Preparando a mudança para a França.
Da última vez que escrevi sobre os preparativos da minha mudança para Strasbourg, na França, falei um pouco sobre os dois primeiros perrengues com os quais me deparei: o primeiro, pode parecer besteira, mas foi dar a notícia para a minha família (tive direito às mais diversas reações). E o segundo, foi pensar no número de malas permitidos por pessoa (sempre achei difícil fazer malas, inclusive é algo que eu costumava postergar até o último momento). Claro que existem saídas para contornar esse problema das malas: pagando-se! E não é que sejamos ‘mãos de vaca’, mas meu marido e eu decidimos praticar o desapego mesmo. Uma etapa fundamental para nosso recomeço é livrar-se de tudo aquilo que já não serve, que excede ou que já não importa.
Pode parecer um papo do tipo ‘zen’ sobre desapego e novos valores, mas, no fundo, acho que é disso que se trata minha mudança: para além de reflexões sobre o que estamos indo buscar, como fazer isso, tentando alinhar expectativas e realidade, a verdade é que nossa ideia de mudança está toda fundada nessa coisa de recomeço. E é um pouco disso que quero compartilhar através deste texto, minha mais recente descoberta – um pouco óbvia para alguns, ou não. Mudar é algo constante e necessário, porém envolve, muitas vezes, estar disposto a passar por alguns percalços. Perrengues, mesmo.
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Já morei fora algumas vezes, Londres, Strasbourg, Madri… E, honestamente, sempre foi uma decisão fácil. Eu era mais jovem e quando se tem 20 e poucos anos, mesmo essas decisões corajosas são mais fáceis. Além disso, sempre tive data para voltar. Sempre tive as costas quentes, o respaldo da minha família. Agora de certa forma também, mas é diferente: a bola está comigo, é a vez de tomar uma decisão pela minha família. Tem um certo peso, uma responsabilidade nisso. Conversando com meu marido, levamos em consideração nosso núcleo familiar, a criação do nosso filho e a qualidade de vida que poderemos propiciar a ele na França, claro, entre outros benefícios.
Atraídos pelo desafio e pelo novo, nos esquecemos que o recomeço pode ser algo mais complexo, menos romantizado. Aliás, percebi – lendo em blogs e redes sociais, que pouca gente coloca essas cartas na mesa e fala claramente que mudar é tenso! E nem me refiro às mil e uma tarefas, ao lado extremamente burocrático, à vida que tem que se colocar em ordem no país de origem (não é meu caso, mas muita gente sai vendendo tudo que tem, imóvel, carro, pede demissão, etc.) Na verdade, o recomeço é que é tenso!
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E como se preparar para algo até então tão desconhecido?
Bom, antes que você leia o texto até o final pensando que darei a resposta, já vou logo avisando que não tenho essa resposta. Tenho, porém, algumas sacadas a respeito que quero compartilhar. Prefiro dizer logo, pois detesto a sensação de “não entrega”, ler algo atraída pelo título e me dar conta que no fim o texto não trouxe nada daquilo que eu esperava. Talvez seja um reflexo que eu tenha por causa da minha formação em jornalismo. Lido bem melhor com coisas concretas do que com romantismos. O “tenso” faz parte e não me intimida. A mudança foi uma escolha consciente.
A escolha pelo país não poderia ter sido mais óbvia. Sou franco-brasileira, filha de pais franceses, criada em São Paulo; porém, num entorno completamente francófono. A França me dá uma estranha sensação de “volta para casa”.
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A cidade também não foi por acaso. Eu morei em Strasbourg, conheço, me identifico e gosto da cidade, tenho amigos lá. Meu marido foi aceito para cursar o Mestrado em outras duas universités, em Toulouse e em Montpellier. Todos nos perguntaram: por que Strasbourg? O sul da França parecia muito mais atrativo aos olhos de todos, mas pessoalmente, achei que não conhecer nada nem ninguém nessas duas cidades era intensificar ainda mais nossa experiência. Era encarar o desconhecido de braços abertos. Ora, se o recomeço é tenso e o frio na barriga inerente, por que não dar aquela força para o destino e fazer escolhas que nos deixem mais confortáveis, certo?
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Percalços, teremos. Aliás, estamos bem nessa fase mesmo. No meio de papelada para podermos embarcar com nosso cachorro, de agendamento do visto do meu marido, de busca de apartamento… Estamos resolvendo uma coisa de cada vez, (tentamos) com paciência e bom humor, e mentalizando esse entendimento novo sobre a arte do desapego. Isso porque em meio a tanta pressão, correria e detalhes, temos que nos dar os meios de facilitar nossas vidas, ficar confortáveis com nossas decisões. Percebi que tirando da minha frente uma série de “coisinhas”, tudo fica mais leve, não só minha bagagem.
Nesse sentido, é incrível como esse papo ‘zen’ a que eu me referia no início faz sentido quando aplicado em várias outras esferas. Tudo que é desnecessário, que excede ou perdeu seu lugar, simplesmente deve (ou deveria) ser descartado. Simples assim.
A fase final de preparação antes da mudança é exatamente isso: desapegar e partir para o abraço, pois o melhor está por vir!
2 Comments
Adoro esse blog!! Eu tb sou franco brasileira mas com pai frances e mae brasileira. Resolvi mudar de mala e cuia mas vim pra Irlanda.. Me identifiquei muito com seu texto. Nenhum recomeço é fácil…
Oi Marcelle! Que bom saber que você se identificou com meu texto, super obrigada. Há quanto tempo você está ai na Irlanda? Eu visitei Dublin ano passado e AMEI!!! Me acompanha lá no Insta se quiser ficar por dentro das minhas andanças 😉 @lets.france Quem sabe um dia nos encontramos por aí! Beijos!