como funciona a equivalência de diploma?
Obrigada,
Abraço!
Olá Bárbara, obrigada pelo comentário. Legal que você está planejando vir para Bruxelas. Para a equivalência de diploma pode-se fazer em francês ou em neerlandês dependendo da sua preferência, esse site belgium.be tem todas as informações. É bom entrar em contato com eles para saber quais são os documentos necessários de acordo com a sua área para que você possa pedir as cópias na sua faculdade e já vir do Brasil com todos os documentos como: currículo escolar, conteúdo programático (o meu tinha quase 500 páginas), diploma, comprovante de estágios etc. Para arquitetura eles pediam também um resumo de 10 páginas do TGI. Espero ter ajudado e desejo sucesso com esse projeto!
Gina!! Parabens!!! Otimo artigo… Uma delicia de ler!! Que voce tenha cada vez mais sucesso!! Um beijo grande!!
Oi Camila, obrigada! Que bom que você gostou e sucesso pra você também!