O que não se deve fazer na Áustria?
Caras e caros, nesse artigo tentarei fazer um apanhado de algumas situações que seriam consideradas gafe, caso cometidas em frente a um nativo da Terra de Mozart. Esse é, portanto, uma espécie de breve manual do que não se fazer na Áustria.
Vamos lá!
1 – Dizer que austríacos e alemães são ” tudo a mesma coisa”:
Essa é a primeira – e talvez mais valiosa – dica que deixo. Jamais compare um austríaco com um alemão, porque, de verdade, eles só tem a língua e o raciocínio germânico em comum. Para que se bem compreenda, seria o mesmo dizer que brasileiros e portugueses são “tudo a mesma coisa”.
Evite fazer comentários do tipo “a Áustria é um quintal da Alemanha” – muito já ouvi, quando ainda morava no Brasil, e as pessoas ficavam sabendo que eu estava namorando um austríaco -, mesmo que seja “brincadeira”. Cada um desses 2 povos têm sua identidade, sua história própria, sua cultura própria, suas divergências e merecem que sejam, exatamente assim, respeitadas. Não estou dizendo aqui que um é melhor que o outro, isso seria uma ignorância e uma falta de respeito com ambas nacionalidades. O que informo, apenas, é que os austríacos não se sentem confortáveis com esse tipo de comentário.
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2 – Evite falar em tom alto, mesmo que em locais públicos:
Austríacos são reservados e nada barulhentos. Nem mesmo crianças de colégio, quando fazem passeios em lugares públicos, gritam ou se exaltam em demasia. A efusão – corriqueiramente latina -, de se encontrar conhecidos ou amigos e gritar boas vindas, conversar alto em bares ou mesmo nas ruas, como fazemos no Brasil, é algo impensável de ser replicado pelos nativos daqui. São culturas diversas e – novamente – não estou dizendo que uma é mais “bonita” que a outra. São simplesmente diferentes.
Como mãe latina, já me peguei várias vezes, gritando pelo nome do meu filho pela rua a fim de que venha até mim. Isso até acontece nas pracinhas, onde há uma enorme concentração de crianças e mães, mas por impertinência, esqueço e faço isso na casa das minhas amigas, nas repartições públicas, em ambientes onde – por etiqueta – se levanta, se vai até a criança e se diz o que se deseja. Nunca vi uma mãe austríaca vir a minha casa, seu filho ir brincar com meu filho no quarto e ela gritar o nome dele para irem embora. Nunca. Eu já fiz mais de uma vez, mas agora, depois de muitos anos vivendo aqui, aprendi que não é adequado.
Trago mais uma situação: ao final da missa, na Catedral de Viena – onde milhares de fiéis a assistem aos domingos -, percebi haver pessoas próximas a mim, falando em português. Quando vi, estávamos todas gritando – sem perceber e sem ter sido feito de propósito – e rindo. O santo ofício já havia acabado, as pessoas já estavam se deslocando para a porta de saída e, como nos finais de missa na minha paróquia em Porto Alegre, resolvi me empolgar na conversa, feliz por haver encontrado conterrâneas. De repente, ouvimos um estrondoso “Shhhhhhhhhh. Silêncio por favor!” Era um diácono, que estava recolhendo os livretos de cantos e passou por nós. Ali compreendi que, mesmo não havendo ninguém a ouvir nosso diálogo efusivo, falar em volume mais alto é algo intolerável. De igual sorte, estávamos na casa de Deus, e, na Áustria, se fala ainda mais baixinho dentro da casa de Deus do que na rua.
O que descrevo não significa que os austríacos não falem alto. Eles falam, mas o nosso “alto”, em comparação com o deles, já é considerado demasiado.
Do dia da missa em diante, liguei o “simancol” em modo turbo, porque passei a perceber apenas a minha voz ecoar pelos recintos, o que também não foi lá muito agradável.
3 – Não pergunte se a Áustria é a “terra dos cangurus”:
Parece algo bastante óbvio, mas as pessoas confundem Áustria com Austrália muito, mas muito frequentemente. É tão “normal” a confusão que, nas lojas de souvenirs, há camisetas com os dizeres “No. We don´t have kangaroos” (Não. Nós não temos cangurus).
Apenas a grafia da primeira sílaba coloca os dois países em semelhança, mas lembre-se: Áustria fica na Europa; Austrália, na Oceania. São continentes totalmente diferentes e muito distantes.
4 – Se você for convidado para uma festa, chegue no horário marcado e se prometer algo, faça:
As pessoas e os compromissos, aqui na Áustria, costumam ser pontuais. Se você for convidado para qualquer festa privada (aniversários ou reuniões em casas de amigos, por exemplo), faça todo o esforço para chegar no horário informado. E, se houver alguma necessidade de atraso, avise. Sob hipótese alguma, chegue – sem aviso prévio – uma hora após o registrado no convite. Isso é não é bem visto, pois as pessoas tomaram tempo para preparar uma reunião agradável para você e para os demais convidados. O que para nós, brasileiros, é encarado como normal, para os austríacos, atrasar-se tanto, dessa forma, é entendido como desdém ou pouco caso. Evite! O mesmo raciocínio vale para as promessas que você fizer. Se você se comprometer a fazer algo, faça ou avise o motivo de não poder fazê-lo. Não tenha medo de dizer que não pode. O que fica feio é dizer que consegue tal coisa e, chegar na hora, não fazer e nem avisar.
5 – Não chegue de surpresa para visitar as pessoas:
Os nativos são reservados, mas quando se abrem a amizades, são muito hospitaleiros, todavia, isso não significa que, porque você fez amizade, pode chegar – sem combinação prévia – “chegando” na casa das pessoas a hora que quiser. Isso é encarado como extrema falta de consideração.
O austríaco costuma ser muito organizado e tem seu tempo bem cronometrado para todas as suas atividades diárias. Uma chegada abrupta pode ser compreendida como invasão de privacidade. Já vi um irmão irritado com o outro, porque esse chegou para “visitar” sem um mísero telefonema prévio. Já vi nora irritada com sogra, porque a sogra chegou, de última hora, sem nenhum aviso para “tomar um café”. Novamente: para nossa cultura brasileira, se você tem muita intimidade com a pessoa, até se releva uma surpresa nesse nível. Não vemos com tanto incômodo. Aqui, é o contrário e, se ocorrer mais de uma vez, pode lhe render a fama de inconveniente. Fique esperta!
O que deixo de mais significante, além das dicas acima, é o convite a sempre observar o ambiente onde se está vivendo e as pessoas com quem se convive. E nunca esquecer que nós somos “as estranhas no ninho”, quando estamos em outro país e tentar impor a forma como conhecemos as coisas no Brasil nem sempre dá certo em outras culturas.
Até a próxima!