Sempre escrevemos os posts com certa antecedência. Da janela, ainda vejo montes e montes de neve feitos pelos tratores que limpam a rua, as árvores brancas com o vento batendo e assoprando o frio que ainda congela o corpo. Sim, ainda é um dia escuro de inverno.
Realmente, não será um artigo comum, onde te explico sobre algum possível assunto burocrático ou algo estritamente finlandês. Hoje, resolvi escrever sobre sentimento, algo do coração… resolvi dividir um pouco de como levo a vida aqui.
Nos últimos tempos, tenho recebido mensagens de pessoas que não conseguem se adaptar ao país. Outras, de pessoas que me perguntam como eu consigo viver com o inverno, com o frio, com a cultura diferente e que essa vida, provavelmente, não seria pra elas. Tudo isso me abriu os olhos a essa questão. De como nem todos se adaptam facilmente às adversidades.
A Finlândia não é o país perfeito. Bem conseguem perceber muitas dessas pessoas que me escreveram nos últimos tempos. Assim como o Brasil não é, os EUA não é e nenhum outro que existe neste mundo. E, quanto mais o tempo passa, o que eu acredito é que existem pessoas e lugares que combinam e outras que não. Existem aquelas que são mutantes, que se adaptam a qualquer ambiente e as que não estão dispostas a isso.
Foque no que é bom
Já me perguntaram como eu consigo ver a beleza nas coisas e minha resposta sempre foi bem simples e direta. Apenas foco no que é bom e não gasto tanta energia no que não é tão bom assim. Um exemplo clássico aqui é o inverno. Ele é muito doído, exige exaustivamente do ser humano tanto fisicamente como da sua saúde mental.
Só que se eu ficar pensando que é um sofrimento passar por ele, que sair na rua é difícil e seja mais lá o que for, vai virar um fardo que não vou conseguir carregar. O nosso pensamento reflete diretamente em como vamos reagir aos obstáculos que aparecem. E, no fim do dia, você não vai poder deixar de viver só porque o dia amanheceu cinza, com temperatura negativa, com neve até o joelho e com o transporte público atrasado.
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As escolhas
Se de todos os problemas que preciso enfrentar na vida o clima é o pior, eu escolho ter esse problema. Se de todos os problemas que eu tenho que encarar, o pior é que meu vizinho também não me fala bom dia, é esse que vou escolher. Porque eu aprendi que se eu quiser dar um bom dia, isso não vai me afetar, sabe? Se uma pessoa que eu nem conheço quer falar ou não comigo, não é isso que vai interferir na minha felicidade.
Na Finlândia, aprendi a dar mais valor ao espaço alheio. A respeitar a não resposta de cada um. Entendi que as escolhas são pessoais e só depende de mim ser feliz. Que eu não posso esperar que as pessoas reajam como eu gostaria ou devolvam um sorriso dado. Mas se eu receber um de volta, é porque a minha energia contagiou a dela. E isso é lindo de ver quando acontece, porque se torna de verdade.
É engraçado perceber como a escuridão não é somente da janela pra fora, que muitas pessoas vivem com a escuridão dentro de si. E o fato de ela estar lá fora, só piora tudo que elas precisam lidar dentro delas. E não digo isso porque sou super bem resolvida comigo e com a vida, sou super feliz e blá-blá-blá. Não, não se engane. Todos temos nossas inseguranças, nossos medos, nossas mágoas, nossos problemas. Mas nós também temos o livre arbítrio que nos dá o direito de fazer disso tudo o que quisermos e colocarmos o peso que também quisermos no nosso dia a dia.
De repente, é primavera
Quando a primavera chega, parece que tudo muda. Todos mudam. Todos são felizes e que os maiores problemas do mundo parecem se difundir. E isso se estende até o verão. É como se o país se levantasse das cinzas. Aliás, é exatamente isso que acontece. Porque o ser humano é muito mais resiliente do que acredita ser. No entanto, quando o outono volta, as caras começam a se fechar, as pessoas já não trocam sorrisos e os problemas ressurgem. E eles se agravam no inverno, fazendo disso tudo uma bola de neve sem fim.
Mas a primavera traz a esperança de um novo ciclo, uma nova oportunidade de renascer. De resolver tudo que ficou pendente, sem que se torne um círculo vicioso. Permita-se ver a beleza todos os dias.
Uma vez uma amiga, editando um vídeo meu, me mandou uma mensagem que me fez parar para pensar. Na cena, eu mostrava uma paisagem linda, mas só conseguia focar que o dia não estava tão bonito assim, só porque estava nublado. Ao me ver falando isso, ela me escreveu: ‘como você não tá conseguindo ver a beleza dessas nuvens? Olha que paisagem incrível!’ É.. e sabe que ela tinha toda razão, a paisagem estava realmente incrível. Era tudo uma questão de perspectiva!
Por isso, nesta vida, eu sempre vou preferir ser primavera. Olhar a vida com bons olhos, tentar solucionar os problemas, encarar o que vier pela frente e chorar sempre que necessário. Ser feliz, ficar triste, mas viver. Ser luz. Sem deixar a vida passar em vão lá fora. E ver tudo reflorescer a cada ano, mesmo com toda a escuridão do inverno.
E você, qual prefere ser, inverno ou primavera?
Até mês que vem!
Lili