Violência doméstica Pelo Mundo.
Este é um texto que escrevo realisticamente, porém de todo o coração, solidária a todas as mulheres que sofrem por conta de relacionamentos abusivos, por estarem sozinhas e, muitas vezes, por terem filhos e estarem “presas” em um país qualquer deste mundo, passando por diversas dificuldades.
Não estou aqui para julgar, pelo contrário! Quero dividir histórias e conhecimento que possam ajudar a quem esteja prestes a tomar uma decisão extremamente séria. Não escrevo sobre um país específico ou pessoas de uma determinada nacionalidade, mas sobre todos os lugares e pessoas, pois há bem e mal, felicidade e tristeza, apoio e solidão em qualquer lugar do mundo.
É a experiência de cinco amigas minhas que estão em lugares diferentes do mundo que me inspirou a escrever esse texto. Ninguém pode ter certeza de estar livre desse destino, eu mesma passei por isso e não foi com estrangeiro não, foi no Brasil mesmo. Mas estando lá, quando tive forças para “sair fora”, foi bem mais fácil, pois ali era meu território também, tinha para onde correr e em quem me apoiar.
É muito comum que pessoas que se apaixonam e vivem em países diferentes se casem muito rápido depois de se conhecerem, e é de se entender o porquê. Você está apaixonada, quer viver seu grande amor e nem um nem outro podem imigrar simplesmente por quererem. A reunião familiar é a melhor possibilidade de tornar isso uma realidade, então, por que não? Por que não dar uma chance ao amor?
Apesar de minha história nada ter a ver com essa, pois já morava aqui quando conheci meu marido, não sou contra dar esse passo. Eu também faria isso se me apaixonasse por um estrangeiro e a única forma de viver nossa história fosse casando. Mas ao tomar essa decisão aconselho que você se previna de todas as maneiras, pois, na maioria dos casos, é só depois do primeiro ano de casamento que o sonho vira pesadelo.
Quase todas as histórias que conheço se desenvolveram assim: o casal se conheceu online ou durante viagem de férias ou negócios, se apaixonaram, um visitou o outro pelo menos uma vez e, por conta de quase todos os países só permitirem que se traga um parceiro (a) se vocês forem casados de fato, o casamento aconteceu bem rapidamente, normalmente no primeiro ano do relacionamento que teve sua maior parte levada à distância.
Essa experiência normalmente não é suficiente para que os casais testem sua compatibilidade, pois as incompatibilidades muitas vezes demoram a aparecer, vêm com as experiências do dia a dia, normalmente depois que a rotina se estabelece. No período de “lua de mel” normalmente não há TPM, não há crises de ciúmes, não se perde a paciência, tendemos a mostrar somente o melhor de nós mesmos. Mas quem já teve outros relacionamentos sabe que isso acaba. Como vocês são quando estão zangados, irritados e de mau humor? Como reagem com a maneira pela qual se relacionam com seus amigos, principalmente os do sexo oposto? Os dois ou um dos dois têm ciúmes dos “ex” e não toleram amizades desse tipo? Como lidam com o ciúme? Como é seu parceiro quando bebe e o quanto e o quão frequentemente ele bebe? Quais são as coisas que vocês mais gostam e odeiam um no outro? Quais são os programas que estão acostumados a fazer e que não mudarão mesmo depois que se casarem? Vocês levam hábitos um do outro numa boa? O quão diferentes são os valores, as crenças e a cultura de vocês? Há muito a questionar num relacionamento e só depois que você sabe essas respostas é que pode dizer que realmente conhece seu parceiro. Ninguém é carinhoso e gentil 100% do tempo e isso inclui você, mas como se reage a isso é que pode ser um problema.
Considerando as histórias de minhas amigas, eu diria que há algumas medidas preventivas que podem ajudar:
Tenha sempre seu passaporte em dia, num lugar seguro ao seu alcance, e dinheiro para comprar uma passagem. Sempre! Tenha também o endereço e o telefone da embaixada do Brasil e pesquise sobre abrigos e ONGS que ofereçam apoio a mulheres que sofrem violência no país para onde você pretende se mudar (aqui no diretório do BPM você pode conhecer algumas dessas instituições pelo mundo). Isso não é paranoia, é precaução. Ter essa informação em mãos pode não só salvar sua vida, mas fazer com que você salve a de alguém.
Assim que se mudar, comece a cuidar de sua independência e integração. Se estiver num país onde você não sabe a língua, procure um curso, não se negue a aprender. Pense que saber o idioma te proporcionará resolver seus problemas sozinha, começar uma carreira, estudar, começar um negócio próprio, estar ativa na sociedade. Por mais “chato” que um curso ou programa de integração possa ser, não deixe essa oportunidade passar.
E aqui vem o conselho mais importante que deixo, baseando-me na dor de minhas amigas: pense bem antes de ter filhos logo. No caso de todas elas, os maridos só mostraram mudança de comportamento no segundo ano de casamento e foi entre este período e o terceiro ano que a situação se tornou insustentável.
