Vale a pena morar no exterior?
Costumo escrever sobre o Peru e, principalmente, sobre Lima, a cidade em que moro. Mas hoje quis trazer um texto diferente de todos os outros que escrevi. Uma indagação que, uma hora ou outra, chega pra nós, expatriados.
Vale a pena morar no exterior?
Muita gente se pergunta, e me pergunta, se vale a pena viver no exterior: “Como você consegue ficar longe da família?”, “Você não sente falta da comida?”, são algumas das perguntas frequentes. Primeiramente, isso não foi algo que planejei, simplesmente aconteceu.
Leia também: Como deixar a vida que planejamos?
Muitas pessoas decidem morar no exterior por diversos motivos: fugir da crise política ou econômica do país de origem, por causa do trabalho, porque conheceu seu grande amor na internet, pra estudar etc.
O Peru já permeava minha mente desde criança. Cresci com meus pais falando sobre o país, sobre Machu Picchu, sobre os incas, os nazcas, os paracas e, acredito que no meu subconsciente, fui me familiarizando com o país, ao menos com a história dele.
Conheci meu esposo aqui durante um congresso de História da universidade dele, ambos somos historiadores, e nos relacionamos à distância, via ponte aérea, durante dois anos, quando decidimos nos casar e viemos morar no Peru. Coincidentemente, tive uma ótima oportunidade de trabalho e fiquei.
No começo era tudo maravilhoso (não que hoje não seja, continua sendo e tendo seu encanto): Lima é uma cidade cosmopolita que abriga gente do mundo inteiro, muitos museus e teatros pra visitar, mergulhar de cabeça na história e cultura peruana, experimentar uma gastronomia maravilhosa, enfim, começar uma nova vida.
Confesso que meu esposo é meu braço direito e me ajuda a me situar nessa cidade com um trânsito maluco e com mais de nove milhões de habitantes, mas às vezes me bate uma tristeza.
Sim! Nós, expatriadas, também ficamos tristes e pensamos muito no presente e no futuro e, depois de quatro anos e meio, a ficha vai caindo e minhas prioridades vêm mudando bastante.
Quando cheguei, pensei: pronto, agora eu posso viajar bastante, conhecer outros países, ser mais independente, na verdade eu sempre fui, e também desapegada. Eu achava que era desapegada das pessoas, até vir morar no exterior.
Quando você fica distante da família e vai morar em outro país com uma cultura bem diferente da sua, você tende a se fechar pras pessoas, você passa a ser mais individualista. Ao menos no meu caso.
Eu, que sempre fui “amigueira”, hoje posso contar nos dedos quem são meus amigos em Lima. Isso eu não acho ruim, afinal de contas você vai envelhecendo e ficando mais seletivo, né? Posso dizer que tenho poucos e bons amigos aqui. A parte ruim é que, por causa do meu trabalho (que é o mesmo da maioria dos meus poucos amigos), muitos desses amigos ficam entre 3 e 5 anos no Peru e logo vão viver em outros países. Não é fácil ficar se despedindo de gente bacana todo ano.
Leia também: Cheguei ao Peru, e agora?
Quanto aos amigos que ficaram no Brasil, esses também passaram por um filtro. As amizades reais seguem firmes, mesmo com a distância. Porém, tem coisas que sinto falta, como passar na casa de uma amiga depois do trabalho, fazer uma viagem de fim de semana pra visitar uma amiga de infância, tomar um sorvete ou fazer uma caminhada com um amigo de longa data.
Mas o que vem sendo mais difícil atualmente é a saudade que sinto da minha família. Sinto falta de sentar e assistir um filme com minha mãe, de tocar violão com meu irmão, de ficar vendo estrelas no telescópio com meu pai, de visitar minha “vóvis” e saber como ela tá, de passar o fim de semana na casa do meu padrinho escutando histórias da infância e adolescência dele com minha mãe e meu outro tio, e ser sempre tão bem recebida por eles.
Sinto falta da vida cotidiana e de coisas que só tem lá, de ir ao supermercado e comprar as bolachas (e biscoitos) que eu gosto, de ir na padaria comprar pão de queijo e mané pelado, tomar uma Guaraná Antárctica geladinho, ir nas festinhas de aniversário dos filhos das amigas, nos casamentos, nas formaturas, reunir a turma pra um churrasco que sempre termina em cantoria, ou jogar War.
Não vivenciar nascimentos, batizados, aniversários, casamentos, formaturas, idas ao médico e coisas importantes da nossa família, nos faz pensar: realmente vale a pena abrir mão de todos esses momentos?
Aí você começa a refletir: mas se eu estivesse vivendo no Brasil, na crise na qual o país se encontra hoje, será que estaria bem (financeiramente e profissionalmente, por exemplo) como estou aqui? Aqui eu me sinto segura, ao menos no meio em que convivo.
Como disse anteriormente, graças a Deus meu esposo é meu companheiro, meu parceiro de verdade que me ajuda, dia após dia, superar esses momentos de incerteza que, assim como surgem, se vão rapidamente.
O crescimento profissional, trabalhar num ambiente totalmente brasileiro, imersa na nossa cultura, no nosso idioma, e com gente do Brasil inteiro, também ajuda bastante a amenizar essa saudade da nossa terra.
Agora eu não abro mão (e faço questão) de visitar minha família todos os anos no Brasil e de recebê-los quantas vezes eles quiserem vir pra nossa casa. Voltar a morar no Brasil nunca saiu dos meus planos. Não sei quando, meu futuro a Deus pertence, mas não descarto essa possibilidade.
Saudades, família. Saudades, amigos. Saudades, comida.
Não se preocupem, pois me sinto realmente feliz, realizada e em segurança no Peru. O que sinto são só saudades de vocês, que posso suprir um pouquinho graças à tecnologia. No mais, os aviões estão aí pra isso, né? Aproximar-nos de quem amamos.
Aliás, sabia que saudade é uma palavra que existe só em português? Não existe tradução pra saudade. Talvez por isso seja tão difícil expressar esse sentimento pra quem não entende o que ele significa realmente.
Você também se identifica com essa situação? Deixe aqui seu comentário.
1 Comment
Passando por uma história parecida… Sou dentista, ortodontista, há um ano e meio, larguei tudo e vim morar na Espanha com meus dois filhos, hoje com 17 e 15. Aqui não sou dentista, conheço pouca gente, mas usufruo o que de bom o país pode me dar: segurança, educação, idiomas…
Como você disse, NÃO abro mão de ir, pelo menos uma vez ao ano, ao Brasil. É e sempre será meu país.
Não sei quanto tempo ficarei, meu filho entrará na universidade, depois tem o caçula… estou aproveitando esse tempo com eles, depois, volto a ser dentista!