Chegou a hora de voltar ao trabalho depois da licença-maternidade na Finlândia. Foi 1 ano sendo 100% mãe; sem babá, sem diarista, sem a ajuda da vovó, sem folga. E apesar de sim, ser muito cansativo, bem mais do que trabalhar fora, eu amei cada momento e esta transição está sendo muito difícil.
A Finlândia é considerada o segundo melhor país do mundo para ser mãe, ficando atrás apenas da Noruega. Isto se dá por diversas razões, desde o período pré-natal até a criança completar 17 anos de idade. Escrevi sobre benefícios e sobre como funciona a licença-maternidade em meu texto de maio de 2015 que você pode ler aqui.
É importante mencionar, no entanto, que os benefícios não são uma fortuna, mas sim uma ajuda que permite a algumas mães ficar com a criança até ela completar três anos de idade. No meu caso isso não foi possível, fiquei um ano de licença. Vamos aos porquês…
Depois que o período oficial da licença termina você pode optar por usufruir do período de licença-livre, que pode durar até os 3 anos de idade da criança. Nele você passa a receber por mês uma pequena ajuda de custo que varia de acordo com a renda familiar. Este benefício não costuma ser inferior a 300€ e nem superior a 500€ e não é acumulativo por número de filhos. Quem tem mais de um filho com menos de 3 anos de idade recebe um adicional por criança, mas não o valor inteiro.
Importante mencionar que se você opta por ficar com a criança em licença-livre, para receber o benefício não pode colocá-la na creche nem mesmo por algumas horas por semana. Um amiga minha precisou deixar os filhos em uma creche por um dia por conta de problemas pessoais e teve um corte de 150€ no benefício. Portanto, se você faz esta opção, tem que ter em mente que terá que continuar a ser mãe em período integral.
Para mães com emprego fixo, existe a possibilidade de se voltar a trabalhar somente por meio-período até a criança atingir os 6 anos de idade. Eu adoraria fazer isso por pelo menos um ano mais, no entanto, no caso do meu trabalho, não acho justo com os que dependem dele. Exerço uma função que para o bem de meu departamento ou eu volto de vez ou fico fora por mais um ano, com um substituto em horário integral.
O que realmente pegou na hora deu optar por voltar foi a questão financeira. Sei que o governo não deixaria nada faltar para o meu filho, mas aceitar viver com o mínimo do mínimo, passando por toda a burocracia de “bolsa disso, bolsa daquilo”, sabendo que você poderia dar mais e fazer mais planos futuros trabalhando, acabou pesando em minha decisão.
Mas é claro que doi. Desde que ele nasceu não há um dia sequer em que todos os meus planos e interesses não girem em torno dele. Há um ano que eu: mulher, vaidosa e viciada em trabalho, não existo. Sou somente mãe. Passo meus dias de moletom e camiseta, sem nem me olhar no espelho. Me desapeguei totalmente de coisas antes corriqueiras como fazer as unhas, exercício na academia e maquiagem, a não ser em alguns dias especiais. Mas sabe de uma coisa? Isso foi muito bom para mim.
Fui criada no Rio de Janeiro, numa região em que o culto ao corpo e à aparência é muito cruel. Você é julgada constantemente desde pelos sapatos que usa até pelo elástico de cabelo. Aqui na Finlândia isso não existe na mesma proporção, cada um se veste como quer em todos os lugares. Indo a uma boate a noite você verá desde gente usando terno e vestido longo, até jeans e camiseta. Sempre admirei isso, mas nunca me dei esta liberdade de forma tão verdadeira como fiz durante o período de licença. Foi muito bom para mim aprender que um par de tênis é muito mais confortável para ir ao supermercado do que botas de salto. Foi importante também ver que eu fico bonita nas fotos sem maquiagem e que não preciso ser escrava dela.
Aprendi a dar muito mais valor do que eu dava antes às mães solteiras e donas de casa por opção. O trabalho que dá cuidar sozinha de um bebê e dos afazeres domésticos é surreal. Tenho muita sorte por meu marido ter tido uma criação muito boa, voltada para a independência e igualdade dos gêneros, com a consciência clara de que a casa e o filho são dos dois, portanto, a obrigação de cuidar deles também. E também pelo fato dele entender todo o trabalho que dá ficar sozinha com o bebê o dia inteiro. Ele me ajuda em tudo e não espera que por estar em casa eu tenha tempo e disposição para todos os afazeres domésticos, principalmente cozinhar e passar aspirador na casa. Tem dias que simplesmente não rola.
Mas claro que este não é um período somente de dificuldades. Pelo contrário, todo o cansaço compensa. Não há nada mais maravilhoso do que ver seu filho crescer e do que poder estar presente durante cada nova descoberta, de ser você o grande intermediário de cada conquista dele ou dela. De ser em você que ele dará o primeiro abraço e fará as primeiras demonstrações de afeto. O primeiro ano é muito importante, deveria ser lei no mundo inteiro que a mãe pudesse ficar no mínimo este período com a criança.
