Mais um ano chega ao fim e tenho a sensação de que 2017 voou. Infelizmente, foi um ano marcado pela amplitude dos desastres naturais, terrorismos, intolerâncias e o aumento avassalador de todos os tipos de violência. Quando pensamos como foi o ano no Brasil, impossível não nos remetermos ao cansaço sentido pelos brasileiros diante de tanta injustiça, instabilidade política e econômica, insegurança, expansão das desigualdades, sendo essas, algumas das motivações suficientes para fazer com que muitos brasileiros pensem seriamente em sair do Brasil.
Entendo esse sentimento e eu era uma das cidadãs que buscava mudanças antes mesmo de sentir esse cansaço que parte significativa dos meus compatriotas estão sentindo especialmente de alguns anos para cá. Sempre tive o desejo de viver em algum lugar fora do país – digo lugar, porque se alguém me perguntasse onde, não teria uma resposta na ponta da língua, mas sempre soube que queria ultrapassar fronteiras.
Estava muito infeliz profissionalmente e sabe quando junta a fome com a vontade de comer? Pois bem, depois de passar alguns meses sem dormir pensando o que fazer da vida, tomei a decisão de pedir minhas contas para trabalhar freelancer (autônoma) na minha área. Já havia trabalhado desta forma por um período de 5 anos e tinha sido muito feliz, mas apesar do cenário econômico atual não ser nada favorável, me lembrava do primeiro quinquênio experimental e tomei minha decisão. Na teoria, tudo lindo, no entanto, devo admitir que pedir as contas em um momento que o desemprego no país só aumenta, sem dúvida, não foi nada fácil.
Repito, não foi fácil, mas foi libertador! Embora saiba que não exista uma fórmula perfeita, fiz e refiz contas, ajustei meus custos, abri mão de supérfluos (nessa hora a gente vê que dá para dispensar muitas coisas) em busca de uma nova vida. Claro que tenho plena consciência de que muita gente não pode ou não consegue tomar uma decisão semelhante e eu entendo perfeitamente, entretanto, uma das questões que martelavam minha cabeça era: se eu tenho essa chance, para que sofrer mais?
Há quem tenha me achado corajosa, há quem tenha ficado com inveja (sim, isso acontece mesmo!), mas a maturidade me fez perceber que mesmo quem não tenha esboçado nenhuma reação, no fundo também tenha me achado uma maluca ou talvez até tenha pensado que eu poderia me dar mal. Reconheço que demorou, mas quando tomei minha decisão me sentia pronta e segura para o que desse e viesse!
Meu plano era continuar em São Paulo, retomar meus contatos da época que havia trabalhado freelancer e cuidar um pouco mais da minha saúde física e mental que não estava legal. Contudo, preciso confessar que até então, não sabia que me mudaria para os EUA, onde moro hoje.
Saindo do Brasil
O que aconteceu depois que pedi minhas contas, foi que meu marido recebeu uma oportunidade para trabalhar aqui e, como parte do meu trabalho pode ser realizado à distância, não tivemos nenhuma dificuldade para aceitar a oportunidade e nos mudarmos em apenas 3 semanas.
É verdade, assumo que tive muita sorte e sou muito grata a isso, mas voltando ao começo do artigo, por tudo que vem acontecendo no nosso Brasilzão de Meu Deus, de acordo com informações publicadas no Wikipédia: “Segundo uma estimativa do Ministério das Relações Exteriores, há cerca de 2,5 milhões de brasileiros que vivem no exterior, principalmente nos Estados Unidos.”
EUA
O tal American dream ou sonho americano que objetiva conquistas e prosperidade através de muito trabalho torna-se cada vez mais difícil. Claro que muitos brasileiros vivem aqui há anos, estão bem, constituíram família e muitas vezes não se imaginam vivendo novamente no Brasil, no entanto, é preciso salientar que a dificuldade para entrar no país tem aumentado dia a dia.
Digo isso, porque tenho recebido mensagens de leitores me perguntando sobre a possibilidade de arrumar trabalho aqui e, conversando um pouco mais com essas pessoas, percebo que várias delas estão totalmente desesperadas, despreparadas e muitas vezes nem sabem da necessidade de se ter um visto para entrar nos EUA. Para saber um pouco mais sobre o assunto, veja alguns dos diferentes tipos de vistos para morar nos Estados Unidos.
Outra pergunta que respondo com frequência é se um brasileiro pode ficar aqui com visto de turista para trabalhar ilegalmente. Não tenho o direito de julgar absolutamente nada nesse sentido, mas devo dizer que não recomendo a ninguém que venha para cá pensando em ficar de maneira ilegal ainda mais por conta do enrijecimento de algumas regras estabelecidas pelo Presidente Donald Trump que permite polícias municipais e estaduais solicitar comprovação de status migratório de qualquer pessoa que for abordada. É claro que muitos imigrantes vivem aqui de forma ilegal, mas acredito que um dos maiores medos dessas pessoas é justamente correr o risco de serem deportadas.
