Viver em um país onde você não conhece ninguém pode ser muito difícil no começo. Claro que depende de como você reage a essa nova situação, há pessoas mais extrovertidas, outras nem tanto e outras muito tímidas. Ser muito tímida na Europa realmente não ajuda, pois os europeus, diferentemente dos latinos, são mais fechados, o que fará com que seja mais difícil uma aproximação. O texto de hoje é sobre relacionamentos na Eslovênia, onde moro.
Amizades
Eslovenos, como europeus que são, em geral não são muito extrovertidos. Porém, confesso que me surpreenderam, pois achava que eram muito fechados. Não são. Fazer amizade com eslovenos não é tão difícil, principalmente sendo brasileira. Os eslovenos têm grande curiosidade sobre o Brasil e, em geral, apreciam nosso país. Isto não quer dizer que você virará “melhor amiga” logo de cara. No Brasil somos assim, conhecemos uma pessoa e logo a chamamos de amiga, mas aqui não. Amizade para eslovenos é algo que vem com o tempo, que se cultiva aos poucos. Seria ruim esta característica? Creio que não, pois vejo que amizade aqui é um laço profundo, sem superficialidade. Se você é amigo, é amigo mesmo. Daquelas amizades da vida inteira, desde a infância, pois foram tecidas com o tempo.
Sabe aquela história tipicamente carioca de encontrar-se com alguém na rua e dizer: “passa lá em casa?”, mas sem dar o endereço, a hora e nem o dia? Pois é, aqui não pode. Se um esloveno te convidar para a casa dele, primeiramente ele realmente te considera alguém bacana, segundo ele vai marcar tudo: dia, hora e te ensinar a chegar.
Espere um recepção calorosa, bem caseira, com vinho e um monte dos petiscos típicos daqui. Provavelmente você degustará alguma receita típica feita em casa, porque para eles se você realmente preza o convidado você faz em casa, não compra pronto. Acho bacana, para quem sabe cozinhar bem, o que não é meu caso.
Chegando na casa de seu quase amigo, tire os sapatos, claro. Eslovenos não usam sapatos em casa e ficam horrorizados se contamos que no Brasil usamos, ainda mais na cozinha! Leve algo que você preparou ou fez, coisa simples, o que vale é que foi feito por você. Se for convidado para comemorar o aniversário de alguém em um barzinho ou restaurante, foi convidado mesmo! Não pagará nada.
Lembro da primeira vez que eu e meu marido fomos numa comemoração dessa no Brasil e ao final eu lhe disse que tínhamos que pagar e ele não entendeu: mas não fomos “convidados”?!
Quando chegamos na Eslovênia, moramos um tempo na casa de meus sogros. Logo no segundo dia, os meninos, filhos do vizinho ao lado, colheram uma cesta de morangos da horta, colocaram numa linda cestinha e chamaram minha filha até a cerca e entregaram-lhe como um presente de boas-vindas. Fofo, não?
Nos relacionamentos aqui não trocam-se grandes presentes. Dia das Mães, flores, talvez uns bombons e alguma deliciosa guloseima. Dia dos Pais quase não existe. Natal sem exageros, mesmo para as crianças, que ganham melhores presentes no aniversário.
Passando das amizades para o âmbito da família, aqui quem lidera é a mãe, a sociedade é matriarcal. Avós são vistos em todos os lugares com seus netinhos. Avôs no dentista, avós buscando no colégio, pois ter uma babá aqui é raro, porque além de ser caríssimo é super difícil de encontrar. O restante da família, e aí depende de cada família e também de que parte são, se de cidade grande ou mais do interior, em geral não são tão próximos como no Brasil. Cada um cuida de sua vida, o que não quer dizer que não o ajudarão em caso de muita necessidade. Mas não espere uma família estilo italiana ou grega.
Relacionamentos profissionais
Não tenho muita experiência, pois trabalhei apenas 3 meses numa escolinha como professora de inglês. Em geral, os eslovenos no ambiente de trabalho são formais e respeitosos. Prezam muito a pontualidade e marcam encontros para 14:33 ou 08:27. Ok, não são os únicos. Os alemães também fazem isto.
Cumprimentos podem ser calorosos, depois de um certo tempo, aperto de mão é o mais certo a seguir.
A vizinhança
Vizinhos eslovenos são como super câmeras (risos) que não deixam passar nada. Eles não falarão com você a menos que você os cumprimente, mas quando o fizer, farão muitas perguntas, aguarde. Estão sempre cuidando de suas hortas, de seus jardins, passam ali muito tempo e por isso sabem tudo que se passa no bairro.
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Em geral, diria que relacionar-se na Eslovênia não é difícil. Precisa de tempo e dedicação. De profundidade e verdade.
Estou aqui há quase 4 anos e posso dizer que fui feliz em encontrar pessoas incríveis com as quais estou tecendo os fios da amizade para os próximos ano de minha vida. Pessoas com as quais falo um terceiro idioma, inglês, que não é meu, nem delas, e nos entendemos.
Pessoas dispostas a ajudar e compartir. Gente que valoriza o país de onde vim, sem exageros e sem críticas discriminatórias.
Gente do bem e de bem com a vida.
Deles e a minha.