O número de estrangeiros morando e trabalhando em Yangon vem crescendo nos últimos anos. Muitos trabalham na área de telecomunicações, outros com organizações não governamentais; há os diplomatas e os que, assim como eu, trabalham na área de turismo. Mas como é a rotina de trabalho em Myanmar? Como é trabalhar em um escritório birmanês?
A rotina de trabalho muda em cada empresa. Eu tive uma experiência numa pequena empresa local e agora trabalho com uma grande empresa internacional, com sede no Vietnã e escritórios regionais em países do Sudeste Asiático.
Os horários de trabalho variam um pouco. Na empresa em que trabalhei anteriormente, eu trabalhava das 8h30 às 13h30, com 30 min. de almoço, e aos sábados, das 8h30 às 13h30. É comum em Myanmar que as empresas tenham expedientes aos sábados, por meio período. Onde trabalho atualmente, o expediente é das 9h às 18h, com 1h de almoço. O expediente aos sábados – apenas num sistema rotativo – ocorre a cada 2 meses, por meio período.
No meu primeiro emprego em Yangon éramos no total um time de 15 pessoas, incluindo os proprietários. De estrangeiros, havia apenas eu e uma vietnamita. A companhia custeava a acomodação que eu dividia com a vietnamita e uma birmanesa, oriunda do norte de país. O lado prático é que o apartamento da empresa era no mesmo prédio onde funcionava o escritório.
Comparado a uma empresa com gerência local e uma empresa internacional, percebe-se uma diferença grande. Em empresas médias ou pequenas, com gerência local, impera uma hierarquia muito rígida, a qual eu não estava acostumada depois de trabalhar por muitos anos na Alemanha. Não havia uma relação mais espontânea com o chefe. As instalações da empresa eram simples, com móveis de madeira, sem cadeiras ergométricas. Havia um guia com regras de conduta. Os proprietários vêm de uma geração mais antiga, old school, o que se percebia em pequenas coisas no dia a dia. Para mim foi uma ótima experiência profissional e pessoal, pois me abriu portas. Mas a longo prazo, eu teria dificuldades em trabalhar seguindo aquelas condições.
Onde trabalho agora temos um escritório grande e moderno, com cerca de 50 funcionários. A gerência é jovem e dinâmica, o proprietário é alemão. Somos ao todo 6 estrangeiros em posições permanentes na empresa (o proprietário alemão, eu ,uma belga, uma italiana e duas francesas), e além disso, a empresa sempre traz estagiários europeus com contratos de 6 meses. A acomodação é fornecida pela empresa, num condomínio mais moderno e confortável. Moro a cerca de 20 min. do trabalho. Geralmente, vou a pé, a não ser quando está muito quente ou em dias muito chuvosos na época de monções.
Chegando ao trabalho, a primeira coisa que fazemos é bater ponto no sistema de reconhecimento de digitais e à noite, quando saímos, damos baixa. Quanto à rotina em si, especialmente dos colegas birmaneses, não difere muito de uma pequena empresa: eles chegam um pouco antes do horário de expediente para tomar café da manhã no escritório, por exemplo. O café da manhã birmanês consiste em: macarrão com legumes ou frango, ou a mohinga , o prato nacional – uma sopa de macarrão com peixe ou comem arroz com algum tipo de curry. Este é um hábito típico do sudeste asiático: o café da manhã deles contém refeições completas e quentes, não é como nosso pão com café (um dos motivos pelo qual é proibido comer na mesa de trabalho). Já os estrangeiros geralmente começam o dia com frutas e cereais.
Após o café, cada um vai aos seus respectivos departamentos para começar o dia de trabalho. Temos salas grandes, com ar condicionado (imprescindível neste clima). A conexão de internet é boa e rápida, em geral internet ainda está se desenvolvendo em Myanmar. Planos residenciais ainda são muito caros e para velocidades bem abaixo do que estamos acostumados no Brasil ou na Europa. Na minha antiga companhia a internet era extremamente lenta, o que dificultava imensamente o trabalho.
No meu departamento trabalho apenas com birmaneses. Apesar de eu estar aprendendo o idioma e entender coisas mais simples, não é possível acompanhar discussões de trabalho, por isso nos comunicamos em inglês. O ambiente de trabalho é descontraído, apesar da alta carga de trabalho. A maioria dos colegas dificilmente sai pontualmente, costumam fazer horas extras. A empresa é flexível neste ponto, recebemos incentivos, todos são muito dedicados ao que fazem e se sentem como em uma grande família. Não trabalhamos com trajes sociais, mas casual. O que em Myanmar significa que muitos os colegas vestem seus trajes típicos.
Nossa empresa vende viagens, excursões, produtos relacionados ao turismo em Myanmar. Eu trabalho no departamento de vendas como supervisora para o mercado alemão e também ajudo na parte de controle de qualidade, faço traduções para o alemão e o espanhol e dou assistência ao time local em relação à comunicação com clientes.
Há com frequência atividades em time, como celebração dos aniversariantes do mês, viagem de motivação uma vez ao ano, aulas de zumba e ioga uma vez por semana, e o Ano Novo birmanês. Como a área em que atuamos é turismo, a empresa oferece aos funcionários viagens de inspeção para que os funcionários conheçam melhor os produtos que estão vendendo. Estas viagens sempre são feitas na baixa estação.
Para o almoço, todos os colegas birmaneses ou trazem a comida que preparam em casa ou pagam uma empresa que entrega marmitas (que não são guardadas na geladeira, mas ficam em temperatura ambiente), e na hora de comer não costumam esquentar a comida. E mais uma curiosidade sobre este ambiente: algo típico do horário de almoço entre birmaneses é que todos se sentam juntos e dividem, uns com os outros, os diferentes pratos.