O que tenho aprendido residindo em ecovilas na Europa – Parte 2.
A cada nova experiência, eu comprovo o quanto a vida em comunidade é um amplo universo a ser explorado.
No primeiro texto sobre o tema, fiz uma breve contextualização introduzindo a origem e o significado de ecovila, como começou este meu desejo pessoal de explorar e viver em comunidades sustentáveis e o que tenho aprendido residindo há mais de um ano em diferentes ecovilas da Europa.
Já no segundo texto, que intitulei como “Parte 1”, provoquei algumas reflexões e compartilhei experiências e aprendizados significativos na comunidade escocesa Fundação Findhorn, que é a principal referência para o meu projeto de volta ao mundo em benefício da Educação e Sustentabilidade.
Nesta “Parte 2”, destaco mais três comunidades que me inspiraram e estão entre as Top 5 na minha lista de recomendações:
Andelssamfundet – Dinamarca
São 130 famílias, divididas em oito grupos, equilibrando liberdade pessoal e vivência em comunidade. Desde 1992, têm a generosidade como um dos valores e desenvolvem condições para aumentar o senso de comunidade entre pessoas de diferentes idades, origens e formações. Há muitas crianças na ecovila que podem brincar livremente na região e também ajudar nas atividades.
A responsabilidade compartilhada e a participação mútua no trabalho são necessidades para o bem-estar de todos. A maioria das atividades opera em uma economia parcialmente compartilhada reconhecendo todo o trabalho com igualdade. O mercado ecológico realizado anualmente é um grande exemplo deste trabalho em conjunto.
Possui uma padaria local e uma loja de produtos usados (segunda mão), ambas inclusivas, cuja maior parte da equipe é composta por pessoas com algum tipo de deficiência mental – fruto da parceria com o projeto Vimby.
A minha colaboração como primeira voluntária, entre os meses de agosto e setembro de 2017, inspirou a comunidade a criar um programa oficial para receber voluntários internacionais e compartilhar suas experiências através da economia colaborativa.
Aqui eu conto em detalhes como foi esta experiência ímpar e mostro algumas fotos das principais atividades e aprendizados na prática.
Principal diferencial: Sustentabilidade.
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Schweibenalp – Suíça
Apesar do clima frio dos Alpes, me senti em casa neste lugar cuja energia é indescritível!
Passei dois meses do inverno europeu na ecovila, incluindo as festas de fim de ano. Foi o meu primeiro Natal longe da família onde aprendi que é possível celebrar esta data tão especial em comunhão com representantes de diferentes nações (curiosidades e fotos sobre esta linda festa suíça podem ser encontradas neste post).
O Centro de Unidade Schweibenalp foi fundado em 1982 sob orientação do professor indiano Sri Haidakhan Baba como uma comunidade multicultural no caminho da realização da Verdade, Simplicidade, Amor e da experiência da Unidade. É um lugar onde as religiões e culturas tradicionais encontram uma nova religião: a do coração.
Como comunidade de vida e trabalho, em uma antiga casa centenária, possui uma média de 30 membros e uma diversidade de voluntários – cujo desenvolvimento pessoal é incentivado através de diferentes atividades coletivas semanais.
Integra a Rede Global de Ecovilas sendo um dos modelos emergentes para a transformação cultural holística, praticando um estilo de vida consciente nos aspectos ecológico, econômico, social e espiritual.
Todas as manhãs a comunidade se reúne antes de começar as atividades diárias para compartilhar experiências, cantar, meditar ou pedir alguma ajuda especial. O apoio mútuo e a inteligência coletiva contribui para a superação dos desafios e a resolução de eventuais conflitos.
Principal diferencial: Espiritualidade.
Braziers Park – Inglaterra
É uma comunidade e escola de pesquisa social e integrativa, fundada em 1950 em meio a um tesouro arquitetônico escondido no interior do sul de Oxfordshire, para pessoas que desejam entender o seu lugar na natureza e discutir aspectos sociais e éticos visando o desenvolvimento pessoal e coletivo.
É uma experiência consciente de como viver juntos. Foi fundada para explorar como um grupo poderia desenvolver relacionamentos mais harmoniosos e estruturas coletivas mais eficazes. Grande parte da pesquisa concentra-se em técnicas de discussão, que permitem a atenção sensível do grupo a todos os pontos de vista.
Como voluntária durante todo o mês de abril, cheguei na véspera do meu aniversário e fui acolhida com amor e afeto desde o primeiro dia. Recebi, inclusive, uma deliciosa surpresa acompanhada de cupcakes preparados pela equipe da cozinha em celebração a mais um ciclo de vida.
Participava diariamente das reuniões matinais, onde definíamos em conjunto quem sentia o desejo de buscar o jornal na vila mais próxima (uma linda caminhada de 20 minutos pela floresta); de fazer o almoço, o jantar e ajudar na limpeza e organização da cozinha; de cuidar da casa e da horta – e essa atividade inclui a manutenção das áreas internas, externas e segurança pessoal e patrimonial (como testes diários das portas corta-fogo e alarmes de incêndio); de realizar algumas tarefas no escritório; ou ainda receber os visitantes e novos voluntários.
Tive a abertura para implementar algumas práticas espirituais aprendidas na Escócia e propor um Show de Talentos cujo making of pode ser visto neste vídeo.
Principal diferencial: Flexibilidade.
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Para concluir esta partilha sobre os meus principais aprendizados residindo como voluntária em ecovilas da Europa, resgato algumas questões que eu trouxe como reflexão na Parte 1.
É possível…
– Transformar o mundo a partir de dentro?
– Conectar com a nossa essência natural em meio ao caos?
– Co-criar um ambiente positivo através de simples ações?
A minha experiência pessoal comprova que sim. Pelo menos, o meu mundo foi transformado quando comecei a olhar pra dentro e conectar-me com a minha essência natural independentemente do ambiente em que estava inserida. A vida em comunidade me ensinou que simples ações podem fazer uma grande diferença e transformar positivamente qualquer ambiente. Sigo aprendendo, praticando e compartilhando!