Projeto Social na Alemanha – tradição de 500 anos
Na minha passagem pela Alemanha, visitei um projeto social que existe há quase 500 anos: o Fuggerei – uma das nove fundações da família Fugger que continua em existência desde o século XVI.
O projeto social Fuggerei foi fundado em 1521 por Jakob Fugger – o rico que queria fornecer aos cidadãos de Augsburg lugares para viver. É o mais antigo complexo habitacional existente no mundo, uma “cidade” dentro da cidade com 67 edifícios e 142 residências, além de uma igreja.
Jakob Fugger (1459-1525) foi um rico comerciante, benfeitor e visionário que alcançou seu primeiro ponto alto através de uma combinação de negócios em metais preciosos, bens e financiamento, tornando-se o principal comerciante e financista de seu tempo longe de qualquer exercício político. Um dos seus objetivos, além do sucesso econômico duradouro para a empresa e o avanço social para sua família, era uma existência sem fim para as fundações.
Aproximadamente 150 cidadãos carentes de Augsburg da fé católica vivem no local pagando um aluguel anual de € 0,88. Sim, você não leu errado, os moradores pagam 88 centavos por ano pela moradia!
Com 15.000 m², o complexo habitacional ocupa uma grande área perto do centro da cidade de Augsburg. A construção das 67 casas, cada uma com duas residências, começou em 1516 e foi concluída em fases diferentes. Ao longo do tempo, a Igreja de São Marcos, dois museus e um prédio administrativo também foram construídos.
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A vida cotidiana em uma tradição de 500 anos
Em 1521, as residências eram ocupadas principalmente por famílias. Muitos moradores trabalhavam em suas casas. Artesãos e diaristas como carregadores de sacos e fabricantes de velas tinham suas oficinas no local; residentes negociavam ou operavam pequenos negócios.
Os requisitos para a Fuggerei como um ambiente residencial e de vida está sempre mudando, e sua estrutura consequentemente adaptada. Em meados do século XVII, por exemplo, uma escola foi estabelecida por um tempo para educar as crianças no dogma católico. Havia edifícios para outras fundações e projetos de caridade, e até mesmo um padre. Atualmente, os moradores são predominantemente solteiros ou casais. Há também o edifício da viúva.
Algumas das mesmas regras são aplicadas por quase 500 anos. Apenas pessoas necessitadas e católicas da região de Augsburg são aceitas como residentes. Ancestrais, idade e status familiar não são fatores decisivos. Juntamente com o requisito de orar três vezes ao dia (se as orações são realmente praticadas, não se sabe… é uma questão de confiança!), os moradores são convidados a realizar pequenos serviços para o bem-estar comum, como atuar como vigia noturno, sacristão ou jardineiro. Cercada por um muro desde a sua fundação, os portões da Fuggerei ficam abertos até às 22h. Após este horário, os residentes devem pagar ao vigia noturno uma quantia de 50 centavos ou um euro se passar da meia-noite.
Cada edifício residencial é normalmente ocupado por duas partes (famílias ou solteiros) que têm um pequeno jardim no térreo. A maioria das residências com 60 m² tem um layout funcional e amplo, com dois quartos, uma cozinha e um banheiro acessível a deficientes físicos. As residências não são mobiliadas, moradores providenciam seus próprios móveis.
Resistência às destruições
No século XVII, como resultado da guerra, da peste e da fome, Augsburg perdeu mais da metade de seus moradores e experimentou destruição e dificuldades. Em 1642, dois edifícios na Fuggerei foram completamente destruídos; apenas 28 edifícios eram parcialmente habitáveis. O assentamento teve que ser significativamente renovado. Essa tarefa foi predominantemente realizada pelos moradores.
Em 1944, mais da metade dos edifícios da Fuggerei foram vítimas de ataques aéreos. Graças ao búnquer (abrigo protegido debaixo da terra) que havia sido construído sabiamente em 1943, quase nenhum dos moradores ficou ferido. Depois da guerra, a reconstrução começou. Dos anos 50 até 1971, as compras de terras expandiram novamente o assentamento em um terço, trazendo-o ao seu tamanho atual.
Trabalho cooperativo
Aproximadamente 50 pessoas estão empregadas em tempo integral ou parcial pelas fundações da família Fugger, que também recebem o apoio de muitos voluntários. Toda a equipe é apaixonada e leal à causa de continuar o trabalho iniciado pelos benfeitores e encontrar maneiras de aproveitar as possibilidades contemporâneas.
Informações para visitantes
O espaço é acessível para pessoas com mobilidade reduzida. No entanto, a residência modelo e o búnquer não são acessíveis a cadeirantes.
Horário para a visita:
De abril a setembro, das 8h às 20h diariamente
De outubro a março, das 9h às 18h diariamente
Telefone: +49 821 319 881 14
Os ingressos podem ser adquiridos diretamente na bilheteria situada na entrada:
€4 Adultos
€2 Crianças (8 – 18 anos)
€3 Grupos de 10 ou mais adultos, idosos, estudantes, pessoas com deficiência
€8 Bilhete para família (2 adultos, até 4 crianças menores de 18 anos)
€15 Classes escolares com até 30 alunos e 2 professores
Respeito à privacidade:
É importante que a privacidade das 150 pessoas que residem no local seja protegida, especialmente a dos idosos, evitando o ruído excessivo. A melhor maneira de aprender mais sobre os interiores dos edifícios é visitar a residência modelo (Ochsengasse 51).
Destaques
Apesar do número frequente de visitantes, é um local tranquilo cujos residentes estão sempre presentes cuidando do jardim ou apenas descansando e conversando nos pátios.
Três pontos me chamaram atenção neste projeto:
1) Permanência por meio milênio;
2) Resistência diante de tanta destruição vivenciada no território alemão;
3) Nenhuma relação com o poder público.
Religião à parte, que bom seria se mais famílias ricas como a Fugger financiassem projetos sociais como este promovendo a solidariedade pelo mundo.
Fontes utilizadas no texto: Visita realizada em 30/05/2018 e site Fugger