O nascimento de uma criança é um dos acontecimentos mais profundos da existência humana e, por isso mesmo, sempre foi e ainda é cercado de tradições e rituais em todos os cantos do planeta.
A história, os costumes e a cultura do país influem de forma significativa nas tradições que envolvem os nascimentos. A origem de muitas delas se perdem nas névoas do tempo.
Manter envolto em segredo o sexo e o nome do bebê até o dia do nascimento é o que prevalece aqui na Holanda. A justificativa para tal mistério é que, desta forma, o casal fica à vontade para escolher o nome que quiser e evita escutar opiniões alheias que são muitas vezes descabidas.
Assim que o bebê nasce os pais enviam a todos os amigos, conhecidos e familiares um cartão de nascimento (geboortekaartje) que informa o nome da criança, peso, altura e outros detalhes que queiram compartilhar. Além disso, o cartão diz quando e se a mãe irá receber as visitas.
A origem dos cartões de nascimento situa-se em meados do século XIX, quando as pessoas passaram a sentir necessidade de anunciar a chegada dos novos rebentos, mas no início eram apenas simples cartas e não os cartões elaborados de hoje. Nos períodos de pós-guerra apenas os ricos tinham condições de fazer tais cartões. Atualmente, existem sites especializados em geboortekaartjes: o casal escolhe o modelo (podendo modificar algo se quiser), insere os dados e envia o pedido. Prático e eficiente.
A maioria das pessoas que recebem um geboortekaartje enviam outro cartão de felicitações de volta. Muitas mães fazem um álbum com eles para guardar como recordação.
Colocar a imagem de uma cegonha no jardim ou na janela também é uma das antigas tradições que acompanha o nascimento dos bebês aqui na Holanda. Esse costume remonta ao século XVIII e é originário da Alemanha. Simbolicamente a cegonha é aquela que traz a sorte e, sendo assim, tem a missão de trazer a alma para o corpo do recém-nascido para, desta forma, garantir que ele tenha uma vida feliz.
Hoje em dia, junto com a imagem da cegonha, algumas pessoas colocam também enfeites e frases que dizem: “Hoera !! is een meisje”( Hurra!! É uma menina) ou “Hoera!!! Is een jongen” ( Hurra!! É um menino”). Aliás, divulgar acontecimentos importantes como nascimentos, aniversários e passagem de grau escolar na frente das casas é costume por aqui ( para saber mais leia meu texto sobre o aniversário de 50 anos).
Durante a visita à mãe e ao recém-nascido, é oferecido além de café e chá, a beschuit met muisjes, que é uma espécie de torrada com manteiga coberta com bolinhas feitas de anis e açúcar.
Acredita-se que essa tradição de visitar mãe e bebê e ganhar algo gostoso para comer, para assim comemorar o nascimento, começou na Idade Média. Nessa época, devido às precárias condições médicas e de higiene, o número de mulheres e bebês que morriam durante o parto era muito alto. Por isso, um parto bem sucedido (no qual mãe e criança sobreviviam) era motivo de comemoração.
Toda a vizinhança se envolvia no acontecimento e as crianças ganhavam uma fatia de pão com açúcar. É importante lembrar que o açúcar era uma iguaria muito cara, portanto, ganhar uma fatia de pão com açucar era de fato bem especial. Quanto ao anis, além de ser utilizado na culinária e como bebida, a ele também era creditado propriedades curativas. Então, no século XVII dizia-se que era bom para a parturiente comer anis ou beber anisette para ajudar na produção de leite e na recuperação do útero. Acreditava-se também que isso afastava os maus espíritos.
É praticamente impossível determinar quando beschuit met muisjes que conhecemos hoje surgiu, o que se sabe é que é uma junção das tradições que mencionei acima e que o beschuit era somente para os ricos, as pessoas comuns comiam pão branco comum.
As muisjes, que são as bolinhas de anis com açúcar, são azuis e brancas para meninos e rosa e brancas para as meninas e podem ser compradas nos supermercados.
Essas são as típicas tradições holandesas pré e pós nascimento, mas e quando o casal é multicultural, como acontece? Na verdade fica a critério de cada casal decidir.
As tradições tendem a enriquecer quando as culturas se misturam!.