Eu votei na Holanda!
E foi uma experiência bem diferente. Para começar, preciso explicar que aqui na Holanda não é obrigatório votar. E o interessante, é que mesmo assim, conheço muita gente que foi votar e os holandeses conversam muito sobre isso. Vou contar um pouquinho como foi.
O que eu achei muito interessante é que mesmo sendo estrangeira eu pude votar, mas existem algumas limitações. Para poder votar, é preciso ter mais de 18 anos. Cidadãos não holandeses, como eu, também podem votar (europeus só precisar estar registrados na cidade e não europeus precisam viver no país por pelo menos cinco anos), porém só para cargos relacionados à prefeitura e não cargos nacionais, mas já tá valendo. E como descobri isso? Bom, um belo dia cheguei em casa e tinha recebido uma carta com uma “cédula de votação” e uma carta explicando que se eu tivesse apenas uma cédula é porque poderia votar apenas para o cargo relacionado a prefeitura e, se eu fosse holandesa, teria duas o que me dava direito a votar também para a província.
Esse papel você precisa apresentar no dia da votação e assim poderá votar. Se esqueceu, não vota. Além disso, um fato muito curioso é que você pode votar por outra pessoa. E para permitir que outra pessoa vote por você, basta assinar a parte de trás dessa cédula e pronto. Acredita? Fiquei em choque.
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Outra coisa curiosa, que é muito diferente do Brasil é que você só pode votar na sua cidade, porém, em qualquer lugar. Não existe a sua zona eleitoral, aquela única escola e única sala que você é permitido entrar para votar. Aqui, qualquer lugar (na cidade que você está registrado) que é considerado um posto eleitoral você pode escolher, entrar e votar. Simples assim. E foi assim que decidi ir pela primeira vez votar para as pessoas que são responsáveis pelo controle das águas aqui da Holanda.
O que significa isso gente? Esses são os responsáveis pelos diques, nível das águas do país, canais, entre outros. Hmmmm interessante. Mas assim, como decidir em quem votar sendo que nem saiba que era possível votar em outro país. Pois é, aí vem outra coisa interessante chamada “ Stemwijzer” que é um site em que os partidos respondem a várias perguntas e você também. Depois disso, o sistema compara as suas respostas com as respostas dos possíveis partidos e te mostra uma porcentagem de correspondência sua com os partidos e assim você consegue ver com quem se identifica mais. É uma maneira de te direcionar de acordo com as suas opiniões. Super prático e ajuda muito na hora de escolher entre diversos partidos que você não tem muito conhecimento.
Depois de preencher esse questionário, dei uma olhada no partido que tive maior afinidade e decidi ir votar depois do trabalho. A outra coisa, a votação foi em uma plena quarta-feira e dura o dia todo. Começou as 7h30 e foi até 21h!!!! Gente do ceu!!! Eu fui por volta das 18h e resolvi votar na antiga prefeitura da cidade. Chegando lá, tinha uma fila bem grande. Eu já tinha ficado impressionada no trabalho que todo mundo estava falando sobre a votação e, quando cheguei e vi a fila, achei bem legal também. Pensei que, por ser opcional, que muita gente não iria, mas no final vi bastante gente sim. Bom, continuei no meu lugar até chegar a minha vez.
Na hora de se apresentar é parecido com o Brasil: mostra o documento, eles riscam seu nominho em uma listinha e tudo bem. Porém, logo em seguida vem a parte mais diferente que me deixou um pouco em choque. Eles te dão um papel ENORME que parece um jornal e isso é o papel de votação. Você recebe esse papel gigantesco, cheio de nomes e com um LÁPIS vermelho, você tem que fazer um círculo em quem quer votar. E veja bem, só vale círculo. Se fizer xis, cruz, um certo, nada vale e seu voto é anulado. Depois disso, você precisa dobrar aquele jornal imenso igual origami e colocar em uma urna (que tem que ser enorme né, afinal, como vai caber tanto papel?). Sai desacreditada, mas achei muito divertida a experiência.
E não acaba por aí!! No fim do dia, estava eu na biblioteca que também era um ponto de votação, e quando sai já era hora de contar os votos. JURO QUE FIQUEI 5 MINUTOS EM CHOQUE observando a cena. Havia papeis no chão com os nomes dos partidos e pessoas também sentadas no chão colocando cada papel no lugar correspondente ao voto. NO CHÃO. Preciso repetir? Achei isso demais.
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Muito provavelmente você deve estar se perguntando: “mas espera. Como é possível que um país tão desenvolvido ainda tem esse sistema de votação?”. Isso passa pela cabeça de muitas pessoas e na verdade, o voto eletrônico foi introduzido por um tempo, mas devido a alegações de fraude e problemas de privacidade, eles decidiram voltar para o bom e velho papel e lápis. Ainda não superei o lápis.
E agora, quem ganha? Então veja bem. Depois que a votação acaba e os votos são contados dessa maneira exótica, eles fazem um cálculo mais exótico ainda. é algo mais ou menos assim: número de votos divididos por 150 e se o partido recebeu um número de votos mais que o resultado dessa conta, ele terá pelo menos um assento garantido. Complexo.
Enfim, concordando ou não com a praticidade de votar com um papel e lápis, esse é o modo que o país decidiu e fiquei feliz por poder participar. Achei muito interessante eles abrirem a votação para estrangeiros e muitos holandeses com quem eu falei ficaram impressionados de forma positiva sempre que ouviam um estrangeiro dizendo que ia votar. Experiência nova: check. Agora, vamos esperar que os meus amigos das águas façam um bom trabalho. E até as próximas eleições!
Bedankt en tot ziens!