Vamos começar com uma pergunta simples: você sabia que 1/3 do país está dentro de uma área vulnerável a enchentes? Isso porque grande parte do país encontra-se abaixo do nível do mar estando a parte mais baixa a 6,76m (região chamada Zuidplaspolder, próxima a Rotterdam). Os diques são construídos como forma de proteção e devem ser levados muito a sério e, após alguns acidentes, os holandeses resolveram reforçar os diques e tomar mais precauções. Mas afinal, o que são os diques, como são construídos e quais as precauções que devem ser tomadas?
Aparentemente, tudo começou com os frísios que construíam pequenas vilas elevadas (chamadas de “terpen”) para proteger suas casas contra inundações. Pequenos diques também foram construídos com material simples encontrado no local, como por exemplo, argila. O processo é mais ou menos o contrário de uma represa, ou seja, enquanto para a represa a área é isolada e alagada, no caso dos diques, a área é isolada e a água drenada com o auxílio de canais e bombas. É como se os holandeses estivessem empurrando o mar e ocupando o espaço que antes era ocupado pela água. Mas que espertinhos! E claro, para deixar a história ainda mais holandesa, grande parte dessa água era bombeada com o auxílio de quem? Dos moinhos! Quantos estereótipos de uma vez só.
A história, no entanto, não foi sempre tão fácil. Acidentes relacionados aos diques ocorreram e deixaram muitas marcas na sociedade. O primeiro deles foi em 1287 na região da Frislândia e seus belos “terpen” tirando a vida de mais de 50 mil pessoas. Após esse fenômeno, os diques foram reforçados, porém novamente em 1916 problemas ocorreram em proporções menores. O governo holandês resolveu então que era necessário construir um dique gigantesco que liga a região da Holanda do Norte com a Frislândia chamado Afsluitdijk (“O dique que fecha” seria mais ou menos a tradução). Além de ligar as duas províncias, o dique separa o mar do Ijsselmeer (lago criado com essa construção) o que torna vista bem impressionante quando você dirige sobre ele: de um lado uma imensidão de mar e do outro uma imensidão de lago. No meio do caminho tem um ponto de observação que é bem interessante e vale a parada.
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Como já comentado, uma combinação de ventos e chuvas fortes, pode ser muito preocupante. Mais uma vez no ano de 1953, a Holanda presenciou um momento de enchentes devastadoras com ondas que ultrapassaram 4,5m provocando mais de 1800 mortes, 70 mil pessoas foram evacuadas das províncias de Zeeland, Holanda do Sul e Brabant sem contar com terras que foram destruídas e animais que também sofreram as consequências. Isso levou a Holanda a um estado de alarme e consequentemente foi criado um projeto chamado “ Os projetos de proteção do Mar do norte da Holanda” que incluem a construção do Afsluitdijk, do Ijsselmeer e da região da Flevolândia que hoje é uma província holandesa, mas antes era nada menos que água e areia. De tão impressionante, o projeto é hoje em dia considerado uma das maravilhas do mundo moderno! Vai vendo!
Ok, isso foi feito na região do norte, mas e a região sul? Não é protegida? É também! Os trabalhos na região sul do país são conhecidos como “Trabalhos Delta” e consistem em uma mescla de barragens, eclusas e diques para proteger essa parte do país contra os males do mar em combinação com fortes chuvas e ventos. Observando o mapa do sul, é possível observar que existem vários deltas de rio que, nada mais são que canais ou braços do leito do rio. Essa formação juntamente com a densa população que habita essas regiões, alarmou os holandeses em relação à segurança dessas regiões. Isso fez com que fossem construídas barragens ligando cada parte do continente e isolando os deltas dos rios do mar. Dessa forma, as cidades estariam protegidas. Além disso, esses trabalhos melhoraram o fornecimento de água para agricultura, ajudaram no balanço de água da região (mais fácil de manipular as correntes de água), ajudou o tráfego de automóveis nessa região, a interligação entre os portos de Rotterdam e Antuérpia foi facilitada e houve muito desenvolvimento nas áreas de recreação e natureza.
Um desenvolvimento adicional é o gigantesco Maeslantkering que é uma barreira móvel na região conhecida como “Hoek van Holland” ou “a esquina da Holanda”. Essa barreira monstruosa pode ser fechada quando o nível de água estiver ameaçando a segurança dessa localidade e dos diques da região sul da Holanda. Essa pequena construção é absurdamente impressionante e, uma vez por ano, a barreira se fecha para teste para garantir nossa segurança caso necessário.
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E uma curiosidade extra. Existe uma história muito conhecida sobre um menininho que salvou a Holanda colocando seu dedo em um furo na parede do dique. Apesar de muito famosa, a história é uma criação da autora americana Mary Mapes Dodge e não é baseada em fatos reais. Uma pena, não é mesmo? Mas então, que tal aproveitar para dar uma volta e presenciar a situação de estar andando em um nível mais baixo que o rio ao seu lado. E a água continua lá. E você também. Só esses holandeses mesmo..
Bedankt en tot ziens!