Quando a Holanda me apresentou o Suriname.
“Sabe o Suriname?” se a resposta for “não”, está grave. Bom, não tão grave quanto responder “é de comer?”, mas mesmo assim coloca um pouco a prova seus conhecimentos de geografia. Mas é perdoável porque, por incrível que pareça, muita gente não sabe o que é ou onde fica o Suriname.
Confesso que, antes de vir morar na Holanda, uma das únicas coisas que eu sabia do Suriname é que fica ao norte do Brasil, foi uma colônia holandesa e..e…meu Deus, eu não sabia mais nada sobre o Suriname. Não sabia o que eles comiam, não sabia que muitas pessoas imigraram para a Holanda, não sabia que eram calorosos como nós e muito menos sabia que, depois do catolicismo, a religião majoritária era o hinduísmo. Tá brincando! Pois é, também fiquei em choque.
Agora dou um minuto para você pensar o que você sabe sobre esse país. Talvez você não consiga nem lembrar se ele está entre as Guianas ou ao lado delas. E porque será que sabemos tão pouco de um país que está colado no Brasil? Isso eu não saberei explicar, mas posso contar algumas outras coisas que achei muito interessante sobre a antiga Guiana Holandesa (primeiro nome do Suriname).
Para aqueles que já leram meus textos, provavelmente perceberam que eu sou uma amante de comida. Dito isso, não poderia começar esse texto de forma diferente. Todo mundo que quer saber um pouco mais sobre o Suriname deve saber o que é um Roti. Quando me perguntaram aqui se eu toparia comer um Roti e eu disse que não sabia o que era, me deu um pouco de vergonha.
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Poxa, muita gente já ouviu falar de ceviche, alfajor, arepa, chipa que são comidas de outros “vizinhos” do nosso Brasil. Mas fala sério, quantas vezes você ouviu falar de Roti? Desculpa ainda fico em choque com isso. Voltando ao alimento, Roti nada mais é que uma espécie de panqueca que normalmente tem em cima frango, ovo, batata e vagem. E a parte mais divertida, você come com as mãos e isso faz a experiência muito melhor. Entre outras comidas que podem fazer seus olhos brilharem estão as “loempias” (famosos rolinhos primavera), “satay” (espetinhos com molho de amendoim), “bami” (os clássicos noodles, ou como dizemos no Brasil “lámen” ou “miojo”), feijões (como nós) e salada de bacalhau.
Acredito que você ainda deve estar assimilando essa mistura de culturas que passa pela mesa dos surinameses, e isso acontece devido à mescla de grupos étnicos culturais: indianos e paquistaneses, euroafricanos, javaneses (indonésios), afro-americanos, ameríndios, chineses, entre outros. Segundo o Censo de 2012, os dois primeiros grupos (indianos e paquistaneses e euroafricanos) representam quase 70% da população. Dá para acreditar? Não é de se estranhar então que uma das principais religiões seja o hinduísmo e que comer com as mãos é parte do dia-a-dia. Sem falar nos diversos idiomas que são falados no país, sendo o oficial o neerlandês. Tudo isso na verdade ocorreu com a abolição da escravatura que fez com que os holandeses trouxessem indianos e indonésios ao país como mão de obra barata.
Outro fato impressionante: o país só se tornou independente da Holanda em 1975 e herdou não só o idioma mas também a “direção inglesa”, ou seja, eles dirigem do lado oposto do que estamos acostumados no Brasil. “Eu não só descobri que no Suriname também se fala hindi como descobri que não saberia atravessar a rua lá também? E isso tudo fica na América do Sul?”. É meu bem, olha o Suriname brilhando nas curiosidades. Mas calma, está faltando uma peça. Eu disse “mão inglesa” mas a colonização foi holandesa. O que isso tem a ver? Na verdade, tudo e o buraco é ainda mais embaixo. Já que estamos levando um tapa cultural dos nossos vizinhos – ainda em choque que são nossos vizinhos e não sabia metade disso, mas continuando – vamos falar um pouco da Holanda. Antes de ser colonizada por Napoleão, a Holanda também dirigia na “mão inglesa” e o Suriname foi colonizado pelos neerlandeses nessa época e por isso dirige desse lado.
