Hoje foi mais um daqueles dias especiais que caíram no meu colo como um verdadeiro presente desde que vim morar no Camboja.
Trabalho num hotel boutique como gerente de marketing em Siem Reap, local mais visitado do sudeste asiático devido aos templos de Angkor. Inauguramos o hotel em setembro e, como os donos da propriedade são cambojanos, tivemos uma cerimônia local de bênção antes da abertura.
Lembro que, naquele dia, acordei bem, estava empolgada, pois sabia que o dia ia ser importante, só não tinha ideia que iria ser tão lindo e especial.
Para a bênção, todo o time se sentou no chão ao redor do monge na recepção do hotel. Somos em 54 pessoas, sendo apenas eu e a gerente geral estrangeiras, ela francesa. O funcionário nos deu almofadas para nos apoiarmos no chão, já que como ocidentais não temos o hábito de ficar ajoelhados por muito tempo. Achei essa atitude de zelo muito carinhosa, pois além de ser acolhida em uma outra cultura, ainda houve uma preocupação com o nosso bem estar. Me senti inserida durante a cerimônia.
Primeiro, um dos funcionários começou a reza de frente para uma estátua de buda, rodeado por flores de lótus. Foi lindo. Depois ele passou a palavra para o monge, que iniciou as orações. Um dos momentos mais marcantes para mim foi a chuva de jasmim com o qual fomos abençoados. Ele falava e jogava brotos de jasmim em nós. Depois se levantou e passou por todos jogando água, continuando a bênção. Foi um dos momentos mais bonitos que eu já vivi aqui no Camboja.
A cerimônia levou em torno de 1 hora e após o término o monge foi com as donas do hotel (mãe e filha) de quarto em quarto para continuar a proteção. Além dos 29 quartos visitados, ele ainda veio aqui no escritório. Enfim, todo o hotel foi abençoado.
Eu me senti muito bem naquela manhã, foi especial, um momento tão íntimo de locais no qual eu tive a chance de participar.
É muito desafiador e gratificante participar da abertura de um hotel. Todo o processo de marketing, de contatar a agência de publicidade, que fica em Bangkok, de participar de reuniões com agências de viagens, promover o hotel, criar anúncios, promoções, correr contra o tempo, acompanhar o calendário, tantas coisas, mas que sempre me deram prazer e que nunca me tiraram o sono e que nem me fizeram trabalhar horas extras. Todos os processos foram comemorados, desde a criação do cartão de visita até a sinalização do hotel. O mais prazeroso e gratificante é saber que o desafio não acabou e sim apenas começou. Agora chegam os hóspedes, a hora de botar tudo o que aprendemos e treinamos em prática.
O que mais me encanta aqui é a simplicidade e o respeito que as pessoas têm uns com os outros. As donas tratam os funcionários de igual para igual, vestidas sem ostentação, sem a necessidade de mostrar o que têm. Acho isso um máximo, pois com toda a sua simplicidade a mãe, uma senhorinha fofa, usava uma bolsa preta básica Salvatore Ferragamo. Tão elegante e tão simples ao mesmo tempo! A verdadeira e pura finesse. Risos.
Depois, à tarde, tivemos uma confraternização. O chef preparou a mesa de café da manhã e todos tiveram a oportunidade de ter um gostinho de como nossos hóspedes serão bem tratados. Estão todos muito empolgados com o novo desafio, que é grande, por sinal. Aqui tem um hotel a cada esquina, um mais lindo que o outro, e com preços ridiculamente baixos. O desafio é diário, ainda mais para mim, que até então nunca tinha tido trabalhado na indústria hoteleira.
Coincidentemente ou não, recebemos no mesmo dia da bênção (30 de agosto) uma reserva para o dia 1º setembro, dia da abertura! Até então nossos primeiros hóspedes chegariam dia 12. O frio na barriga foi grande, afinal, um hotel só abre de fato quando se recebe o primeiro hóspede.
O Camboja me faz muito bem e me ajuda diariamente com o meu auto-aprendizado. Quando eu viajo, sempre levo um choque cultural que me assusta um pouco. No sentido de consumismo, superficialidade, que dá um nó na minha cabeça porque eu vejo que vivo bem e sem nada disso.
Quem me conhece sabe que eu amo viajar, desbravar, que tenho a alma inquieta. E essas experiências me enriquecem de uma forma que eu não consigo explicar. Sei do amor que minha família e amigos têm por mim, mas vejo que não me encaixo mais em certos tipos de comportamento e padrões que antes faziam parte da minha rotina. E o que me deixa mais em paz comigo mesma é que não tem certo ou errado. O importante é você estar alinhado com o que te faz bem, afinal, seu externo é reflexo do seu interno. Os que me julgam eu deixo para lá. Cada um com a sua opinião.
3 Comments
penso que tomaste um choque cultural no Camboja,porém acho que neste país nem tudo sempre foi rosas.
Ola Solon,
Sim, tenho um aprendizado diário aqui no Camboja. Recomendo que você assista o filme First They Killed My Father. Este filme retrata o Camboja no período do Khmer Rouge, época em que 1/4 da população foi dizimada. Muito triste porem retrata a realidade do pais daquela época e nos esclarece por que o pais é assim nos dias atuais.
Roberta
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