Tempo para dizer até logo.
Parece que não tem uma maneira fácil de começar este texto. Ele é uma despedida, com ele encerro um ciclo e começo outro. Além de uma despedida, é uma saudação a um novo momento da minha vida.
Moro na Costa Rica desde 2015, sendo que desde janeiro de 2018 moro sozinha, pois meu marido e meu filho voltaram ao Brasil em dezembro de 2017. Eu fui junto de férias e regressei sozinha… a viagem mais dura e solitária que fiz na vida. O motorista que foi me buscar em casa tentou puxar um assunto para ser simpático, mas eu não queria ser simpática, eu queria chorar e não queria que ninguém me falasse, me olhasse. Chorei o caminho inteiro até o aeroporto, entrei no avião e segui chorando, meu coração de mãe sangrava, meu coração de esposa também…
Quando decidimos vir à Costa Rica, meu marido, que é funcionário público, pediu uma licença sem gozo de salário para vir comigo. Essa licença era de 2 anos, depois disso tínhamos que decidir voltar e ele reassumir o cargo dele ou ele exonerar e ficarmos na Costa Rica. A decisão levou meses, não esperava que decidir voltar ao meu país seria tão difícil quanto decidir sair dele. Sensação estranha essa! Mas o meu marido não podia trabalhar aqui devido à condição restringida do visto dele (entenda os vistos da Costa Rica aqui).
Por conta disso, resolvemos rezar, silenciar e conversar. Chegamos à conclusão que a melhor saída para aquele momento era ele voltar e assumir o seu cargo e eu continuar na Costa Rica, por um máximo de 6 meses. Nosso filho voltou também porque seria o melhor para ele, e esse meu guri foi mais maduro que muito adulto quando contamos que iríamos voltar ao Brasil. Sua resposta, no auge dos seus 5 anos, foi: “Se é o melhor para a nossa família, mamãe, vamos!”
Seguramente foi a decisão mais dura que tomamos. Foram os meses mais duros para todos, para mim aqui sozinha e para eles lá no Brasil. Nós somos uma família unida, uma família que se ama, e o tempo que estivemos sozinhos na Costa Rica nos uniu ainda mais. A distância nos feriu muito, não vou dizer que não, mas foi uma decisão de família e sustentada no amor e na confiança em Deus.
Quando eu voltei à Costa Rica, as pessoas me perguntavam como eu estava e a resposta era: “Triste, mas em paz com a decisão.” Eu voltei para o mesmo apartamento que morávamos juntos aqui e entrar pela porta sem ter o meu gurizinho correndo ao meu encontro e me chamando de mamãe, fez o meu coração que já estava sangrando ficar em carne viva. Eu lembro que tive que ir ao shopping para arrumar o chip do meu celular e quando voltei para casa, deitei na cama e chorei tanto até que adormeci. No dia seguinte, me dei conta que não tinha comida em casa, lá fui eu ao mercado para buscar algo e chorei de novo porque era o meu marido que cuidava de tudo, sempre tinha comida nesta casa, me senti sozinha, desprotegida.
Voltei das compras e fui rezar, sentei no sofá da sala e apenas pedi forças a Deus. Eu não conseguia nem rezar…. As palavras não saíam, mas eu tinha certeza no meu coração que Ele estava vendo tudo isso e que eu ia ter forças para passar por esse deserto.
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Retornei ao trabalho. Meses duros no trabalho também – um projeto grande e desafiante –, eu sentia o peso da responsabilidade que estava nas minhas mãos. Trabalhei muito nesses meses, o que foi ótimo, cresci como profissional, como pessoa, como líder.
Passei longe do meu filho e do meu marido algumas das datas mais marcantes do ano, meu aniversário, dia das mães, aniversário de casamento. Meu filho me mandou flores que ele havia feito na escola por fotos, pelo dia da mulher, pelo meu aniversário, pelo dia das mães… Ele participou de uma homenagem às mães na escola que obviamente eu não pude ir, e no vídeo eu vi que ele não estava totalmente satisfeito com aquilo.
O pessoal que trabalha comigo viu que eu estava triste naquela semana que seria dia das mães no Brasil e quando me perguntaram o que eu tinha, lhes contei que domingo seria dia das mães e que isso estava me consumindo… Eles compraram chocolates e escreveram um bilhetinho em português: Feliz dia das mães! – Chorei como uma criança ou melhor, como uma mãe!
No dia do meu aniversário, meu marido e meu filho gravaram um vídeo cantando parabéns. Passei o dia inteiro escutando aquilo no repet. Não era sofrimento ou masoquismo, era presença, era carinho, era saudade!
Durante esses meses eu chorei muito sozinha e, às vezes, me escapou na frente de alguns companheiros de trabalho. Recentemente escutei de um colega que a pressão é que faz surgir um diamante. Ele estava falando isso em outro contexto, mas eu tomei aquilo para mim.
Nesse período eu tive o apoio de muita gente que eu não estava esperando e de quem eu esperava não tive. Sim, criei expectativas, mas foi bom, nas dificuldades a gente aprende a separar joio de trigo.
Meu marido e eu nos unimos mais, apesar de não nos falarmos da mesma maneira (o fuso horário também não ajudou muito). Nosso filho também chorava de saudade…
Bom, esses dias estão por terminar, eu volto ao Brasil no final de junho e por isso me despeço do BPM. Decisões duras de serem tomadas sempre vão trazer momentos duros. Se me arrependo? Não! Doeu, mas o meio passou e o final feliz está chegando.
Uma música tema de tudo isso, para mim, foi “O Sol da Meia-Noite”, do Rosa de Saron. Deixo um trechinho aqui para vocês:
“É estranho e difícil de dizer que está tudo bem
Se há alguma coisa, então venha entender
O quanto só você pode dar um simples passo de cada vez”
Até logo!