Um outro fato curioso é que a bandeira do país (momento em que você pensa: “eu sei como é a bandeira do Suriname?” Clique aqui para a próxima iluminação cultural) mudou assim que o país deixou de ser uma colônia holandesa! Antes a bandeira era branca com cinco estrelas coloridas de tamanho igual que representavam os grupos étnicos presentes no país. A primeira mudança ocorreu quando listras brancas, vermelhas e azuis foram desenhadas na bandeira em alusão à bandeira holandesa. A nova bandeira, entretanto, tem as cores branca, verde, vermelha e uma estrela dourada no centro e a semelhança com a bandeira anterior é que a estrela de cinco pontas também representa a união dos grupos étnicos. Isso mostra como o lema do país “ várias culturas, um país” faz realmente parte da cultura.
Por incrível que pareça, a Holanda me fez conhecer o Suriname, que tem seu nome devido aos antigos nativos que habitavam a região chamados “Surinen”. Aqui aprendi sobre um país que tem uma comida absurdamente saborosa, pessoas amigáveis e com um sorriso no rosto, diversos idiomas e etnias, carros andando na “mão contrária”, um presidente que antes foi um ditador, uma bandeira que antes tinha outras cores e acima de tudo, aprendi que muitas vezes sabemos mais sobre países que estão tão longe de nós quando temos vizinhos tão interessantes. Depois dessa aula que recebi, espero que o conhecimento sobre o Suriname vá além de saber o nome da capital. Paramaribo.
Bedankt em tot ziens!
11 Comments
Nossa, seu post despertou em mim a curiosidade de conhecer o Suriname, principalmente por agora saber que depois do catolicismo a religião majoritária é o hinduísmo, nunca pensei. Na verdade, nunca antes o Suriname tinha chamado minha atenção hahahha
Oi Mirella! O mesmo aconteceu comigo, fiquei com mta vontade de conhecer! Principalmente depois de provar a comida que é uma delícia hehe Espero que um dia eu possa ir p lá 😉
Adorei o texto e conhecer um pouco sobre esse desconhecido país vizinho. Realmente a maioria dos brasileiros não sabem absolutamente nada sobre o Suriname.
Olá Rozembergue! Que bom saber que vc gostou do texto. Para mim foi uma licão de como ainda temos bastante para aprender hehe 🙂
Oi Roberta tudo bem?
Além do aspecto cultural, sociológico, histórico e gastronômico, o pais tem turismo ou praias, ilhas, enfim. Teria um roteiro básico do que podemos conhecer?
Muito interessante seu texto, despertou curiosidade. Estava outro dia pesquisando que a azul tem voos para Caiena, via Belém também entrou na lista dos países que irei visitar um dia
Oi Alexandre! Que bom que curtiu o texto 🙂 Infelizmente eu não tenho um roteiro, mas posso dar uma olhada com alguns amigos e ver se eles tem alguma informacão e ai te passo caso consiga! Fiquei com bastante curiosidade de conhecer tbm!
Parabéns Roberta!! Isso sim que é viajar sem sair do lugar!! Vou colocar na nossa lista de viagem e quem sabe nos encontraremos lá!! Será um alegria para todos nós!!!
Oi Márcia!! Com certeza, acho que seria uma experiência e tanto 🙂 Quem sabe também na próxima visita não apresento um pouco da culinária do Suriname aqui na Holanda também ?
Bjs!
Bom dia,
Parabéns Roberta, realmente é um excelente texto… Estou morando no Suriname e é incrível que a maioria de nós brasileiros não conheçamos tão bem um país que está tão perto de nós.
Apesar de aqui existir uma grande população de Brasileiros oriundos do Norte do Brasil principalmente de Belém, é um pouco raro encontrarmos brasileiros de outras regiões vivendo aqui, mas é um país encantador e que muitos brasileiros depois que conhecem não querem retornar para o Brasil.
Com relação ao turismo a capital Paramaribo não tem muito a oferecer, apesar de ser litoral a praia se mistura com o rio Suriname e fica impraticável para o banho, mas existem muitos passeios para o interior do país para conhecer a selva e suas belezas, como trilhas, rios e cachoeiras.
Oi Adriano! Muito obrigada, fico feliz que você gostou do texto!!
Eu estou com mta vontade de conhecer o Suriname, ainda mais agora que você disse que também tem cachoeiras! Obrigada pela informacão e espero que esteja tudo bem por ai!
Lembrancas holandesas,
Roberta.
Legal Adriano Almeida.
Morei um tempo no suriname e realmente a poulaão do nirte do brasil é bem presente.