Junho chega e com ele, o tão esperado verão na Espanha. É verdade que o verão, em alguns países da Europa, pode ser bastante ameno, chegando a ser, muitas vezes, mais frio que muitos dias de inverno na minha tão saudosa São Paulo. Digo isso por experiência própria: em Dublin, a temperatura máxima, no verão, era de 24º C e, geralmente, essa frente de calor durava uma semana.
Felizmente não é isso que acontece em Madrid. Ou infelizmente… Ainda não estou a tempo suficiente na cidade para chegar a uma conclusão: cheguei ao final de julho de 2015, mas já deu para sentir que o verão de Madrid não é de brincadeira, como era o verão irlandês. Inclusive, me lembro que diziam que as temperaturas em toda a Espanha estavam absurdamente altas, mas eu pensava “tenho vivido em um verão eterno há cinco anos! O verão de Madrid vai ser fichinha!”. Não foi. Por causa do calor, não consegui dormir – e me comentavam que nas semanas anteriores tinha sido pior.
Em geral, agosto costuma ser o mês mais quente do ano (em 2015, foi julho). Nessa época, casas com ar-condicionado são luxos e se agradece quando há uma piscina disponível durante a semana. Nos fins de semana, as temperaturas altas expulsam os madrilenhos da cidade, que fogem para qualquer lugar onde se possa respirar ar fresco: a serra de Guadarrama e Valência, onde muitos madrilenhos têm casas de veraneio são dois dos destinos escolhidos. Ninguém, além dos turistas, quer ficar por aqui, além do que é necessário, e não é raro encontrar lojas e restaurantes fechados, com placas indicando que os lugares somente voltarão a abrir no final do mês. Se não houvessem roubado meu celular, eu teria fotos para provar…
Durante algumas semanas do verão, muitas empresas colocam em prática a jornada intensiva: nesse tempo, se conseguimos terminar o que tem que ser feito, podemos sair ao completar seis horas de jornada laboral. Inclusive talvez seja esse um dos motivos pelos quais muitos restaurantes fecham suas portas durante essa época.
Sim, é um luxo poder trabalhar meio período e poder aproveitar o dia, mas as horas que trabalhamos a menos durante essa época devem ser compensadas durante todo o resto do ano, quando trabalhamos nove horas mais a hora do almoço. No fim, passamos, no mínimo, dez horas diárias no escritório durante quatro dias da semana – há jornada intensiva em algumas empresas nas sextas-feiras também. Há vantagens e desvantagens, mas, particularmente, gosto da ideia de poder sair cedo durante a maior parte do verão e aproveitar dias que durarão até às 22h.
Para aqueles que decidiram ficar, a cidade oferece inúmeras opções de diversão nessa época. Há inúmeros bares, com mesas espalhadas, em pracinhas ou calçadas ao redor da cidade, onde se pode sentar e tomar uma refrescante cerveja ou um tinto de verano, que é a mistura do vinho tinto com soda – eu, particularmente, gosto da clara con limón, que é a mistura da cerveja com a soda. E por que não ver o por do sol, acompanhado do tradicional vermut ou de um gin tonic – feito com Gin Mare, um dos meus favoritos – e uma tapa? Dizem que a vista do bar localizado no telhado do Círculo de Bellas Artes, na calle Alcalá, é incrível!
Inúmeros parques estão espalhados pela cidade e suas árvores oferecem o abrigo contra o sol quente. Por que não fazer então um picnic no Retiro? Esse parque, localizado no Paseo del Prado, é incrível e oferece, além das árvores, diversos pontos de interesse, como a intrigante Fuente del Ángel Caído (lembre-se que Satanás era o anjo caído segundo se conta), obra de Ricardo Bellver, o belíssimo Palácio de Cristal, que abriga exposições temporária de arte contemporânea, e o estanco, um lago artificial onde quase se pode voltar ao passado ao ver os barquinhos navegando pelo lago.
Outro parque que se pode visitar é o Campo del Moro. Localizado na parada de metrô de Principe Pio, ele é bem menor que El Retiro, mas oferece uma vista incrível da fachada ocidental do Palácio Real. Ele é assim chamado porque em 1109, com a morte do rei Alfonso VI, foi o local onde os mouros acamparam ao tentar conquistar a Plaza de Madrid. Por ser bem menos conhecido, ele costuma ser mais vazio e bem menos frequentado pelos turistas que costumam ocupar a cidade.
Caso se queira exercitar, caminhar ao longo do Manzanares, também conhecido como Madrid Rio, é uma excelente opção. O parque, que ocupa 6 km de sua extensão, conta com uma vasta pista onde se pode andar de bicicleta, caminhar ou correr e, caso isso não baste, ainda se pode caminhar pela Casa de Campo, o maior parque público da cidade. Caso o intuito seja se refrescar, além das inúmeras piscinas públicas na cidade, no parque de Arganzuela, também às margens do rio, está localizada a praia urbana, com três recintos aquáticos que produzem diferentes efeitos, como jatos de água e água pulverizada.
O meu primeiro verão em Madrid passei de férias… Esse será o primeiro verão que passarei enquanto trabalho. Já sei que vou reclamar do calor intenso, mas vou aproveitar o máximo dos dias longos e passeios ao longo do rio, algo que já venho fazendo desde que a primavera chegou e o horário de verão começou. O bom é que eu sei que, quando não puder aguentar mais, quando o calor atingir o seu limite, o outono chegará, com sua brisa fresca e belíssima paisagem… Ah! As belezas de se viver em um país com estações…