Seguindo as leis no Camboja.
Mês que vem completo 2 anos morando aqui no Camboja e a única certeza que tenho é que ainda vou me deparar com alguma coisa que não faça muito sentido, mas que na visão deles é super normal. Falando de leis, por exemplo, em geral não estão muito preocupados em segui-las. Listei alguns exemplos abaixo que no início foram um choque cultural, mas depois de absorvido me sinto praticamente uma cambojana.
Transporte
Aqui a moto é o meio de transporte mais utilizado. Pergunta se eu fiz auto-escola ou se tenho carteira de habilitação? Pergunta se estavam preocupados em saber se eu sabia dirigir? Pergunta como foi feito o pagamento e a transferência de documento para o meu nome? Postei na página de expatriados que estava à procura de uma moto usada e pronto! Marca para ver uma aqui, outra ali, olha o preço, checa o ano e a condição da moto e resolvido. Paga-se em cash (dinheiro vivo), pega o documento da moto e pronto, sai dirigindo.
O documento da moto não está no meu nome, aliás, foi indicação dos cambojanos que eu nem mexesse nisso, pois além de gastar uns 40 dólares à toa, se a moto for roubada, o problema é de quem está com o nome no documento e não meu! Quando eu for vendê-la, também não terá transferência, simples assim.
Fato curioso: locais que dirigem motos de até 125 cilindradas não precisam de carteira de motorista, já o estrangeiro precisa. Faz sentido? Para compra e venda de carro, o trâmite fica um pouco mais “burocrático”, pois é necessário fazer um licenciamento, que vale por dois anos, além de ser obrigatório o documento da transição de dono. Pensou na burocracia do Brasil? Aqui basta pegar um papel em branco, colocar seus dados, os dados do comprador, ambos assinam e cada um fica com uma cópia. Detran? Autenticar e registrar? Não aqui! Ai, que perda de tempo. Risos.
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Sair sem capacete é pedir para ser parado. E, sendo expatriado, as chances de pedirem propina aumentam. Outro ponto intrigante: quando comprei minha scooter 50 cilindradas (ou uma enceradeira), vi que o farol baixo estava apagado. O dono sorrindo me disse: “Todas as motos têm esse fio cortado pelos donos para não corrermos o risco de sermos parados pela policia de manhã caso o farol não esteja aceso”. Ah, entendi, então andar com o farol queimado pode? “Olha, você pode até consertar, vai custar 15 dólares, e se te pararem com ele desligado e verem que está funcionando, você vai pagar multa”. Deixa sem, então. Mas estamos falando de multas em torno de 2.50 dólares (não vale rir).
De maneira geral, no sudeste asiático é super comum ver mais de 3 pessoas numa moto (além do cachorro). Criança fica em pé na frente do pai segurando o guidão, a mãe vai carregando o bebê no colo, ou o pai com 3 filhos e assim vai. Bom, achei que nada superaria o garupa levar 2 bicicletas quando vi meses depois um garupa carregando uma geladeira! Lei? Não aqui.
Seguindo as leis no Camboja
Semáforos são ignorados. Vermelho, amarelo e verde têm o mesmo significado. O nível de “barbeirisse” é alto: fechar o cruzamento é normal, andar na contramão também. Parar ou estacionar na faixa perto de uma loja também é normal. Apesar do cenário caótico, ninguém dirige em alta velocidade por isso o número de acidentes é muito baixo. Multa para essas infrações? Não…
Venda de medicamentos
Receita médica? Controle farmacêutico? Aqui não! Pode comprar até tarja preta e quantos você quiser. Também há opção de comprar por cartela (isso eu acho bacana, pois você compra somente o necessário sem ter que comprar uma caixa, caso não for usar toda). Outra vantagem são os valores, bem mais baratos quando comparados ao Brasil. Mas a realidade por aqui é uma população inteira se medicando sem controle algum. Outro dia fui comprar um colírio e a “farmacêutica” já queria que eu levasse comprimido, pomada, tudo antibiótico para meu olho! “Atei aokun bong”, traduzindo:”Não, obrigada senhora”.
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Um ponto que me chocou na farmácia foi ver a atendente, após ter pego o meu dinheiro, tirar sangue de um cliente ao meu lado! Salinha? Esterilização? Máscara? Luva? Higiene mandou um abraço junto com a ANVISA (não, não tem uma ANVISA no Camboja).
Maioridade
Crianças já dirigem e, por que não, com outra criança na garupa? Ah, crianças também podem comprar cerveja para seus pais em qualquer vendinha. Sem problemas, no stress. Casamento também acontece com adolescentes. De acordo com as leis, apenas maiores de 18 anos podem casar, beber, dirigir mas… Sabe como é, né?
Visto de trabalho
Eu escrevi um artigo sobre como funciona o visto de trabalho para estrangeiro no mês passado aqui no BPM, mas em termos de lei, o processo ainda continua uma bagunça.
Quando conto essas histórias para família e amigos, todos ficam espantados. O que faz total sentindo, mas acho que já me acostumei a viver sem regras e nem ligo mais ou nem fico espantada. É assim e pronto, ué! Cambodian style.
6 Comments
Roberta, eu nunca fui ao Camboja, mas o seu texto me lembrou (e muito) meu dia-a-dia na Tanzania! Aproveite este país lindo e continue compartilhando histórias com a gente =)
Oi Camila!
E eu não conheço a Tanzania rs
Obrigada pelo carinho ?
Eu quero conhecer este país, algum dia….
Oi Robson!
Eu super incentivo rs
Pingback: Camboja – seguindo as leis. Mas, que leis? – Vem comigo! Por Roberta Jorge
Oi
Vc sabe se a carteira internacional de habilitacao serve no cambodj?