O gosto brasileiro pelas Festas Juninas é tradição vinda de Portugal que celebra com fartura os santos de junho. Mas, se especialmente no Nordeste do Brasil, São João é o mais festejado, com direito a feriado e competições entre Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba (na disputa de quem promove o “Maior São João do Mundo”), desse lado do Atlântico o rei da popularidade é mesmo Santo Antônio.
Enquanto no Brasil a véspera de Santo Antônio é data para mimos e jantares entre namorados, em Portugal a coisa toma uma proporção dantesca. Isto porque o namoro de Lisboa com Santo Antônio é antigo, figurando ele entre o mais popular dos santos, num país de católicos fervorosos. Prova da devoção e carinho é que réplicas da imagem do frei franciscano carregando o Menino Jesus nos braços são encontradas em toda parte, do modelo tradicional ao mais pop. E não poderia ser diferente, Antônio nasceu em Lisboa, em 1195, e a igreja a ele consagrada, nos pés de Alfama, foi construída onde acredita-se ter sido a sua casa.
Sobre Antônio, sabe-se que ingressou na Ordem dos Franciscanos, era culto, bom pregador e devotado aos pobres. Passou seus últimos anos em Pádua, Itália, onde faleceu, sendo também conhecido como Santo Antônio de Pádua. A fama de casamenteiro vem da crença de que era um ótimo conciliador de casais.
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Mas, voltemos à festa! A véspera de Santo Antônio é monumental em Lisboa. As ruas são decoradas com luzes e guirlandas coloridas de papel, que cruzam o casario antigo de um lado para o outro. Parece Natal, só que ainda mais animado, porque é quase verão, quase férias escolares e, algo muito importante nesse pedaço do mundo: época de sardinhas! Junte tudo isso e entenda que já durante a tarde do dia 12, o trânsito das principais vias e bairros tradicionais de Lisboa é interrompido. Ganha-se as ruas, assa-se sardinha em qualquer esquina, bebe-se cerveja e a festa vira a noite.
Agora, como não poderia deixar de ser, vamos aos casamentos. Pois bem, casamenteiro que é, Santo Antônio abre espaço para unir em matrimônio quem deseje uma celebração religiosa (e também civil), mas, por alguma razão, ainda não a fez. O projeto foi iniciado em 1958, pelo jornal Diário Popular, com a intenção de auxiliar casais em dificuldades financeiras. Após alguns anos suspenso, desde 1997 a Câmara Municipal de Lisboa ajuda o Santo nessa empreitada, incorporando à cidade a bonita tradição dos casais de Santo Antônio.
Como há grande procura, abre-se a seleção dos noivos no período de janeiro a março. Entre os requisitos, pelo menos um deles deve residir em Lisboa e ambos estar em situação legal apta ao casamento. Os candidatos devem apresentar documentos como cartão do cidadão (ou outra prova de identidade), atestado de residência, certidão de nascimento e foto. As inscrições são feitas na loja do cidadão, em 4 freguesias da cidade: Alcântara, Baixa, Entrecampos e Marvila.
Este ano, no último dia 5 de abril, foram divulgados os onze casais selecionados (e podemos espiar as carinhas felizes deles aqui!) e o casamento coletivo aconteceu ontem, dia 12, véspera do Santo, como manda a tradição! Os noivos têm diferentes idades e formações. Em comum, o desejo pela união que se já costuma ser carregada de emoção, imagine quando a cidade de Lisboa é o palco do casamento e os convidados são toda a gente que por aqui vive e passeia, desejando-lhes votos de amor e felicidade? De arrepiar e fazer noivas (e o pessoal da geral) derramar lagriminhas alegres.
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O percurso começa ao meio-dia, no Paço do Concelho (conselho com “c”, em português versão PT), onde é realizada a cerimônia civil, de lá seguindo para a Sé de Lisboa, onde a cerimônia religiosa será celebrada às 14:00. Detalhe que, para quem não quer perder, os casamentos acontecem na Sé de Lisboa e não na Igreja de Santo Antônio. De qualquer forma, elas são vizinhas e vale visitar as duas! Às 17:30, os noivos saem em desfile pela cidade em direção ao famoso “brinde com água”, no restaurante Montes Claros, em Monsanto. A Câmara faz parcerias com diferentes empresas que bancam as roupas dos noivos, a produção de beleza da noiva, as alianças, a festa e até mesmo a lua de mel.
Uma outra tradição que acompanha os festejos é a entoação das Marchas Populares. Compositores inscrevem suas criações em uma espécie de concurso com tema previamente selecionado, sempre relacionado à Lisboa, que termina por escolher a canção vencedora. O ponto alto da entoação da marcha acontece durante o desfile dos noivos. Esse ano, o tema para a composição evocava uma cidade cosmopolita, que celebra o amor e o futuro prometido por esses casais, enquanto vela por seus cotumes. Por isso, fazendo coro ao tema das marchinhas de 2019: Viva Santo Antônio de Lisboa, Viva Santo Antônio do Mundo!