Dez situações que me acolhem em Portugal.
Estava tímida para escrever sobre Portugal. Fazia a cerimônia de uma recém-chegada sabedora do impacto forte, mas não necessariamente durável das primeiras impressões, uma vez entendido que apenas o passar do tempo trará a exata dimensão de onde estou e logo, substância para comentar. Para desencorajar, morar em Portugal tornou-se desejo de milhares de brasileiros, não existindo assunto relacionado ao país que já não tenha sido publicado em língua portuguesa versão “BR”. No final das contas, haverá novidade?
Passados 6 meses, começo a compreender o contexto local e construo pontos de vista que serão compartilhados quando sólidos; aguardem. Mas, enquanto ideias amadurecem, começo pelo básico, listando o que tem me acolhido nesse começo de vida portuguesa, afinal, para a nossa permanência tranquila em um novo pais, tão importantes quanto informações práticas sobre custos, habitação, mercado de trabalho, são as possibilidades cotidianas que o lugar oferece, pois é nesse microcosmo que a vida desenrola-se.
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Mercados
Instalados em construções antigas, são limpos e bem preservados, atraindo fregueses para comprar frutas, legumes e peixes frescos, uma passada na talho (açougue), na banca de flores ou mesmo para petiscar em seus quiosques.
Tenha ele o “hype” dos chefes e a procura dos turistas, como o Mercado da Ribeira, no Cais do Sodré, em Lisboa; o charme do bairro, como o de Campo de Ourique, também em Lisboa; ou o ar de feira animada às quartas e aos sábados no da Vila de Cascais, os mercados portugueses enchem olhos, ouvidos e, claro, barriga.
Cobram mais caro do que os supermercados e não aconselho para grandes quantidades, mas quando se está em busca de sabor e qualidade misturados aos hábitos da gente local, não há lugar melhor!
Comes e bebes
Saio do mercado e já entro na cozinha porque a culinária portuguesa tem recheado o meu apetite de um jeitinho quase com gosto de casa. Para quem, como eu, ama frutos há pouco saídos do mar, preparados na simplicidade da grelha ou com base despretensiosa de azeite, alho, coentro e tomate, Portugal é imbatível.
Não fosse só isso, tem vinho bom e barato em qualquer esquina; pastel de nata pronto para derreter quentinho na boca; e comida saudável, de produção local, para animar suas panelas. O melhor: toda essa riqueza por preço acessível, quando comparado às demais capitais europeias. O Numbeo confirma a informação.
Livrarias
Como diz meu pai, quando o assunto é livrarias, Lisboa transforma-se em “Lisótima”! Dos alfarrabistas (sebo) mais preciosos à praticidade das tantas FNAC, a cidade é um paraíso para leitores ávidos por bons títulos.
O gosto por ler e escrever aproxima-me desse espírito local, esteja ele no Camões da praça ou no Pessoa sentado ao banco, ambos no Chiado, lembrando épocas diferentes unidas por uma mesma paixão: a literatura. Passar tempo em livrarias boêmias, como a Menina Moça, na Rua Nova do Carvalho, que funciona dentro de um bar, ou em prédios históricos como a Bertrand da Rua Garret, são sempre experiências ricas.
Lisboa x Cascais
Moro em Cascais e por gostar de vida urbana, fiquei receosa se não me sentiria isolada e entediada na cidade pequenina. O receio foi desnecessário. Pouco mais de 20 km separam-me de Lisboa e, tirando horários de pico, ida e volta de comboio (trem) ou pela autoestrada são tranquilas. Sendo assim, posso usufruir a efervescência de uma cidade tornada desejo, com suas programações culturais, passeios, compras e restaurantes, e depois retornar para a tranquilidade de uma vida com a qualidade da natureza ao lado de casa.
Caminhadas
Para minha surpresa de bicho da cidade, gosto de ficar nessa casa, onde desfruto o privilégio de percorrer os caminhos do Parque Natural de Sintra e Cascais, fora dos “horários de pico”! Cedo pela manhã, no meio da semana, no final de uma tarde, sobrando tempo, ponho tênis e caminho em direção à Duna da Cresmina, onde encontro meu Café favorito e a vista do Mar do Guincho.
Nos finais de semana, com o meu marido, subimos os caminhos bonitos da Mata de Sintra, em direção aos seus palácios, ou vamos nós pelas falésias de praias mais desertas. Revigorante!
Cidade de praia
Falando dela, depois de 18 anos, volto a morar numa cidade de praia, e não é que não perdi a ginga? A água em Portugal é gelada, mas essa característica não me impediu de mergulhar durante o verão.
Morar na praia também permite escolher as horas mais vazias e improvisar paradinhas providenciais: em agosto, incluí 1 hora na Praia da Rainha, no centrinho de Cascais, sempre que por lá precisava passar para resolver pendengas.
Clima
De clima ameno, as estações mudam, mas não são precisamente marcadas, ao menos não deste lado do país. Como exemplo, o inverno é verde e enfeitado pelas flores da época!
Em janeiro passado, a temperatura mais baixa chegou a +5°C. Achei graça porque estavam todos “a morrer de frio”, enquanto a “romena” que eu era seguia feliz da vida, grata pela gentileza do termômetro e os dias bonitos de inverno. Sim, é muito úmido e temos a sensação de frio molhado que tudo traspassa, mas, dede que longe do rigor imposto pela neve, não vejo drama.
História
Para amantes de História, Portugal é diversão garantida. Não apenas os marcos que unem a portuguesa à brasileira estão presentes em museus e monumentos, como existe uma variedade bonita de vilas medievais, ruínas romanas e sítios pré-históricos bem preservados, em vários pontos do país.
A coisa se passa mais ou menos assim: enquanto flana pelas ruas graciosas de Évora tem a oportunidade de visitar a Basílica da Sé de 1250, um Templo Romano do século I d.C. e um dos monumentos megalíticos mais importantes da Europa, o Cromeleque dos Almendres, que data do III milênio a.C.
Jogar conversa fora
Os portugueses adoram e eu também. No trem, praças, corredores de supermercados, mesas de Cafés, na sua maioria gente de mais idade vem pro meu lado a contar casos, divagar sobre o tempo ou pedir opinião sobre marca de sabão em pó e assim aproveitar para me por a par dos destinos de uma família que sequer conheço. Inestimável!
Brasileiras em Portugal
As minhas brasileiras em Portugal foram apresentadas por uma Brasileira pelo Mundo, a Analu Tavares, colunista que se tornou amiga, deixando saudades ao rumar para a Pennsylvania.
É um grupo pleno de sororidade, ombros amigos e boas trocas, preenchendo a ausência que todas sentimos da gente amada que a mudança deixou para trás. Estar com elas faz um bem danado.
Para encerrar, está claro que Portugal e eu ainda estamos de lua de mel; que os próximos textos reflitam o desenrolar dessa vida “a dois”!