Conheci pessoas que deixaram carreiras sólidas para recomeçar. Acho extremamente corajoso, porque muita gente se redescobre desta forma, volta a estudar e toca a vida, mas também acho que planejamento, disposição e principalmente paciência sejam essenciais.
Também há exemplos de pessoas que tentaram e não conseguiram se adaptar. Isso é mais comum do que se pode imaginar, pois quando começou a ver a vida como ela é, notou que era mais difícil e realmente não conseguiu. Não vejo nada de vergonhoso quando acontecem situações desse tipo, muito pelo contrário. Também acho corajoso quando alguém consegue assumir que não conseguiu adaptar-se ao novo estilo de vida por algum motivo e daí resolve voltar e recomeçar. Apesar de dolorido, também faz parte.
Pode parecer piegas, mas o fato é que quando pensamos em imigrar, devemos colocar além de roupas nas malas, um pacote de informações que teoricamente podem ser vistas como básicas mas são primordiais para dar início ao processo de adaptação, como por exemplo: idioma, trabalho, moradia, clima, cultura, sistema educacional, dinheiro para se manter, alimentação, entre outros tantos aspectos essenciais para começar uma nova etapa da vida. Acho fundamental se perguntar: Estou realmente disposto a encarar uma mudança de corpo e alma para começar uma nova fase da minha vida fora do meu país? Pergunta difícil, profunda e eu diria até filosófica, mas que realmente exige uma sincera e profunda reflexão.
Sair ou não sair do Brasil?
Por mais difícil que esteja a situação no Brasil e por mais vontade que se tenha de sair, imigrar não é uma tarefa fácil. Como bem disse Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Não acho que seja impossível imigrar para os EUA ou qualquer outro canto no mundo, mas continuo batendo na tecla de que o item planejamento deve sim ser realizado com extrema cautela.
Se você está pensando em sair do Brasil por algum motivo, reflita seriamente e pesquise profundamente sobre o assunto. Indo ou ficando, compartilho o trecho de uma música chamada Encontros e Despedidas composta por Milton Nascimento e Fernando Brant.
“Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando…”
Caso você não conheça ou não se lembre da música, veja a interpretação da cantora Maria Rita no vídeo abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=tyBvtrjLUrg
Aproveito a oportunidade para agradecer pela leitura e desejar um feliz ano novo onde quer que você esteja!
4 Comments
Muitíssimo parabéns ao seu post! Estive à trabalho em Singapura por quase meio ano e realmente me senti mal ao retornar a nossa dura realidade brasileira! nunca imaginei que isso aconteceria! Mas hoje tenho nutrido uma desejo muito grande de simplesmente viver! Viver e viver! Sem nossas guerras cotidianas que tanto assola nosso país! Muito boa sorte!!!
Olá Marcos,
Antes de mais nada, gostaria de agradecê-lo pela leitura e comentário.
Infelizmente, a situação pela qual os brasileiros têm passado são desanimadoras, de fato.
Quando saímos do país e precisamos voltar, também acaba sendo difícil exatamente por saber que precisaremos lidar com uma dura realidade como você bem disse e eu consigo te entender.
De qualquer maneira, temos que seguir, não é mesmo?
Também te desejo boa sorte!
Um abraço,
Liliane
Voltei do meu intercâmbio na França e caí de cabeça num país mergulhado em recessão econômica, crise política e falência social generalizada! Não foi fácil! Estou me re-adaptando e de olho nas várias oportunidades que esse país dilapidado, incrivelmente, ainda oferece para quem quer construir um futuro sólido. O problema maior de todos é a corrupção endêmica e histórica! Mas vamos que vamos, que a vida não pode parar. E não descartei a possibilidade de voltar para o exterior uma segunda – e, talvez, definitiva – vez.
Thank you very much for the article! I am looking forward to read more of your material! See ya!
Olá Mateus,
Antes de mais nada, gostaria de agradecê-lo pela leitura e comentário.
Pois é, quando moramos fora e conseguimos nos adaptar, realmente fica muito difícil (na minha opinião) retornar ao Brasil especialmente por conta de tudo que vem acontecendo nos últimos tempos. Me coloco em seu lugar e posso sim imaginar o quão difícil deve estar sendo. Porém, como você mesmo disse, a vida segue e não podemos parar onde quer que estejamos, não é mesmo?
Se você se mudar temporária ou definitivamente, tenha em mente que apesar de toda boa vontade, também haverá dificuldades, mas, se estivermos abertos para o novo, certamente as coisas fluirão com mais leveza.
Desejo que você fique bem onde quer que seja!
Muito obrigada, mais uma vez!
See you soon,
Liliane