Todas, sem exceção, tiveram filho no primeiro ano do casamento, três delas porque o marido queria mais do que tudo ser pai logo e, de maneira romântica, como um príncipe encantado, as convenceu de que aquele era o melhor momento.
E por que ter um filho antes de estar totalmente integrada pode ser um problema?
Porque muito provavelmente você não poderá ir embora do país com seu filho se o relacionamento não der certo. Mesmo que fique comprovado que o pai da criança é violento, abusivo, alcoólatra ou usuário de drogas, por exemplo, ele não perderá o direito de ser pai da criança. Caso ele não ceda a guarda totalmente a você e não permita, em juízo, que você vá embora com a criança, dependendo do país até se ele for preso, continua a ter direitos. O juiz pode determinar visitas supervisionadas e coisas assim, mas dificilmente permitirá, sem o pai querer, que você saia do país com a criança.
Num dos cinco casos que acompanho, o ex-marido não permite nem mesmo que minha amiga viaje de férias por 15 dias com a criança, alegando que não confia nela e que acha que ela não voltará. Ela está na justiça tentando reverter a situação, mas há chances do argumento do pai prevalecer. Sozinha, sem falar o idioma e com uma criança pequena, minha amiga não consegue emprego, tem que viver de ajuda social e está tendo muitas dificuldades em melhorar de vida.
Em todos os casos que conheço as mulheres estão obrigadas a viver nos países dos ex-maridos por causa dos filhos e não há absolutamente nada que o Brasil possa fazer por elas. Isso se aplica a quase todas as situações, pois a criança é cidadã do país em questão. Mesmo que seu filho tenha nacionalidade brasileira também, a nacionalidade do país onde o cidadão binacional está no momento sempre prevalece.
Aqui no BPM temos categorias com textos somente sobre histórias de relacionamentos online e interculturais, conheça as histórias felizes, mas não vire as costas para as tristes.
No mais, desejo acima de tudo, que você seja feliz.
11 Comments
Um texto muito bom e informativo. Quando me mudei para a Polônia consegui obter o visto de intenção de casamento. Me concederam um ano e meio de visto sem que houvesse a necessidade do casamento para permanecer legal. Foi um periodo suficiente para me adaptar, conseguir um emprego e fazer um test-drive com o namorado. Aliás, após esse periodo, decidi que seria melhor para nós dois morarmos sozinhos e namorar com calma – como aconteceria no Brasil se ele fosse brasileiro. Textos como esse são MUITO importantes =) Parabéns!
Olá Thais!
Muito obrigada por compartilhar sua experiência. Este visto ao qual você teve direito quando mudou para a Polônia era possível aqui também mas a lei mudou recentemente. No entanto, aqui na Finlândia, sempre foi um pouco complicado porque o fato deste ser um visto temporário, ele não dava direitos de seguro social e nem de trabalho. A pessoas tinha de ser 100% sustendada e ter seguro de saúde privado e o companheiro ou companheiro tinham que fazer uma declaração de renda comprovando poder arcar com essas despesas. Agora, pelo que sei, não é mais possível em hipótese alguma.
Quanto a forma como você se preparou para tomar sua decisão, espero que inspire a outras mulheres. Um abraço
Muito bom, e muito bem colocado os seus pontos amiga. É mesmo de extrema importância pensar nessas questôes.
Devo só acrescentar aqui uma questão importante que é sempre bom lembrar, para NUNCA assinarem um documento sem saber do que se trata, sem perguntar para alguma pessoa de confiança, de lembrar que tem direito de pedir tradutor antes, (pois numa dessa ja vi gente que ficou sem o direito de nem acessar a conta bancaria que foi limpa antes mesmo dela sair de casa). E de lembrar que quando estamos viajando e fora do nosso País tudo muda de figura, é novidade, diferente e tal, mas que teräo os dias mais cinzas, que acontecem e principalmente passando por uma mudança e somando isso a possibilidade de engravidar. (e de ter a vida de mãe longe da familia e sem ajuda o desafio aumenta ainda mais)
Querida Aime,
Muito obrigada por suas palavras que tanto acrescentam a este texto. Conselhos importantíssimos que espero que cheguem ao conhecimento de outras mulheres.
Muito bem explanada sua explicação e preocupação.
Infelizmente acontece muito casos assim, seja dentro ou fora do Brasil.
Obrigada Adriana.
Eu sei, infelizmente a violência doméstica é um mal constante no mundo. Mas espero que verdade que meu texto ajude a inspirar algumas mulheres para quem pensem nas questões colocadas antes de tomar a decisão. Um abraço
Parabéns pelo seu texto e pela sua sensibilidade para com as mulheres que sofrem abusos.
Pingback: » Violência contra a mulher na Finlândia
Como são os homens turcos com as brasileiras? Quais os diretos de pai se seu filho nascer no Brasil com brasileira?
É Maila, só no Brasil que as leis não são severas. Aqui os estrangeiros fazem o que quer. Antes de qualquer mulher deixar seu pais por alguém, tem que estudar os prós e os contra primeiro. Parabéns pelo seu artigo. Muito exclarecedor!!
Abraço!!
Gilson, muito obrigada por seu comentário.