E 2016 começa. Espero que vocês tenham conseguido comer suas doze uvas sem engasgar e celebrado a última noite de 2015 com muito champanhe! Embora todos os anos comecem com a carga e a responsabilidade de ser um ano melhor, cabe a nós transformar isso em realidade.
Vai completar seis meses que estou morando na Espanha. Depois de tantos anos morando no exterior, sei que seis meses não é muito tempo; é simplesmente um começo. Então, quando as pessoas dizem, quase em tom de desespero, que suas vidas não estão como elas gostariam depois de tão pouco tempo, eu simplesmente sorrio. A adaptação não é rápida como nossas cabeças, em era de smartphone, gostariam que fosse.
Sempre olho para o meu começo, para aquilo que gosto de chamar de renascimento. Porque, para mim, a dor por sair do Brasil e deixar tudo que conhecia para trás foi semelhante à dor do parto: de fato, quando cheguei a Dublin, por mais de uma semana chorava todos os dias e só pensava que o bilhete de volta estava aberto e precisava de somente 100 euros para mudar a data da minha volta para o dia seguinte.
Mas há algo em minha personalidade que me instiga a continuar e, por isso, raramente desisto de um objetivo. Verdade seja dita, se acho que não conseguirei atingir ou cumprir, acabo desistindo antes mesmo de começar e, naquele momento, não somente já havia embarcado no avião como já estava na Ilha Esmeralda. Era uma questão de me adaptar.
Quando nos mudamos, seja de cidade ou país, há milhões de coisas a resolver, como trabalho, casa e escola para filhos. Se a mudança é de país, somam a esses itens coisas como saúde – planos, hospitais e médicos, compras de mercado, adaptações culturais e, muitas vezes, até o aprendizado de um novo idioma. Há pessoas que já saem de suas cidades ou países com um emprego e, embora isso torne as coisas mais fáceis já que um dos itens da lista foi eliminado, a vida não necessariamente será mais tranquila porque há muitas outras coisas que precisam entrar nos eixos. Realmente, mudar-se não é fácil.
Conhecer o novo idioma é fator fundamental para se encontrar emprego ou ter uma vida integrada à sociedade. Algumas vezes, como já mencionou a Christine Marote em seu texto (Sobre)Vivendo sem o Mandarim, aprender o idioma local não é tão importante porque o dia-a-dia de muitos expatriados acontece em inglês – o meu, nas Filipinas, era em inglês, considerado um dos idiomas oficiais. Mas, nos países ocidentais, não se comunicar no idioma local é motivo para se ter muitas portas fechadas: não esperem encontrar empregos em países como Espanha, Inglaterra, Holanda ou mesmo Alemanha sem ter o domínio dos idiomas locais.
Pouco a pouco…
Ao sair das nossas zonas de conforto, nossas vidas recomeçam. É quase como se reformatássemos o computador: os programas precisam ser novamente instalados e novos arquivos precisam ser salvos. Mas, muitas vezes a ansiedade de começar a vida de onde deixamos no Brasil nos atrapalha porque queremos resolver todas as coisas ao mesmo tempo, agora. Queremos um emprego. Queremos uma casa. Queremos ter fluência nativa no idioma. Queremos ter uma vida social e estar integrados à uma sociedade. Queremos, queremos e queremos tantas coisas que não conseguimos realizar nada. E, dessa forma, nos frustramos.
Aprendi que as coisas acontecem pouco a pouco. O segrego é manter a calma e dar um passo por vez ou tropeçamos nas nossas ansiedades, aceitar os desafios que chegam e lutar para ganhar uma batalha de cada vez. Ninguém ganha uma guerra pensando só no final, mas as estratégias desenhadas são para conquistas de batalhas, uma de cada vez.
E, ao relaxar, percebemos que aos poucos, as coisas vão se encaixando. O idioma começa a se tornar mais familiar e, de repente, se torna mais fácil comunicar ou se expressar. Eu, por exemplo, já cheguei à conclusão que sempre vou ter um sotaque estranho quando falar o espanhol e não é algo que me incomode tanto. Enquanto puder, vou melhorando, mas meu conhecimento do idioma não me impede de trabalhar ou ter uma vida social.
É normal que a vida entre em uma rotina e, particularmente, preciso que isso aconteça. Não sou o tipo de pessoa que me adaptaria a mudanças constantes, a viver um dia em cada cidade, a viver de mochila; sou do tipo que precisa de um canto que possa chamar de meu – ainda que seja alugado – e de uma rotina da qual possa fugir de tempos em tempos.
Portanto, quando cheguei a Madri, assim que consegui o emprego, fiz questão de encontrar uma academia para que pudesse liberar o stress e, agora, aos poucos, busco médicos e dentistas para poder fazer meus check-ups regulares. Quando fui para a Irlanda, mantinha meu seguro-saúde brasileiro – a cada ano e meio fazia o check-up em São Paulo porque nunca confiei nos médicos irlandeses -, mas aqui tenho seguro-médico. Ainda que não tivesse, a saúde pública espanhola, mesmo com os cortes feitos durante a crise, é de boa qualidade e dizem que o atendimento é rápido e eficiente. Quando o usar, contarei minha experiência.
Mas foram apenas seis meses e ainda estou me adaptando à cidade. Honestamente, achei que fosse me adaptar mais rapidamente, mas entendo que as coisas nem sempre acontecem na velocidade que gostaríamos. Paciência. Enquanto as coisas positivas ultrapassarem as negativas, está valendo. E, passo a passo, pouco a pouco, vou conhecendo essa cidade que continua me acolhendo de forma brilhante. Afinal, aqui é o lugar que escolhi para passar os próximos muitos anos da minha vida.
2 Comments
Me emocionei com seu texto. Caso mês que vem e nos mudaremos para Madrid logo em seguida. Estou com o coracao apertado e vc expressou todos os meus medos em palavras.. E me trouxe um alívio. Obrigada.
Olá Aline,
Fico muito feliz que meu texto emocionou você. Eu adoro a cidade, mas tudo requer adaptação. E há dias bons e outros nem tanto, mas cabeça para cima e bola para frente!
Boa sorte na sua nova jornada! =)
Um beijo!