O que as algas do Caribe têm m a ver com o Brasil?
Você aí que que programou sua tão sonhada viagem para o Caribe, ou para Cancún, ou para Miami, ou para as Bahamas, ou para Punta Cana, ou para Cuba, pense que todo ser vivente no nosso planeta está totalmente interligado. O que se faz aí tem consequências aqui. Então, aquela praia com mar azul turquesa pode estar marrom e a areia cheia de algas em estado de putrefação com cheiro de gente morta. Como consequência de algo feito bem longe dali.
Como imigrante sentimos essa conexão real que o mundo é um só e que todos pertencemos a ele. E, assim, é necessário cuidar da sua própria casa porque isso poderá afetá-lo, afetar os vizinhos e também o seu lazer.
Quem nunca foi à praia, ao parque, ao cinema e ficou chateado e se incomodou porque viu seu espaço invadido por tanto lixo. É uma retórica comum nos dias de hoje , infelizmente. Estamos nos afogando em nosso próprio lixo.
Leia também: O Brasil em Cuba: uma permuta de arte e amor
As nossas atitudes em relação ao meio ambiente tem repercussão imediata. Já não temos mais tempo de negar a mudança climática e ignorar os danos causados ao planeta. Não há mais tempo para a negação. Está palpável, visível.
Estava lendo uma matéria da AFP (Agency France Presse) em que dizia o título ¨A nova norma¨. Um especialista chamado ¨Doutor Praia¨, Leatherman, explica sobre um fenômeno que se vê nas praias de toda região das Bahamas até o Atlântico Norte. Toda costa está tomada de algas que cresceram absurdamente. E essas algas mudam a cor do mar para marrom e enchem as areias. A decomposição das algas na areia polui o ar com um cheiro terrível. Além de matar peixes por absorver o oxigênio da agua, asfixia os corais, e impede a volta de tartarugas recém saídas do ninho ao mar. Tem consequências ambientais e econômicas. E tudo isso por causa do desflorestamento da Amazônia para o agronegócio. Os fertilizantes usados na agricultura vão parar na boca do Rio Amazonas pela ação das chuvas, e do rio vai para o Atlântico, onde promovem o crescimento desordenado de algas.
Ontem estive na praia, chama-se Santa Maria, tá pertinho de Havana. Eu adoro praia e graças a Deus este final de semana não choveu.
Aqui um verão com calor escaldante, férias dos cubanos em geral, praia cheia. Mas por indicação de alguns amigos descobrimos um pedacinho do paraíso, bem mais tranquilo, e escondidinho do agito, fora da concentração de grande parte dos banhistas habaneiros.
Meu pedacinho do paraíso, lugar quase exclusivo, estava lá com um sol lindo, um mar tranquilo como uma piscina e de cor azul turquesa. Já corri pra me organizar, deixar as coisas e ser feliz no mar. Igual criança com doce. Ao chegar na beirinha do mar, demarcando meu território, um tanto de plástico, lata de cerveja e algas tiravam o brilho daquele lugar. Para minha sorte e felicidade não havia tanto para tirar a beleza desse paraíso mas estava ali incomodando. Como uma arranhão na pele que a água do mar faz arder. Nada muito sério mas faz lembrar a todo instante. Como chegar em casa louco para descansar e encontrar a casa suja. Você pode até ignorar, mas nunca vai se sentir tão à vontade como para descansar sem pensar nisso. Como uma tarefa que não foi feita ou um texto que ainda não foi escrito. Um problema que ignoramos mas está ali nos lembrado todo tempo.
Na minha praia, de água cristalina e quente, também chegou as algas fertilizadas do rio Amazonas, mas não está tão comprometida como outras regiões do México , República Dominicana, Bahamas, Flórida… Mas está ali umas tantas perdidas, nos fazendo lembrar que o planeta é um só e que é de todos nós. Aqui em Cuba não existe o caos que está nas praias em outros países, mas não quer dizer que está livre do problema.
Imagina, você ter tudo pago para realizar um sonho de conhecer o Caribe, querer tirar muitas fotos para suas redes sociais, e encontra uma praia de cor marrom e fedendo a gente morta, cheia de alga em decomposição na areia. É como tomar banho em um lixão. E o que você tem a ver com isso? Tudo!
Leia também: Dicas para viajar por Cuba
Nossas atitudes com o meio ambiente, nosso voto nas eleições, nosso consumo, tudo tem a ver com as algas nas praias paradisíacas do Caribe e região.
É preciso sentir esse peso da responsabilidade de cada um, porque para fazer aqueles fotos lindas para o Instagram, precisamos do planeta, da natureza, e de sua conscientização.
O mundo é um só e todos nós temos uma só casa, que é o planeta Terra.
Os cubanos precisam aprender sobre preservar suas praias sem lixo assim como um italiano, um indonésio, um americano… Assim como seus governantes, e também os empresários têm que respeitar as leis ambientais e promover economias sustentáveis.
E precisamos entender que as decisões que se tomam em qualquer parte do mundo em relação ao usufruto de recursos naturais têm reação em cadeia. Nada que se faz em um país está livre de efeitos para qualquer outro. A mudança climática existe para nos dar a humildade que necessitamos para despertar para uma vida mais sustentável.
Devemos repensar sobre nosso consumismo predatório. Mas você pode me dizer: você está em Cuba, é fácil dizer sobre consumo consciente se você vive em país socialista, fechado ao mercado, livre das tentações de compras. Pode ser isso que me fez repensar o meu consumo, estar longe do capitalismo.
E enquanto isso, levo sempre a tiracolo minha sacola de recolher lixo para limpar meu pedacinho do paraíso em Cuba. Minha praia, o meu lugar que escolhi para ser meu pedacinho de lar, extensão da minha casa, e a cara da Vivi dentro de Havana. Todo cidadão pode ter um cantinho no mundo, fora do seu país, como extensão de seu lar. Nossa casa é mais que simplesmente a casa propriamente dita. Abra suas asas.