Sobreviva em ambientes de trabalho predominantemente masculinos.
Sobreviver em ambientes de trabalho predominantemente masculinos tem suas dificuldades no Brasil, principalmente com relação a assédio sexual. Nos Estados Unidos, embora a mulher em geral seja mais respeitada em ambientes corporativos, ser mulher brasileira em posição de liderança em ambientes masculinos também tem seus desafios. Nesse texto tratarei de quatro dicas para sobreviver e ser bem-sucedida nessas circunstâncias.
Após me formar no Brasil, meu segundo emprego foi em uma empresa de manufatura de caminhões. Essa foi apenas a primeira vez em que trabalhei num ambiente predominantemente masculino. Depois disso, tive a oportunidade de entrar na área de logística, e parte do meu trabalho incluía sempre auditar processos operacionais de chão de fábrica. Após meu MBA, assumi a direção de um armazém enorme da Amazon, com cerca de 10 gerentes (todos homens) e mais de 300 associados (80% homens) reportando suas atividades para mim, na Baía de San Francisco. Quem me conhece sabe que tenho 1,58 de altura e liderar um time tão grande e diverso pela primeira vez foi um desafio.
Eu imaginava que estando nos Estados Unidos, onde diversidade é um tema tão em voga, eu jamais sentiria o peso de ser mulher e brasileira, mesmo em ambientes predominantemente masculinos. O que descobri na prática é que mesmo por aqui ainda temos que desconstruir estereótipos e provar em dobro nossa capacidade de liderar quando estamos nesses ambientes.
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Em meu primeiro mês de trabalho, em Chicago, meu gerente no final do expediente se dirigia a mim e queria dividir histórias de seus amigos que foram ao carnaval no Brasil. Uma vez eu lhe perguntei se alguma vez já havia visitado o Brasil. A resposta que ouvi foi: “Para quê? Sou casado! Ir para o Brasil é só pra quem está livre para pegar mulheres para se divertir.”
Em meu terceiro mês de trabalho em San Francisco, fui a uma reunião regional com líderes de operações de toda Califórnia, todos homens, apenas eu mulher. Essa reunião era para discutir a abertura de um novo prédio. Após meio dia de debate fomos almoçar. Depois de comer, estávamos todos voltando a sala de conferência, quando o líder daquele prédio (que mal me conhecia) se dirigiu a mim em frente de todos. Ele disse: o almoço acabou, sei que é brasileira e ama almoços longos, mas aqui na América, nós trabalhamos duro.
Os relatos acima são apenas exemplos de comentários e estereótipos que enfrentamos no mercado de trabalho por aqui. Felizmente, após alguns desses comentários comentei com uma amiga que me incentivou a começar a reportar para o RH tais incidentes. Devido ao medo de um processo judicial e também para não manchar a reputação da empresa, o RH aqui leva denúncias como essas muito a sério. Tive uma excelente experiência com o RH que tomou medidas imediatas para que eu não me sentisse discriminada naquele ambiente.
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Após um tempo nesse cargo, consegui conquistar o respeito de todos no time e fui reconhecida em inúmeras ocasiões.
Como conseguir ser bem-sucedida nessa tarefa? Aqui vão algumas dicas que me ajudaram muito a galgar os degraus corporativos.
- Desafie os papéis de gênero tradicionais. Muitas das vantagens dos homens em negócios não vem necessariamente de seu gênero, mas de “traços masculinos” como autoconfiança e competitividade. Isso não significa que as mulheres devam fingir ser o que não são ou serem agressivas, mas elas têm de vencer o hábito de aceitar o status quo e começar a questionar. Acha que merece um aumento devido a diferenças de salário no mesmo cargo? Vá adiante e discuta isso com seu gerente. Ninguém defenderá seus interesses por você.
- Opine em reuniões. Li uma vez uma publicação da Harvard Business Review que mostrou em um estudo que mulheres são muito menos inclinadas a opinar em reuniões que os homens. O mesmo estudo mostrou que aquelas que falavam, usavam as palavras “perdão”, “desculpe” repetidamente, com um tom inseguro e se deixavam serem interrompidas. Acreditar que sua opinião é válida é o primeiro passo para ser respeitada. Evite palavras e tons apologéticos e seja assertiva. Imponha sua autoridade, mostre seu conhecimento.
- Ajude outras. Escuto muitas histórias de mulheres que sofreram para alcançar altos cargos de liderança e que em vez de serem parceiras das outras que estão começando, parecem querer testá-las da forma em que foram testadas ou competir. Lembre-se que somos tratadas como uma minoria, e portanto devemos nos unir e orientar umas às outras. Seja uma mentora, não uma barreira adicional.
- Networking. Super comum aqui vermos homens se reunindo após o expediente para tomar cerveja ou assistir jogos. Nesses eventos muitas vezes é que se cria um relacionamento entre membros do time. Muitas vezes negócios importantes são fechados. Mulheres devem fazer um esforço para frequentarem tais eventos ou se tem ocupações familiares, ir pelo menos aos eventos corporativos oficiais.
Finalmente, minha última dica: não se vitimize. Se se sentir ofendida, tome uma atitude, denuncie. Muitas conseguiram chegar lá, e não foi por serem passivas ou por pena de alguém. Pelo contrário, venceram porque foram assertivas, opinaram e provaram que estavam errados os que questionavam sua capacidade.
2 Comments
Letícia, seu texto é extremamente importante para nós mulheres. Estamos conquistando nosso espaço cada vez mais, e situações como as que você descreveu infelizmente acontecem muito. As dicas que você informou são efetivas e oportunas! Já estou usando! Obrigada por compartilhar!
Obrigada pelo seu comentario Carleara! Torco sempre para que nos mulheres latinas consigamos encontrar nosso espaco no mundo corporativo! Chega de silencio e submissao.