Logo no meu primeiro passeio em Glasgow um ano atrás, fiquei encantada com os grafites gigantes espalhados pela cidade. Mais tarde aprendi que aqui eles são conhecidos como murais. Eu fico encantada a cada novo mural que descubro, e não tem como não lembrar da polêmica envolvendo grafites e pichações na minha cidade de São Paulo.
Resolvi então pesquisar a diferença entre mural, grafite e pichação. Em Inglês, pichação e grafite são a mesma coisa : obras de arte feitas diretamente em paredes com spray, na maioria das vezes sem a autorização do proprietário. E mural é obra de arte também feita diretamente em paredes utilizando spray e/ou outras tintas, com a autorização do proprietário. Conceitos a parte, na minha leiga opinião de admiradora destas obras eu fico feliz em ver que aqui elas não só embelezam a cidade, como se tornaram uma referência cultural e turística.
Os famosos murais de Glasgow começaram a ser produzidos em 2008 a partir de uma iniciativa da prefeitura ( Glasgow City Council) de embelezar áreas degradadas, atrair visitantes e promover os tradicionais grafites. Desde o primeiro mural, muitos outros foram criados, e esta galeria de arte ao ar livre se tornou uma importante atração turística da cidade.
Enquanto cidades como Miami criaram áreas específicas para produção e exposição de grafites, em Glasgow a ideia de ter os murais espalhados pela cidade funcionou tão bem que se tornou uma das principais expressões culturais da cidade. Além de revitalizar pontos escuros e esquecidos, os murais se tornaram um diferencial que atrai turistas e enche de orgulho os moradores.
A maioria dos murais está localizada na área central de Glasgow, mas a arte tem se expandido também para a periferia da cidade. Muitos ficam em locais populares e facilmente visíveis, e outros tantos são encontrados em becos, prédios abandonados, e outros locais menos frequentados, fazendo com que a qualquer momento você encontre um novo mural onde menos espera. Adoro descobrir e fotografar os murais de Glasgow, e estou planejando um passeio para tentar documentar todos eles.
Em 2016, foi lançado o City Centre Mural Trail, um roteiro turístico com os principais murais da cidade. Este roteiro fez tanto sucesso que recentemente foi premiado pela Scottish Arts and Business Awards como umas das principais iniciativas culturais do ano na Escócia. Neste video é possível ver a maioria dos murais, e conhecer os autores por trás das obras.
Para dar suporte financeiro e aprovar novos murais a cidade conta com o City Centre Mural Fund. Com o objetivo de continuar usando os murais para revitalizar a cidade e fortalecer a imagem de Glasgow como um centro cultural, este órgão recebe inscrições de artistas interessados, aprova as obras e os locais escolhidos, financia a execução e divulga as obras.
Glasgow é uma cidade muito conhecida pelos seus museus, parques e arquitetura. Valorizar e promover os murais trouxe mais um motivo para que a cidade continue atraindo a atenção de turistas, e aumentando o engajamento e orgulho dos seus moradores. O resultado é uma explosão de cores, criada por artistas locais como Rogue-one, Art Pistol, VELOCITY, Smug e Recoat, e também por artistas internacionais.
E por falar em artistas internacionais deixando sua marca nas paredes da Escócia, a pouco mais de 40 km de Glasgow, em Largs, tem um castelo que foi coberto por grafites de famosos grafiteiros brasileiros, com a autorização dos proprietários.
Kelburn Castle é um castelo do século 13, considerado um dos castelos mais antigos da Escócia a ser habitado pela mesma família: Boyle. Desde a sua construção passaram por lá 10 gerações de condes de Glasgow.
Em 2007 o décimo e atual Conde de Glasgow, Patrick Robin Archibald Boyle, por sugestão de sua filha convidou 4 grafiteiros brasileiros para colorir a fachada cinza do castelo. O colorido “The Graffiti Project” foi executado pelos mundialmente famosos Os Gêmeos, NUNCA e Nina Pandolfo.
O projeto foi permitido com a condição de ser removido 3 anos depois, mas após este prazo o Conde solicitou que fosse mantido devido ao sucesso da obra que agrada tanto a turistas como escoceses.
Apesar do castelo grafitado ter sido aprovado pela maioria, existem opiniões contrárias que alegam que o grafite tira a originalidade de uma construção tão antiga, além de existirem informações de que o material usado para criar os grafites estaria estragando as paredes originais do castelo. Atualmente o castelo encontra-se em reforma sem previsão de conclusão. Resta saber se após a obra concluída o castelo voltará a sua cor original : cinza.
Glasgow aprendeu a usar a arte de rua a seu favor, e esta opção foi abraçada com muito carinho pela população. Nunca vi nenhum destes murais pichados (ou rabiscados) como no Brasil. A cidade ficou mais bonita, alegre, atrativa, rica culturalmente. Espero que as grandes cidades brasileiras encontrem o equilíbrio, e também aproveitem o grande talento e criatividade dos nossos artistas para enriquecer nossa paisagem urbana.
E você o que acha ? Existe futuro para nossos grafites no Brasil ?
2 Comments
Incrível esse castelo com o trabalho dos brasileiros! Espero ter oportunidade de conhecer antes que ele deixe de existir! 🙂
Olá Gabriela.
Este castelo é muito bonito mesmo, e o trabalho dos grafiteiros também ficou muito bom. Além disso o local onde ele fica é um bosque lindo, com jardins, cachoeiras. Vale a pena conhecer. Obrigada pelo comentário.