Pós Graduação na área de Urbanismo em Portland.
Minha primeira visita aos Estados Unidos foi em 2012 para fazer intercâmbio por um ano. Com a bolsa de graduação do Programa Ciência sem Fronteiras, eu apenas fui informada que faria um curso para melhorar o meu inglês durante o verão em Los Angeles e depois iria para uma outra faculdade fazer o curso de Engenharia Florestal. Onde? Eu não sabia.
Após uma despedida emocionante da minha família, que me acompanhou durante as primeiras semanas nos Estados Unidos, passei a encarrar esse novo desafio em minha vida. Depois de um mês nos EUA descobri que meu destino final era a Oregon State University, na pequena cidade de Corvallis, onde tive experiências maravilhosas, uma abundante troca de conhecimentos e o prazer de visitar Portland cinco vezes.
Portland foi amor à primeira vista. A cidade era verde, viva, limpa, com pessoas de cabelos
coloridos, um bom sistema de transportes, comida boa, diversão gratuita ou bem baratinha, enfim, tudo que eu sentia falta em Corvallis e que nunca tinha visto no Brasil.
Apesar da chuva infinita durante o inverno e a grande quantidade de mendigos, eu sentia que poderia viver em Portland para sempre. Na minha última viagem, para correr na Color me Rad e ver o Rose Festival, eu lembro de me sentar em um jardim cercado por prédios com cercas vivas, na Portland State University, com três dos meus melhores amigos vendo pela primeira vez uma mulher recarregar seu carro elétrico. Naquele momento,
vislumbramos a possibilidade de retornar no ano seguinte com uma bolsa de pós-graduação.
Não foi no ano seguinte, mas dois anos depois aquele momento eu estava matriculada no programa de Doutorado em Urban Studies na PSU com uma bolsa do CNPq/Laspau.
Após terminar o Curso de Engenharia Florestal em Seropédica (cidade que sedia a UFRRJ), fiquei um pouco saturada deste modelo de cidade sem infraestrutura mínima para atender as necessidades da população. Foi diante deste fato, que decidi fazer pós em Urbanismo para poder trabalhar com Planejamento Ambiental Urbano.
Portland é a cidade perfeita para aprender como proceder nesta carreira. Indo em algumas audiências públicas, conversando e trabalhando com profissionais da área eu pude perceber que diferente do Brasil, os políticos locais e os funcionários da prefeitura escrevem projetos de lei onde se procura promover equidade, o famoso termo equity.
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Como fazem isso? Ouvindo os cidadãos nas audiências, fazendo pesquisas em escolas, feiras livres e no transporte público. Porém, nada é perfeito e, apesar de Portland ser um exemplo de planejamento urbano, existe pouca representatividade de minorias, como negros e latinos. E sendo uma mulher negra e latina é mais fácil perceber isso e sentir na pele o que isso significa.
Parte da minha adaptação foi encontrar meu lugar na cidade classificada como Whitest City in America, ou seja, a cidade com mais de 400 mil habitantes com maior porcentagem de caucasianos (72.2%).
Isso pode não ser tão relevante se você mora no Brasil, mas para quem já morou ou passou um tempo nos EUA, entende que o racismo é discutido todo o tempo nas salas de aula, nas mesas de bar, nos filmes, na televisão e de segunda a segunda.
Assim que me mudei para Portland, não tinha muitos amigos, então eu ia para um happy hour organizado pelos alunos do meu programa toda quinta-feira. Meu inglês nem era tão bom, eu ia só para ver gente mesmo, melhorar o inglês, e entender um pouco
mais da cultura americana. Sim, eu já havia vivido nos EUA no passado, mas eu estava com uma turma de brasileiros.
Em Corvallis eu falava inglês praticamente só na sala de aula. Com a pós-graduação e
sem muitos brasileiros por perto, eu tive que melhorar minha comunicação na marra! O happy hour foi fundamental. Apesar de apreciar as cervejas IPAs, pizzas vegans, kombuchas, eu também compartilhava e ouvia as experiências de adaptação a Portland, ao som das críticas da falta de diversidade étnica da cidade.
Embora a cidade seja homogênea racialmente, percebi que existia uma grande diversidade
cultural. E foi isso que me salvou.
Como todo brasileiro que se muda para o exterior, eu logo fui procurar um grupo no Facebook de conterrâneos da querida pátria amada em Portland. Descobri que existiam uma escola de samba, um grupo de maracatu, centros de capoeira, e algumas bandas de música brasileira na cidade. E o mais incrível é que as pessoas que participam e organizavam estes movimentos são em maioria americanos, visto que Portland não tem uma grande concentração de brasileiros como Miami, NY e Boston.
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Ao observar os americanos organizarem atividades culturais brasileiras, me senti compelida a também buscar identidade em outras culturas. Na minha opinião, isto me transformou em uma pessoa que busca absorver novos costumes e comportamentos diante do desconhecido. Também me fez sentir orgulho de ser brasileira, pois entendi que a nossa identidade também é desenvolvida com a absorção de atividades e interesses culturais que nos agradam e estão em harmonia com o nosso estilo de vida.
Em Portland eu aprendi que adoro comida coreana e etíope, que gosto de dançar música caribenha e que me sinto em casa nas festas havaianas. Mas também sei que preciso cantar e tocar samba e maracatu para estar perto das minhas raízes e transmitir conhecimento sobre o Brasil aos meus amigos americanos.
Keep Portland Weird (Mantenha Portland Esquisita) é o slogan dessa cidade que amo. E acho que esta é a explicação para que Portland seja um hub de pessoas com mente aberta, visão progressiva, dispostas a conhecer novas culturas.
O crescimento populacional da cidade tem trazido mais diversidade cultural e étnica para a região, desafiando os órgãos públicos a se adaptarem a essas mudanças sociais. Inclusive, este fato é uma motivação para a minha pesquisa que associa a economia de energia com a presença de dossel florestal nas residências.
Estou feliz por estar fazendo Pós Graduação na área de Urbanismo em Portland, que é um exemplo de cidade sustentável e justa, e em saber que estou contribuindo para este acontecimento.
3 Comments
Show Lorena! Muito bom texto. Thanks for sharing 🙂
Demais! 🙂
Boa tarde. Sou arquiteta e urbanista e gostaria muito de fazer doutorado na área de urbanismo, para começar em 2019/2020. Tem como você me passar algumas dicas para conseguir me inscrever aí para Portland? Espero ir com GTA ou GRA. Caso tenha vaga aí no seu departamento, me avise. rsrsrs. Obrigada.