4 Presépios de Natal que você precisa visitar em Lisboa.
Por trás dos enfeites da árvore, da comilança e dos pacotes de presentes, aquele presepiozinho bem ali na mesa ao lado, pequeno e discreto, dividindo espaço com vasos de flor e porta-retratos prende os meus olhos desde a época em que acreditava no Senhor Noel.
Acontece que, independente de fé e religião, sempre gostei de uma boa história, com trama intricada, personagens que interagem e um cenário capaz de transportar-nos exatamente para a ocasião em questão. Não sabia eu, mas, em algum momento do século XIII, São Francisco, na Itália, criou o Presépio justamente com essa intenção, a de contar o que ao longo de 2 mil anos cristãos de toda parte costumam ouvir como “a mais bela das histórias”.
E não seria ela mesmo bela? Um Deus Menino, um Rei, nascido em um estábulo de onde a língua portuguesa tirou do latim o seu sinônimo “Presépio” e a criatividade humana naturalmente chegada às narrativas, replica aos moldes e contornos da encenação de Francisco de Assis, saindo da Belém histórica e ultrapassando fronteiras, misturando-se a tradições locais tão ou mais antigas que a Natividade, ganhando a vida de gente que a repete e dela apropria-se porque a beleza da história passa a pertencer ao repertório sacro e mágico de todos nós, sejamos crentes ou não.
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Hoje, véspera de Natal, dou-lhe novamente vida ao falar sobre a tradição portuguesa dos Presépios.
O Presépio em Portugal
Em Portugal, a tradição do Presépio iniciou-se no século XVI. Como por toda parte, monta-se no dia do Advento, o quarto domingo antes do Natal, quando a Igreja Católica abre as festividades natalinas (este ano foi no dia 2 de dezembro), e desmonta-se em 6 de janeiro, o dia dos Reis.
Apesar de o terremoto de 1755 ter destruído muitos deles, ainda podemos apreciar nas principais igrejas de Lisboa a beleza barroca dos Presépios do final do século XVIII, como os conjuntos atribuídos ao escultor Machado de Castro, que ganhou fama com as obras grandiosas da Basílica do Convento de Mafra.
Os Presépios desta epoca são famosos pela riqueza de detalhes, com diferentes cenas desenrolando-se durante o nascimento do Menino. De forte iconografia, trazem símbolos e figuras típicas da vida portuguesa da época, como moinhos, lavadeiras e vendedores ambulantes.
Dando seguimento ao costume, os anos seguintes também abrigaram novas reproduções, naturalmente mais simples que as barrocas, mas não menos significativas. Para conhecê-los e compará-los, traço um roteiro natalino de visitas que pode ser feito até o dia 6 de janeiro, cruzando as 7 colinas e conhecendo 4 igrejas de grande significado em Lisboa. Vamos a elas!
Sé de Lisboa
A Catedral lisboeta, próxima ao bairro da Baixa, abriga um Presépio precioso do século XVIII, com cerca de 500 figuras e assinatura do próprio Castro Machado.
Além dos tradicionais pastores, os demais personagens repetem a lógica da vida cotidiana: comadres observam o movimento da rua do alto de uma janela, moleiros trabalham em seus moinhos, alguém compra ovos de um vendedor e guarda-os no avental, uma moça carrega um tacho na cabeça com o que parece ser bolinhos e assim por diante, enquanto a orquestra celestial dos anjos saúda o Menino Jesus, ao lado de Maria e José.
Chamou-me especial atenção a quantidade de crianças espalhadas pela cena: meninos dando piruetas, bebês nos colos, criancinhas puxando a barra da saia das mulheres e um pequenino a oferecer algo ao Menino Jesus, encorajado pela mãe ajoelhada às suas costas.
Nossa Senhora dos Mártires
Localizada na movimentada Rua Garret, em pleno coração do Chiado, a Paróquia dos Mártires expõe um exemplo bonito do barroco português, com cerca de 100 figuras em terracota atribuídas ao mestre Castro Machado.
Se o Presépio da Sé parece ser de alguma maneira mais elegante e ordenado, o dos Mártires conquista pela evolução um pouco caótica dos personagens, deixando a sensação da vida de todo dia.
Chamou-me a atenção o fato dele apresentar outras passagens bíblicas além do nascimento de Jesus, tais como o massacre dos inocentes e a fuga para o Egito.
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São Vicente de Fora
A Igreja de São Vicente, em Alfama, padroeiro oficial de Lisboa, apresenta-nos o Presépio já mais simplificado do século XIX, onde figuram apenas os personagens tradicionais.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima
Já a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no Campo Pequeno, leva-nos de volta ao século XX não apenas pela arquitetura da construção, mas também pelo belo Presépio de linhas limpas da escultora portuguesa Amélia Carvalheira.
Como dizem por aqui, “gostei imenso” dessa simplicidade que narra com pureza a espera do Menino nascer e espera-se mesmo: dos quatro Presépios, é o único em que a manjedoura ainda está vazia, aguardando a Noite de Natal, quando durante a Missa o Bebê Jesus será entronado em seu berço de palha.
Uma história universal
Em Recife, Nordeste do Brasil, onde nasci e cresci, encenamos o Baile do Menino Deus, quando vaqueiros, pastoras, repentistas e o próprio bumba-meu-boi ocupam o Marco Zero da capital pernambucana fazendo uma grande festa, um “baile”, para comemorar a chegada do Menino Jesus.
Na Provença, Sul da França, terra do meu marido, além da tradição dos santons (bonequinhos de terracota vestidos no estilo folclórico que compõem o Presépio montado no que seria uma mini vila local), celebra-se a Missa do Galo com a representação do Presépio vivo.
É quando temos a graça, por exemplo, de assistir à entrada na Catedral de Salon de Provence de “Maria” sentada em um burrinho com o bebê “Jesus” nos braços (geralmente o filhinho da moça), acompanhada por “José” (de costume o pai da criança), pelos pastores (carregando ovelhinhas de verdade) e longo cortejo de camponeses vestidos à provençal, cantando músicas e dançando danças da região.
Penso eu ser este o verdadeiro encanto por trás da história do nascimento de Jesus, é o poder traduzi-la de acordo com os nossos costumes, recontando-a, cada povo, nas cores dos seus personagens, roupas e canções e assim permitindo, por ser universal, que mesmo estrangeiros nela reconheçam-se.
Ao misturarmos anjos com moleiros e vaqueiros, o sagrado com o corriqueiro, lembramos de que verdadeiros milagres acontecem todo dia: por mais comum e ordinário que esse dia seja, existe um Deus Menino nascendo em um estábulo e soprando-nos esperança.
Feliz Natal!
2 Comments
Cristina,
Estive a tua procura … não sei o que aconteceu ao Facebook … não consigo entrar em contato contigo. Está tudo bem por aí? Diz alguma coisa, please 🙂 Espero que tenhas tido um bom Natal e te desejo um 2019 repleto de sucessos pessoais e profissionais. Um grande beijinho
Olá Cristina,
Vou fazer a visita ou pelo menos parte dela.
Um beijinho!
Vai dando notícias 🙂