Outros pontos positivos de ser mãe na Finlândia são:
- a estrutura fantástica nas ruas e em todos os transportes públicos, pois há lugar especial para mães com carrinhos de bebê;
- a facilidade que existe em se comprar coisas de segunda-mão, como carrinho, móveis, roupas e etc, com qualidade excelente. Isso se você não ganhar essas coisas como doações de amigos que já tiveram filhos. Eu tive esta sorte e achei maravilhoso, foi algo que até me emocionou. Isso aqui é cultural e independe da classe social;
- em todos os shoppings e restaurantes há um local limpo para se trocar a fralda do bebê. Em alguns eles inclusive disponibilizam um salão que além de trocador tem micro-ondas e cadeirinhas de comer;
- os municípios disponibilizam em alguns bairros as chamadas ”creches abertas”, que são creches completas cheias de brinquedos e atividades, tudo gratuito, em que as mães podem passar o dia com seus filhos e socializar umas com as outras. Você só não pode deixar a criança lá;
- sempre há atividades culturais para se fazer com as crianças, ou de graça ou muito barato;
- na área metropolitana de Helsinque, mães com crianças no carrinho não pagam passagem em transporte público (na verdade isso vale para qualquer pessoa que esteja como acompanhante da criança);
- isso já foi mencionado em meu texto de maio: médico, vacinas, dentista, tudo é 100% gratuito;
- as creches públicas são pagas mas não há um valor específico. Ele é calculado de acordo com a renda familiar;
- caso você precise ir a algum lugar por algumas horas e não tenha com quem deixar seu filho, o município oferece uma profissional que pode ficar com a criança para você, de segunda à sexta-feira, em horário comercial. Este serviço é pago por hora. Em Vantaa, cidade onde moro, o valor fica entre 9,30€ (até duas horas) e 25,20€ (até 8 horas). Eu nunca usei o serviço mas ele pode ser muito útil caso você precise ir a algum lugar que não seja bom para a criança ou caso você fique doente e não tenha ninguém para te ajudar;
- há muitas atividades para bebês, como natação e aula de música. Estes serviços são particulares e são pagos, mas não são muito caros, principalmente se você fizer somente uma vez por semana.
No mais é isso, caso tenham perguntas sobre o assunto, fiquem à vontade para escrever nos comentários. Até o mês que vem!
8 Comments
Mais uma vez tenho que concordar com as estatísticas que nomeiam os países nórdicos como os melhores do mundo para ser mãe. Não sei se por aí tem também mas uma coisa que achei bem interessante por aqui foi ver um trocador para bebês num banheiro masculino, próximo à estação Nørreport do metrô em Copenhague. Acho o máximo que os homens participem tanto da criação dos filhos por aqui 🙂 Beijos
Olá Cristiane!
Sim, eu já vi trocadores em banheiros masculinos por aqui também. Esse estímulo a participação do pai em todos os segmentos é fantástico, aplaudo de pé.Um beijo!
ah Maila , fiquei muito emocionada com seu texto e com a sua transição para mãe e dona de casa,por esse período de um ano. Eu sei por experiência própria como essa transformação de profissional ativa para “do lar” pode ser dura em alguns momentos. No meu caso , ainda vou permanecer assim um tempo, até minha filha ter 2 anos ou pouco mais, e por mais cansativo que seja não há preço que pague a oportunidade de ver os pequeninos crescendo e descobrindo o mundo. Por aqui, as facilidades não são tantas como na Finlândia, mas há algumas. E realmente a participação dos homens é mais ativa aqui por essas bandas. Muito comum ve-los carregando bolsas, bebes e tudo mais. 🙂 Obrigada por compartilhar sua experiência. Bjs
Olá Cintia,
Muito obrigada por seu comentário. Fiquei feliz por você ter gostado do post e por compartilhar dos sentimentos. Acho maravilhoso que você tenha a oportunidade de ficar mais tempo com sua criança, isso realmente é tudo de bom. Um beijo
Os países nórdicos não só são os melhores para ser mãe como para se viver com respeito e dignidade. Adorei o texto como sempre. Lilian Hostyn Riippa.
Parabéns pela matéria! Aqui na Itália as garantias para as mães são poucas e quem pode conta com o apoio familiar, difícil no caso de expatriadas.
Obrigada, Anelise! Os países nórdicos realmente são um exemplo para o mundo neste quesito. Um abraço
Olá, minha irmã mora na finlandia há 25 anos, e me chamou ára ir marar ai, tenho uma esposa e duas filhas 15 e 18 anos, ela mora em jyvaskila, e devo estar me mudando em julho desse ano, minha esposa é profissional de manicure e eu fiz um curso de massagista, sou aposentado, perdi uma vista em troca de tiros trabalhando em carro forte, sabe como é, Rio de Janeiro, Brasil e sua violencia, estou vendendo um ap para ir , vou tentar meu futuro e principalmente o das minhas filhas. Grande abraço. Se puder me recomendar algo, ajudaria muito, desde já, meu muito obrigado e que Deus abençoe vc e sua familia!!!
Meu e-mail ; hugobaldissara@hotmail.com