3 mulheres peruanas que você precisa conhecer.
Mães, rainhas do lar, estudantes, atrizes, cantoras, revolucionárias ou tudo isso em uma mulher só. Para homenagear as mulheres em seu mês (que, pra mim, é todos os dias), hoje trago um texto contando um pouco sobre a vida de três mulheres que marcaram a história do Peru.
Yma Sumac
Nascida na cidade de Ichocán (Cajamarca), em 13 de setembro de 1922, Zoila Augusta Emperatriz Chávarri del Castillo, possuía uma voz única! Conhecida como Yma Sumac, escolheu este nome, que em quéchua significa “qué bela”, porque dizia ser uma princesa inca, descendente do último imperador, Atahualpa.
Ainda muito jovem veio pra Lima, onde conheceu Moisés Vivanco, compositor e diretor da orquestra de Lima, com quem se casou em 1942. A partir daí, começou uma turnê pelo continente americano com sua prima Cholita Rivero.
Yma dizia ter aprendido a cantar escutando o canto dos pássaros. Sua voz alcançava cinco oitavas, enquanto outras cantoras líricas alcançavam duas oitavas e meia. Quem entende de canto sabe que essa é uma voz impressionante, veja aqui!
Com sua voz, digamos exótica, Yma Sumac chegou aos Estados Unidos, onde ficou tão famosa que seu disco figurou entre os cinco mais vendidos do país, e logo começaram a inventar histórias, dizendo que ela havia nascido no Brooklyn e que seu verdadeiro nome era Amy Camus, ou Yma Sumac ao contrário (!). Participou de um musical e gravou quatro filmes, entre eles “Secreto de los Incas” de 1954 (tem na Netflix), onde interpretou uma de suas músicas mais famosas Ataypur. E não só nos EUA Yma Sumac foi sucesso. Na década de 1960, ela fez uma turnê que durou 6 meses pela extinta União Soviética.
Sua última apresentação foi em 1988. Yma faleceu em Los Angeles, em novembro de 2008, devido a um câncer de colo do útero.
Yma fez história no Peru, e no mundo, por sua incrível e inigualável voz e podemos dizer que, dificilmente, haverá outra voz como a de Yma Sumac, a única peruana a ter uma estrela da Calçada da Fama, em Hollywood.
María Elena Moyano
Ela tinha apenas 34 anos quando a mataram, dia 15 de fevereiro de 1992, covardemente, atando uma dinamite em seu corpo. Antes, já haviam disparado em seu peito e em sua cabeça. Maria Elena era jurada de morte pelo grupo terrorista peruano Sendero Luminoso, pois lutava contra o terrorismo, repudiando seus atos publicamente, sem se esconder.
María Elena nasceu em Barranco, tradicional bairro limeño e chegou ao bairro Villa el Salvador com um grupo de estudantes da Universidade Inca Garcilaso de la Vega, onde estudava Sociologia. Em 1986, assumiu cargos gerenciais no bairro, fundando grupos de mulheres e restaurantes populares. Também promoveu espaços de educação e saúde, como o programa Vaso de Leche (copo de leite), se destacando sempre como uma líder sincera e independente, e chegou a ser vice-prefeita do bairro (em Lima, os bairros são tão grandes que são denominados distritos e cada um tem um prefeito).
Maria Elena nunca teve medo dos terroristas e passou a liderar inúmeros protestos a favor da paz e contra o Sendero Luminoso, que tratava de se esconder nos bairros mais pobres da capital pra evitar seu progresso e conquistar mais seguidores, e sempre repetia:
“Não vamos acabar com nossa luta ante ao terror. Apostamos pela vida… que não venham ameaçar a nenhum dirigente do bairro, porque se encostam em um dirigente, o povo de Villa se levantará, porque não temos medo de ninguém. Estamos dispostos a entregar nossa vida!”.
Um dia antes de sua morte, o grupo terrorista havia convocado um protesto armado, e Maria Elena decidiu marchar contra o terror carregando bandeiras brancas.
Maria Elena foi uma das lideres da resistência pacífica contra o terrorismo mais importante do país. Sua morte foi um marco importante para a queda do Sendero Luminoso.
Em 2002, o Congresso da República a declarou como Heroína Nacional.
Aqui eu falo sobre o LUM – Lugar de la Memoria, importante museu que conta a história do terrorismo no Peru.
Micaela Bastidas
Micaela Bastidas Puyucawa foi, nada mais, nada menos, que a esposa de Tupac Amaru II, líder da revolução indígena mais importante contra os espanhóis no Peru, a Grande Rebelião.
Micaela nasceu na cidade de Tamburco (Abancay) em 1745. Com 15 anos se casou com o jovem cacique José Gabriel Condorcanqui, mais conhecido como Tupac Amaru II, um descendente direto da realeza inca: foi tataraneto de Juana Pilco-Huaco, filha do último soberano inca, Tupac Amaru I, que foi executado pelos espanhóis em 1572. Com ele, Micaela teve três filhos.
Micaela foi viver em Cusco, para acompanhar seu esposo, onde tinha uma “boa vida”, digamos. Mas nem a boa vida que levava fez com que Micaela deixasse de se indignar ao ver os abusos sofridos pelo povo indígena, explorado pelos espanhóis, a escravidão dos negros, e a alta nos impostos, e lutar contra isso.
Em 1780, ápice da rebelião independista, Micaela foi a principal conselheira de Tupac Amaru, fazendo parte do “consejo de los cinco” e o mantinha informado dos movimentos espanhóis, enquanto ele estava em campanha pelo país. Ela também foi a responsável pelo abastecimento de armas e alimentos para as tropas. Micaela escrevia inúmeras cartas ao cacique e muitos acreditam que, se ele tivesse tomado Cusco nos primeiros dias do levantamento espanhol, como exigia Micaela, seria quase impossível que os reis espanhóis a tivessem tomado de volta.
Quando a rebelião fracassou, os espanhóis conseguiram capturar Micaela, Tupac e Hipólito, um de seus três filhos. Depois de um julgamento, foram sentenciados à morte.
Em 18 de maio de 1781, na Plaza de Armas de Cusco, Micaela, altiva e sem medo algum, foi assassinada antes de seu esposo, diante de uma multidão, mas não sem antes a torturaram: primeiro, a fizeram assistir ao enforcamento de seu filho, depois cortaram sua língua, e a estrangularam, deram chutes na sua barriga e no seu peito. Depois de sua morte, do filho e do esposo, os corpos foram esquartejados e arrastados pela cidade.
Micaela foi o cérebro de Tupac Amaru II. A mulher que o guiou e o apoiou. Uma mulher inesquecível para os peruanos.
Yma Sumac, María Elena Moyano e Micaela Bastidas, três entre tantas outras mulheres fortes peruanas que serviram e servirão de inspiração pra muitas mulheres neste país.