Relatos sobre alugar um apartamento na França.
Antes de entrar nos detalhes dessa saga, devo antecipar que se você está pensando em se mudar para a França, prepare-se, pois aí está uma tarefa difícil. Não é que eu queira desencorajar ninguém, mas com certeza essa foi uma das coisas que mais me exigiu repetir o mantra “paciência e bom humor”. Sem isso, melhor repensar sua vinda para a França.
Agora, sim, vamos falar de como tudo começou.
Ainda no Brasil, meu marido e eu pesquisávamos em 3 sites: SeLoger, de partiuliers à particuliers e Le bon coin. Sem muita restrição de localização ou metragem, nos mantivemos abertos e focados em achar algo minimamente bom para nossa família, com preço que nos atendesse e, principalmente, com proprietário ou agência que aceitasse nossa documentação sem impor muitas condições. Para nossa surpresa: ninguém retornava nosso contato! Essa foi nossa primeira dificuldade; pois, assim, ficamos de mãos atadas. Decidimos, então, esperar chegar na França para seguir com nossa busca. Era estressante saber que teríamos que fazer isso na correria! A sensação era de que estávamos perdendo um tempo precioso para adiantar as coisas. Segunda surpresa: franceses não têm, por hábito, “adiantar as coisas”. Claro que não deve ser algo tão generalizado quanto nossa primeira impressão fez parecer.
Leia também: Tipos de vistos e residência na França
Desembarquei na França com marido, filho e cachorro (aliás, compartilho parte dessa aventura em outros artigos aqui no blog). Alugamos um Airbnb, a princípio, por 18 noites. Esse era o prazo que tínhamos para encontrar nosso apartamento. Meio apertado, eu sei. Mas, financeiramente falando, não tínhamos budget para estender muito mais do que isso. De qualquer forma, o próprio apartamento não estava disponível após esse período.
Minha mãe veio do Brasil para nos ajudar a cuidar do bebê enquanto cuidávamos de ligar para as agências e visitar apartamentos. No total, nem visitamos tantos assim. Foram apenas 2 e fechamos logo com o segundo que visitamos tamanha era a nossa pressa. Falando assim parece que foi fácil, não é mesmo?
Pois é aqui que nossa aventura começa pra valer! Nosso contato era com um corretor de uma agência que ficava ao lado do (nosso) apartamento. Um tipo alto, com topete e muito gel no cabelo, vestia roupas justas e tinha uma moto. Falava depressa, mostrou o apartamento em 5 minutos. Dois dias depois, pediu que fôssemos até a agência para assinarmos o contrato e pagar o “frais d’agence” (uma taxa que, pensando bem, talvez fosse o proprietário que devesse pagar).
Leia também: tudo que você precisa saber para morar na França
Estávamos vendidos, sem saber o que era certo ou habitual de se fazer. O tipo mandava e nós corríamos atrás. Mandava pagar e lá estávamos nós, fazendo mais uma transferência. É papelada que não acaba mais!
Confiei por se tratar de uma agência e porque um amigo, advogado em Paris, estava em contato com o tal corretor. A dificuldade era que cada vez parecia ter um documento diferente e algo novo para providenciar. Ao invés de fornecer uma lista com tudo que deve ser feito, o corretor ia nos dando uma “pílula” por dia. Doses homeopáticas de contatos infinitos e coisas para entregar para compormos o “dossiê” que manifesta o meu interesse em alugar o imóvel.
Leia também: Seis dificuldades de adaptação na França
Finalmente, conseguimos as chaves e entramos no apartamento com 21 dias na França. Ou seja, ficamos aquelas 18 noites no primeiro Airbnb, e tivemos que alugar outro por 3 dias antes de mudarmos definitivamente.
Ufa! Fim da história. Nãoooo!!! Tem mais!
Foi ao entrar e começar a usar o apartamento que nos demos conta, o corretor omitiu vários problemas do imóvel. O saldo, após um mês morando nele, foi: duas persianas quebradas, paredes de gesso afundadas, partes de massa corrida colocadas porcamente, chuveiro quebrado e 3 visitas técnicas para tentar consertar. Terceira surpresa: a França não é um país onde o serviço funciona bem. Triste realidade, mas a França está bem mal servida para trabalhos que envolvem algum tipo de obra ou conserto. São empregos desvalorizados, aqui. Ninguém quer trabalhar com isso e quem trabalha não executa bem. Além disso, o serviço é super caro! É mole?
No fim, tenho conversado com algumas amigas que já moram na Europa há mais tempo e me dei conta de algo óbvio: a França estava apenas me desejando as boas-vindas ao velho continente. Aqui tudo é antigo, as construções… Tudo é carregado de história! Não tem como se instalar e não ter problemas.
Sigo praticando meu mantra desde a chegada: paciência e bom humor. E acho que sem isso os dias e as relações que venho estabelecendo por aqui seriam muito mais difíceis. No fundo, estou feliz de ter encontrado um apartamento, a localização é boa, meu filho tem espaço para brincar, estamos perto do centro, transportes e comércios.
Minha surpresa, na verdade, é sobre aprender a me deixar surpreender pelo lado bom das coisas!