Sistema de saúde no Uruguai.
Essa semana precisei de um médico, pela primeira vez, aqui no Uruguai. Morando há 10 meses no paisito, comecei a sentir uma dor familiar nas costas do lado direito. Ano passado tive uma infecção urinária grave, no Brasil, e me recuperei. Então, já imaginei que era isso. Decidi ir ao médico. Eu trabalho na Zonamérica, que é uma área zona franca com empresas estrangeiras aqui no Uruguai. Por trabalhar por lá, tenho acesso a uma emergência no espaço de uma clínica privada.
Como estava sentindo muita dor, fui lá primeiro. A médica me perguntou, me apertou e definiu: procure a emergência do Hospital da Asse. Inclusive me indicou o mais próximo da minha casa, que fica na Cidade Velha (Ciudad Vieja).
Quando você chega no Uruguai seu primeiro passo é a cédula. O segundo é se associar a Asse ( Associacion de los servicios de salud del estado). A Asse é como o SUS, no Brasil, inclusive possui mesma teoria de atendimento para todos, em nível nacional, com atenção humanizada e de acesso equitativo. Por isso, antes de começar a trabalhar eu me associei a Asse, pois era gratuita. Quando comecei a trabalhar, comecei a pagar o BPS (como um núcleo de impostos distintos para saúde e trabalho) e com isso eu poderia alterar da Asse para outro hospital privado, e não fiz. A Asse possui uma ótima avaliação, a mesma do hospital privado, então decidi não trocar. E não me arrependi…
A médica do trabalho me deu um atestado do dia e o endereço do hospital. Ligou para um amigo e confirmou se era a melhor opção para o meu caso (os uruguaios são muito solícitos). Já conhecia esse hospital, pois uma vez procurei para ir devido a uma dor de garganta; mas acabei desistindo. Já fui imaginando o pior, né?
Bem, cheguei ao hospital, entreguei minha cédula no balcão e a senhora perguntou o que era. Falei a suspeita de infecção urinária e ela me disse: – Só aguardar ser chamada pelo sobrenome!
Estava com meu marido e ficamos aguardando. Reparamos o hospital bem conservado, e a sala de espera cheia! Já imaginei, ..vai demorar. E observamos que havia todos os tipos de pessoas. E que nem todas estavam esperando atendimento de emergência, mas também estavam indo visitar familiares em internação.
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Demorou mais ou menos uma hora, me chamaram! Eu acessei o ambulatório e havia dois médicos, uma enfermeira e três estudantes. Nunca vi tanto médico para me atender! Me perguntaram, me apertaram, retiraram sangue e colheram a urina. Em 10 minutos, já estava aguardando o resultado do exame.
O resultado dos exames de laboratório demoraram em torno de uma hora (creio que isso seja padrão) e me chamaram. A médica explicou que eu estava com um infecção alta, mas não grave, e que poderia fazer tratamento com medicamentos. Me explicou que precisava beber água e tomar os remédios no horário correto. Tudo sendo digitado no computador. E me disse: – Amanhã você tem um horário marcado na policlínica da Ciudad Vieja (que fica em frente ao hospital) com a doutora tal, para atendimento do seu problema, e você pode pegar os remédios na farmácia com a cédula. Pergunte no balcão se está aberta!
Eu saí meio sem entender: como você sai do hospital sem um papel? Sem assinar nadinha?
Fui até o balcão para perguntar onde estava localizada a farmácia. A senhora me explicou e fui lá! O sistema de saúde do Uruguai é totalmente gratuito, inclusive os medicamentos. Entrei no hospital e fui à farmácia. O hospital é antigo, estilo casa de saúde católica de 1800, mais ou menos, com largos corredores e colunas em arcos, um jardim interno, e muito, muito grande. Fui seguindo as placas indicativas até a farmácia.
Lá chegando, perguntei ao senhor que estava de plantão (pois já era umas 20 horas) que havia sido atendida na emergência e a médica disse pra eu ir ali. Ele pediu minha cédula, digitou no computador e veio lá de dentro com três caixinhas de remédio. Explicou, de novo, para que era cada um e disse dia e hora de tomar. Sem me cobrar nada, sem pegar fila, esperar ou assinar papel, saí do atendimento com remédio (mais ou menos 150 reais em remédios), uma consulta marcada e atendida.
Fiquei muito assustada porque nunca imaginei um tipo de saúde gratuita assim. Já sei como deveria funcionar, mas a gente sabe que na prática é difícil.
No outro dia, fui com a cédula até a policlínica em frente ao hospital. Não precisei pegar senha nem nada, dei entrada no atendimento, e esperei me chamarem. Novamente, mediram minha pressão arterial, verificaram meu peso e altura e digitaram no computador.
Uma médica me atendeu, passou o tratamento de novo, pediu pra eu beber muita água, não comer sal, etc. Ela ainda me deu 6 dias de licença do trabalho (que é o tempo do antibiótico) e me encaminhou a um novo exame, após 9 dias da data que dei entrada na emergência. Tudo isso para ter certeza de que a infecção melhorou.
Resumindo: é um sistema de saúde de excelência. Em dois dias, tive meu caso resolvido num sistema de saúde público, em um dos maiores hospitais da rede! Em uma emergência que atendem de tudo! Achei surreal, de verdade!
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Não fui a um hospital particular, ainda, mas tive uma experiência com uma amiga que teve uma infecção grave, nos rins, foi atendida na emergência e ficou internada. Após uma semana, ela pode ir para casa e recebeu atendimento domiciliar por uma semana a mais. Na rede privada, você paga tudo, inclusive os remédios (porém, em valores inferiores, se você é associado ou inscrito). Mas possui atendimento domiciliar, o médico vai até sua casa, com uma ambulância, para realizar o atendimento. E quando você trabalha pode se associar a um hospital privado e paga só a diferença nos exames ou consultas.
É bem organizado e atencioso. Assim que comecei a trabalhar, tive a experiência para retirar um carnê de saúde. É um cartão obrigatório para quando você está trabalhando, ter ciência que está com saúde para trabalhar. Eu tirei o cartão em uma hora! E fiz vários exames, como de sangue, urina, papanicolau, odontológico, oftalmológico e pressão. A saúde é bem extensa e vai de hospitais gerais até policlínicas que atendem nos bairros. Há serviços como projetos com a terceira idade ou psicóloga para jovens.
Assim sendo, a maior parte da população (principalmente os idosos) buscam atendimento na Asse. E também por isso que o país é o primeiro em qualidade de vida/desenvolvimento humano na América Latina.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatistica do Uruguai, 97,2% da população tem acesso a algum tipo de assistência médica e o país é o segundo na América Latina com o maior número de médicos por habitante. São 3.65 médicos para cada habitante do Uruguai. Isso porque a educação também é a base do país, as universidades públicas são públicas de verdade, não existe um vestibular para você acessar a faculdade de medicina ou de enfermagem, por exemplo.